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Oposição pressiona e Silva tenta impor agenda positiva

Da Reuters

Em Brasília (DF)

25/10/2011 20h26

A audiência pública com a presença do ministro do Esporte, Orlando Silva, era sobre a Lei Geral da Copa do Mundo, mas a oposição na Câmara dos Deputados aproveitou a oportunidade para questionar o chefe da pasta, alvo de denúncias de irregularidades.

O primeiro a se manifestar foi o líder do DEM, deputado ACM Neto (BA), que afirmou não aceitar o clima de "normalidade" que o ministro tentava impor ao visitar deputados para expor o conjunto de regras para a realização da Copa do Mundo em 2014.

"O Brasil não quer Vossa Excelência falando sobre a Lei Geral da Copa. O Brasil quer Vossa Excelência distante do Ministério do Esporte", disse o deputado durante a sessão, se dirigindo ao ministro.

ACM Neto lembrou que a ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, aceitou pedido do Ministério Público para investigar denúncias de um suposto esquema de desvio de recursos na pasta, que seria coordenado por Silva.

Para o deputado, o ministro não reúne condições para se manter no cargo, pois passou à condição de "investigado".

O deputado Duarte Nogueira (SP), líder do PSDB na Casa, por sua vez, questionou o ministro sobre a denúncia publicada nesta terça-feira no jornal Folha de S.Paulo, segundo a qual Silva teria assinado documento que diminui a exigência de contrapartida de organização não-governamental dirigida pelo policial João Dias Ferreira, o mesmo que denunciou o suposto esquema.

O policial deve prestar esclarecimentos em audiência pública na Câmara, na quarta-feira.

"Ele (Silva) não deveria estar sentado nesta cadeira, neste instante, como ministro do Esporte", disse o tucano.

O clima ficou mais tenso quando o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), deixou a sessão após ter seu pedido para falar negado pelo presidente da comissão, deputado Renan Filho (PMDB-AL). Bueno se referiu à audiência como "palhaçada".

O ministro preferiu não tecer comentários sobre as denúncias e a crise instalada e discorreu apenas sobre a Lei Geral da Copa, por "respeito" à comissão.

"Em respeito à comissão especial é que eu optei por não me manifestar sobre nenhuma das provocações, nenhum dos ataques que eu sofri na sessão desta tarde", disse a jornalistas após a sessão.

"O Brasil, ele deve seguir caminhando. Não importa se aqui ou acolá há luta política, não importa se aqui ou acolá aparece uma crise ou outra, se a crise é real ou artificial. O fato é que o Brasil não pode parar", declarou o chefe da pasta que é um dos responsáveis pela preparação da Copa do Mundo em 2014.

O ministro demonstrou desagrado ao comentar genericamente sobre os parlamentares da oposição que o pressionaram no início da sessão. Silva afirmou que "dói" assistir os ataques ao seu partido, o PCdoB.

"Dói muito ver determinados personagens num dia como hoje, que têm a linhagem vinculada à face mais sombria da história do Brasil, aparecer como vestal e atacar uma organização que tem 90 anos de luta a favor do Brasil", afirmou.

Orlando Silva é alvo de uma série de denúncias de que teria participado --e até coordenado-- um suposto esquema de desvio de dinheiro do ministério. Parcela de recursos destinados a organizações não-governamentais (ONGs), por meio do programa ministerial Segundo Tempo, teriam sido desviados para abastecer os cofres do PCdoB, partido de Silva.

Na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff decidiu manter o ministro no cargo, após reunião com ele. Fonte do Planalto disse à Reuters que Dilma deve aguardar e avaliar as repercussões do caso, para então tomar uma decisão definitiva.

Questionado sobre sua situação como ministro, Silva respondeu que a decisão de nomear ou exonerar ministros é da presidente da República.

Desde o início do governo Dilma, quatro ministros já deixaram os cargos após denúncias de supostas irregularidades: Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo).

(Reportagem de Maria Carolina Marcello)