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O "projeto Tóquio" da Democracia Corintiana. Casagrande diz por que falhou

A SATISFAÇÃO DO 1° TÍTULO E A PRESSÃO DE QUEM DEFENDIA A DITADURA

UOL Esporte

Por Carlos Padeiro e Giuliano Zanelato

13/12/2017 07h48

“Foi um prazer jogar naquele time. A gente representava a democracia, em plena ditadura militar”.

A frase é de Walter Casagrande Junior, um dos principais nomes da Democracia Corintiana, movimento que marcou época no futebol brasileiro, no início da década de 1980, quando os atletas participavam da gestão, com votações para definir temas referentes ao dia a dia da equipe.

Casagrande e Sócrates se abraçam depois do título paulista do Corinthians contra o São Paulo - Jorge Araújo/Folhapress - Jorge Araújo/Folhapress
Casagrande e Sócrates foram bicampeões do Campeonato Paulista, em 1982 e 83
Imagem: Jorge Araújo/Folhapress
Aquele Corinthians, liderado em campo por Sócrates, Casagrande e Wladimir, faturou dois títulos paulistas, o primeiro deles há 35 anos, no dia 12 de dezembro de 1982. O bicampeonato veio em 83.

Embora o Estadual fosse mais valorizado na época do que é hoje em dia, faltou conquistar um título mais importante. Os corintianos tinham essa ambição e criaram um “projeto Tóquio”. Planejavam jogar a Libertadores, vencê-la e ir para o Japão disputar o Mundial de Clubes.

“Fizemos o projeto Tóquio. Fomos em uma excursão ao Japão, para o pessoal de lá conhecer o Corinthians. Na nossa cabeça, o projeto era ganhar o Campeonato Brasileiro, a Libertadores e ir para Tóquio jogar o Mundial”, comenta Casagrande.

Mas por que não deu certo? O ex-centroavante é direto na resposta. “Não ganhamos muita coisa, porque tinha outros times melhores que o nosso, ou mais consistentes. O time do Flamengo era maravilhoso, o do Grêmio era fantástico”. 

Em 82, o Corinthians chegou até a semifinal do Brasileiro, quando perdeu para o Grêmio. Na final, o Flamengo venceu a equipe gaúcha e ergueu o troféu. Em 84, mais uma semifinal do nacional, mas o time alvinegro caiu diante do Fluminense. Depois disso, Casão foi emprestado ao São Paulo, e Sócrates, vendido à Fiorentina, da Itália.

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Votação para Casagrande namorar

Em janeiro de 1984, o Corinthians interrompeu as férias dos jogadores para excursionar pelo Japão. Seriam três amistosos contra a seleção japonesa, além de passagens por Hong Kong, Indonésia e Tailândia, em uma viagem que duraria cerca de 20 dias.

Um fato curioso ocorreu durante a excursão: uma votação entre os jogadores para deliberar se Casagrande poderia retornar ao Brasil, porque estava apaixonado. O camisa 9 curtia o início de namoro com Mônica, que jogava vôlei no Corinthians e se tornaria sua esposa em 85.

No livro Casagrande & Sócrates – Uma história de amor, escrito pelo ex-jogador em parceria com o jornalista Gilvan Ribeiro, Casão revela que “entrou em estado de graça e não pensava em mais nada a não ser na namorada”.

Por causa de Mônica, o jovem atleta considerou não viajar com a equipe. Arquitetou uma estratégia para se atrasar e perder o voo, porém a diretoria do clube enviou uma perua à sua casa, com o zagueiro Juninho na incumbência de levá-lo ao aeroporto.

Casão tomou o avião, emocionalmente destruído. Não desistia da ideia de retornar no primeiro voo com destino ao Brasil, e sua tristeza era tão presente que Sócrates resolveu convocar uma assembleia para a equipe votar a proposta de liberar o enamorado Casão daquela excursão, a fim de que pudesse voltar aos braços da amada. A Democracia Corinthiana experimentou a curiosa experiência de discutir uma questão amorosa. Sócrates e Casão perderam a votação, e o centroavante teve de continuar na Ásia” – trecho do livro Casagrande & Sócrates – Uma história de amor.

VEJA OS GOLS DE BIRO-BIRO E CASAGRANDE CONTRA O SÃO PAULO, EM 1982

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35 anos do título paulista

A Democracia Corintiana conquistou o seu primeiro título paulista no Morumbi. O time alvinegro jogava por um empate contra o São Paulo e bateu o rival por 3 a 1, com dois gols de Biro-Biro e um de Casagrande.

“O nosso time jogava muito bem. Em 82, principalmente, foi um escândalo, era um prazer jogar”, afirma Casão.

O camisa 9 diz ter vivido em 1982 o seu maior momento no esporte. Revelado na base do Corinthians, teve a primeira oportunidade como titular, depois de uma temporada emprestado à Caldense, time de Minas Gerais. E correspondeu, apesar de ter apenas 19 anos. Marcou gols no Campeonato Brasileiro e foi a revelação e o artilheiro do Paulistão, com 28 gols.

“Foi um momento de muita felicidade e muito prazer. Era o meu primeiro ano como profissional no Corinthians e fui artilheiro. Fomos campeões paulista e era a Democracia Corintiana. O terceiro gol que fiz contra o São Paulo, após jogada do Ataliba, é a imagem que mais tenho na cabeça”.

Logo após a vitória sobre o rival, Casagrande dedicou o gol à cantora Rita Lee, que dias antes havia realizado um show no ginásio do Ibirapuera e convidara Sócrates, Casagrande e Wladimir para dançar no palco.

O Brasil vivia um período de transição do regime militar para a democracia. Presentes em movimentos populares, como o “Diretas Já”, os jogadores tinham posicionamento politizado, principalmente Sócrates, Casagrande e Wladimir, ao lado de artistas como Rita Lee.

Emerson Leão, que defendeu o Corinthians em 1983, questiona a Democracia Corinthiana. "Eu achava que não era uma democracia. Eram líderes que queriam uma democracia política. Eram minoria, uns quatro ou cinco, pessoas inteligentes que às vezes se excediam, e eu não gostava disso. Todos os outros tinham medo de dialogar com esses quatro", disse o ex-goleiro, em entrevista ao UOL Esporte.

ESPORTE(ponto final)

A entrevista com Walter Casagrande Júnior foi realizada pelo ESPORTE(ponto final), um canal produzido a partir de depoimentos de ídolos sobre os grandes momentos do esporte.

A cada semana, novos episódios serão lançados na página especial do ESPORTE(ponto final). E você também pode acompanhar nas mídias sociais: youtube.com/esportepontofinal e facebook.com/esportepontofinal.

VEJA A ENTREVISTA COMPLETA DE CASAGRANDE

Casagrande, em entrevista ao ESPORTE(ponto final) - ESPORTE(ponto final) - ESPORTE(ponto final)
Em entrevista ao ESPORTE(ponto final), Casagrande fala sobre Democracia Corinthiana e amizade com Sócrates
Imagem: ESPORTE(ponto final)

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