Embalada, Tota Magalhães quer fazer sucesso em Paris

Após não ter representantes no ciclismo estrada na última edição de Jogos Olímpicos, o Brasil voltará a ser representado na modalidade em Paris-2024, com um atleta em cada naipe. No feminino, quem irá levar as cores da bandeira brasileira na prova de resistência será Ana Vitória Magalhães, a Tota. A carioca de 23 anos vai para os seus primeiros Jogos Olímpicos em um bom momento, após se destacar no Giro D'Itália na última semana e conversou com o Olimpíada Todo Dia.

Tota Magalhães ganhou o seu apelido quando criança, através de uma tia. A atleta não sabe exatamente a origem, mas sabe que o nome pegou. Mas para quem tem começado a fazer sucesso no exterior, o apelido é fácil de pegar entre os estrangeiros. "Eu adoro, sinceramente. E para os gringos é até mais fácil que o Ana Vitória. Agora, a atleta está na reta final de preparação para a Olimpíada em Paris: "estou animada e acho que estou na minha melhor forma da vida. Falta só lapidar algumas coisas no meu treinamento para chegar lá e entregar o meu melhor. E se isso for o suficiente para uma medalha, quem sabe."

Se destacando nacional e internacionalmente nos últimos anos, Tota Magalhães atua no circuito internacional pela BePink, equipe italiana do Continental Tour da União Ciclistica Internacional. Ela também conta com apoio do Mirabaud Group, grupo financeiro suíço que investe no esporte de alto rendimento. "No lado pessoal, esse apoio é importante porque me dá mais ferramentas para poder trabalhar e ser uma futura campeão olímpica ou mundial. Fora que é uma empresa da Suíça, o que mostra que eles enxergam um potencial no esporte no Brasil", afirmou a atleta.

Treino com a família e empurrão especial

Quando criança, Tota Magalhães gostava de esporte e praticou vários: futebol, capoeira, skate, surfe, natação, tênis etc. E isso ajudou no desenvolvimento da sua coordenação motora para se tornar uma atleta de alto nível. Toda a família da atleta gosta de pedalar e, anualmente no Natal, costumam fazer um passeio especial, subindo de bicicleta o morro do Corcovado no Rio de Janeiro. "Sempre fui muito competitiva e quando eu falei pra minha mãe que queria participar com minha família do Pedal de Natal que eles sempre fazem até o Cristo Redentor, ela falou que eu ia ter que treinar para aguentar o ritmo. Ai na hora comecei a treinar, pegar o gosto pelo esporte e entender toda vez que eu podia subir uma montanha, fazer um tempo melhor do que tinha feito antes", contou a atleta.

Tota quase foi jogadora de futebol, mas teve que fazer uma pausa para se dedicar aos estudos. Mas após conhecer melhor como funcionava o ciclismo profissional, ela viu que era a carreira que ela queria. Porém, ainda faltava um "empurrão" para fazê-la ir com tudo para a modalidade. E ele veio logo com um dos maiores nomes do esporte brasileiro: Bernardo Rezende, técnico da seleção masculina de vôlei.

Amigo da família de Tota Magalhães, o técnico incentivou a atleta a seguir no ciclismo. "Um dia o Bernardinho me perguntou o que eu queria fazer no meu futuro. Aí eu aproveitei a oportunidade e disse que queria ser ciclista profissional, mas não sabia se tinha capacidade fisiologicamente para ser uma das melhores". Bernardinho incentivou a ideia de Tota para que ela fizesse alguns testes e descobrir que ela poderia sim competir na elite mundial, mas que dependeria de bastante trabalho.

A rainha da montanha?

A jornada de Tota Magalhães no ciclismo estrada começou no Brasil, ganhando algumas provas amadoras e profissionais. Mas ela sabia que para se tornar uma atleta de ponta, teria que ir para uma equipe na Europa: "Isso foi uma das partes mais difíceis desses últimos anos porque foi muito difícil encontrar uma porta aberta aqui na Europa. [...] Enfim, numa dessas eu conheci o Antônio Silvestre, que é um cara muito importante na minha carreira. Ele apresentou uma pessoa, um espanhol, que foi quem me colocou em contato com minha primeira equipe por aqui", explicou.

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Sua primeira prova na Europa foi logo na versão feminina da famosa Volta da Espanha, uma das três principais provas de ciclismo do mundo, ao lado do Tour de France e do Giro D'Itália. E foi na grande volta italiana onde Tota Magalhães conseguiu seus melhores resultados recentes. Correndo pela equipe BePink, a brasileira se destacou no segundo estágio da competição, terminando o dia com a camisa azul, dada à lider da classificação das escaladoras, a "Rainha da Montanha".

"Montanha em geral não é uma característica minha. Não sou uma escaladora e normalmente quem ganha a camisa de montanha são as escaladoras. Só que as primeiras etapas eram subidas mais curtas então que eu conseguia andar bem", disse Tota. Ao final, ela terminou o Giro D'Italia na 73ª posição no geral, mas no nono lugar na classificação das montanhistas.

Partiu Paris

Nos Jogos Olímpicos, Tota Magalhães irá disputar a prova de resistência do ciclismo estrada. No feminino serão 158km com início e final no Trocadero em Paris, passando por cinco trechos de escalada, com a final em um trecho plano. E diferente das principais competições internacionais, focada nas equipes, a disputa olímpica é mais individual. "É uma corrida que você não tem rádio de comunicação então você corre um pouco mais a cegas digamos assim não recebe informação do diretor da sua equipe. Então é interessante por exemplo os países que tem mais atletas, nem sempre eles correm como time, podendo se atrapalhar na comunicação entre eles, então como eu estou sozinha isso me ajuda um pouco", explicou a brasileira.

Para Paris, Tota não tem um objetivo claro. Ela apenas quer entregar o seu melhor e aprender para suas futuras participações. "Primeiro, obviamente, é entregar a corrida que eu sei que posso entregar em termos de performance. Porque acaba que tem muitas coisas no ciclismo que não depende apenas de você. E também acho que aprender. Porque sei que minha evolução e meu caminho até as Olimpíadas foi meio rápido. Mas entregar o melhor que eu puder e aprender ao máximo com essa experiência para chegar mirando o ouro em Los Angeles", afirmou.

Legado

Com sua participação em Paris-2024, assim como nas grandes provas do circuito internacional, Tota Magalhães espera inspirar e incentivar uma nova geração de atletas do ciclismo brasileiro. "Eu espero inspirar uma nova geração e sonhar grande com eles . O Brasil é gigantesco e ele poderia ser o país de todos os esportes. Não só no futebol, na ginástica, no surfe etc, mas também de tantos outros esportes".

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Para isso, a atleta pensa no futuro em trabalhar com algum projeto para incentivar o interesse pelas crianças no ciclismo. "Porque o que vejo em alguns outros países menores como Bélgica e Holanda, a garotada tá pedalando na escola de brincadeira sabe. Acho que isso é o que falta um pouco para impulsionar o ciclismo no Brasil. A molecada na escola ao invés de jogar futebol também pegar uma bicicleta e ficar rodando ali no pátio", explicou.

E através desse tipo de iniciativa, Tota Magalhães espera que o Brasil conte cada vez mais com mais atletas no ciclismo nas próximas Olimpíadas. "E que em Los Angeles a gente possa ter o maior número possível de atletas no ciclismo. Se o máximo permitido for quatro, que a gente tenha quatro atletas. Mostrar para a garotada que pode trabalhar e conseguir chegar nos Jogos Olímpicos", finalizou

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