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Esporte Ponto Final

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A globalização detonou a Copa de antigamente. E isso é ótimo!

Murad Sezer/Reuters
Imagem: Murad Sezer/Reuters

por Giuliano Zanelato

20/06/2018 04h00

Quem acompanha Copas do Mundo há décadas sabe que as primeiras rodadas não dizem muito. Seleções que começam mal podem crescer durante a competição, chegar às fases finais e até mesmo ganhar a Copa, como a famosa Itália de 1982 ou a cultuada Espanha na Copa de 2010.

O principal fator desta primeira rodada em 2018 não é algo surpreendente, mas, sim, um elemento que vem amadurecendo ao longo dos últimos 20 anos. O protagonismo dominante das seleções tradicionais acabou, e isso vai tornar a Copa cada vez mais emocionante.

Não estamos falando de zebras isoladas, que sempre acontecem em qualquer competição, mas de um novo padrão.

É normal ver os analistas profissionais e mais antigos de Copa do Mundo dizerem que “outros times” podem fazer barulho, mas no final das contas tudo vai afunilar e se resumir a Brasil, Alemanha, Argentina ou Itália, sendo que essa última nem pra Rússia foi.

É claro que essas seleções estarão entre as protagonistas por um longo tempo no cenário mundial, porque a base de formação de atletas no futebol desses países é natural e/ou bem estruturada como negócio.

Agora, a invasão de jogadores estrangeiros de todo e qualquer país nos principais campeonatos do mundo, o intercâmbio de informações para comissões técnicas, o acesso hiper fácil às imagens de jogos e treinamentos, tudo isso faz com que a inevitável globalização gere uma equação cada vez mais perigosa para as grandes potências tradicionais nos esportes - especialmente no futebol, por sua popularidade.

Um ensaio mais profissional desse fenômeno aconteceu na década de 80, quando os principais campeonatos europeus levavam constantemente os principais jogadores para lá atuar. Na época, o campeonato italiano tinha enorme expressividade e contava com grandes estrelas. A diferença é que a troca de informações global, por motivos óbvios, não era tão fácil. Além disso, as principais estrelas contratadas pelo capital europeu que jorrava não eram provenientes de todo e qualquer país, mas, sim, de países que já possuíam tradição no futebol, como Brasil e Argentina, ou mesmo sem títulos de Copa do Mundo, como os holandeses Van Basten, Gullit e Rijkaard ou o dinamarquês Laudrup.

O que acontece hoje em dia é que esse fenômeno se ampliou. Não apenas países com tradição no futebol têm atletas jogando nas ligas bilionárias, quer seja em posições de destaques, quer seja como coadjuvantes. Fora isso, os padrões de treinamento e as informações disponíveis para comissões técnicas tornam-se mais e mais acessíveis e universais. Tudo é uma questão de interesse e investimento.

Nos últimos 20 anos, os primeiros a se beneficiarem foram os antigos eternos coadjuvantes de Copas - França e Espanha. Merece no mínimo atenção que, nas últimas cinco Copas, tenhamos dois campeões inéditos.

Não é só no futebol

Esse fenômeno não é exclusivo do futebol. Basta ver os resultados no basquete mundial nos últimos 20 anos. Não por coincidência, houve uma grande onda de estrangeiros bem sucedidos na NBA nas décadas de 80 e 90.

Hoje em dia, visando os negócios globalizados, a mais famosa liga de basquete vê com bons olhos a entrada de estrangeiros. Isso faz com que os países se desenvolvam e ameacem de forma mais sistemática e constante a seleção americana nas principais competições mundiais. Os EUA ainda dominam, claro, mas cada vez mais países possuem bons jogadores no padrão NBA, capazes de formar seleções de qualidade.

Nesta Copa do Mundo, a competente Islândia já surpreendeu los hermanos da Argentina, o empolgante México derrubou a poderosa Alemanha e a burocrática Suíça deu uma esfriada no Brasil.

Uma zebra é um resultado inesperado, por sorte, quase inexplicável.

Esses resultados no início do Mundial de 2018, no entanto, foram construídos por fatores muito além de sorte e acaso. São méritos de seleções que se desenvolveram e evoluíram seu futebol e seus resultados nos últimos anos.

Não sei se veremos um campeão inédito este ano na Rússia. É difícil!

Assim como no basquete, tirar uma medalha de ouro dos EUA é possível, mas não é provável. No futebol, pintar um campeão inédito numa Copa do Mundo ainda é improvável, mas será, cada vez, mais possível.

Talvez o motivo mais antigo para conquistas no esporte contribua para tudo isso. Estamos falando do talento.

O jogador mais incrível desta Copa é Cristiano Ronaldo e, diferentemente do último Mundial, ele chegou em sua melhor forma. Tudo bem, há quem prefira Messi. Há quem ache que Lebron James é melhor que Michael Jordan ou Kobe Bryant. Cada um com sua opinião.

Mas Portugal tem um time equilibrado, que foi campeão da Euro há 2 anos. Se os gajos engrenarem e passarem bem pela fase de grupos, eliminar o melhor jogador do mundo com um time ajustado no mata-mata não vai ser fácil, não.

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