Por que o Fla-Flu se tornou o jogo preferido de jornais cariocas há 80 anos
Fla-Flu é uma marca octogenária. Um termo imortalizado por Mário Filho, jornalista que dá nome ao estádio do Maracanã.
O clássico caiu no gosto da imprensa esportiva carioca na década de 1930. Na verdade, de parte dela. À época, os jornais impressos (não existia TV e o rádio dava seus primeiros passos) engatinhavam na cobertura esportiva, e o futebol disputava espaço com outras modalidades, principalmente o boxe e o turfe (corrida de cavalos).
Era um momento de cisão entre os grandes times do Rio. O motivo do racha envolve o processo de profissionalização do futebol, liderado por Flamengo e Fluminense. Do outro lado, Botafogo e Vasco permaneceram mais tempo na liga amadora.
O Jornal do Sports (JS) e O Globo abraçaram a causa do profissionalismo e, consequentemente, se apegaram ao Fla-Flu.
“No momento em que o profissionalismo se estabelece no futebol, a imprensa está inventando um padrão de cobertura. O grande jogo desse projeto de profissionalismo é o Fla-Flu, e por isso a predominância do clássico nos principais jornais que cobriam o futebol na época”, explica Renato Coutinho, professor de História do Brasil na Universidade Castelo Branco, no Rio de Janeiro.
Chefiado por Mário Filho, o JS era o periódico esportivo mais vendido no Brasil. O cronista apostou no futebol como a modalidade que seria a mais popular do país e que impulsionaria a venda de jornais. O Globo seguiu o mesmo caminho. Ambos os impressos criaram um vocabulário para favorecer a mística do clássico: enalteciam ídolos, traziam a cobertura dos jogos em página inteira, destacavam fotos.
"A marca Fla-Flu foi inventada antes de outros clássicos no Rio de Janeiro. Esses periódicos, vencedores no projeto de profissionalização do esporte, eram dominados por pessoas ligadas a Flamengo e Fluminense. O Mário Filho foi alçado à condição de porta-voz pelas condições financeiras e material dos dirigentes desses dois clubes. O Jornal dos Sports seguiu historicamente identificado com as direções desses clubes", pondera Coutinho.
O racha entre os 4 grandes
Em 1933, foi criada a Liga Carioca de Futebol, entidade profissional que tinha como objetivo organizar um novo campeonato. Flamengo, Fluminense, Vasco, Bangu, América e Bonsucesso aderiram, enquanto Botafogo, São Cristovão, Olaria e mais nove clubes menores seguiram filiados à entidade amadora reconhecida pela Confederação Brasileira de Desporto (CBD).
Em 1934, o Vasco deixou a liga profissional e retornou para a amadora. Em 1935 e 36, os quatro grandes ficaram divididos em dois torneios: Flamengo e Fluminense jogavam a liga profissional, e Botafogo e Vasco, a competição amadora.
O campeonato passa pela pacificação em 1937, e tem a liga unificada.
“Vasco e Botafogo - especialmente o Botafogo, porque foi o clube mais associado com a tradição amadora no futebol carioca - perderam esse momento da imprensa esportiva. Claro que, depois, esses dois times também teriam relevância, mas nenhum outro clássico vai se sobrepor ao Fla-Flu enquanto o padrão jornalístico for o rodriguiano e o de Mario Filho, gestado naquele momento”, afirma Coutinho, autor do livro “Um Flamengo grande, um Brasil maior: o Clube de Regatas do Flamengo e a construção do imaginário político nacionalista popular”.
Ao usar o termo rodriguiano, o professor de História se refere a Nelson Rodrigues, irmão de Mário Filho, tricolor roxo e um dos maiores cronistas sobre futebol do país.
Duelo entre torcidas no Fla x Flu
Mário Filho apostava em um jornalismo com uma linguagem mais próximo do torcedor. Passou, inclusive, a promover duelos de torcidas nos jogos entre o time da Gávea e o time das Laranjeiras. O objetivo era incentivar os torcedores a irem aos estádios para fazer a festa.
Em janeiro de 1937, o Jornal dos Sports destacava a notícia de que o Flamengo havia vencido a competições de torcidas. Uma comissão julgadora do JS considerou os rubro-negros mais entusiasmados, com cartazes, cantando e acenando as bandeiras.
Em campo, o Flu levou a melhor e conquistou o título da liga profissional de 1936. Foi a primeira vez que um Fla-Flu definiu o estadual na era do profissionalismo. Na melhor de três confrontos, o tricolor precisava de um empate no último jogo. Leônidas abriu o placar para os rubro-negros, e Hércules empatou.
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