Com incentivo de Comaneci, Ponor volta em ótima forma às competições para preencher 'vício'
Depois de lutar com sintomas de abstinência durante os últimos oito anos, a ginasta tricampeã olímpica Catalina Ponor vai reabastecer seu vício na Olimpíada de Londres.
"Catalina se deu conta de que não vive sem a ginástica. Em um certo momento ela me disse 'é como uma droga sem a qual não vivo'", disse Nadia Comaneci, lenda romena da ginástica, em entrevista à Reuters por telefone de Oklahoma, nos EUA.
"Se alguns anos atrás você tivesse dito a alguém que Catalina estaria voltando depois de oito anos sem competir, diria que não é possível. Na ginástica, mesmo um mês ou um ano é um tempo longo", acrescentou Comaneci, que tem sido um ombro amigo na retomada de Ponor.
Desde que Comaneci hipnotizou o mundo aos 14 anos flutuando por cima e por baixo das barras assimétricas e obtendo a primeira nota 10 da modalidade na Olimpíada de Montreal em 1976, o esporte foi dominado por clones esqueléticas de Nadia.
Ponor, ex-rival da brasileira Daiane dos Santos e agora com 24 anos, nunca se encaixou no molde convencional da ginástica.
Enquanto muitas aspirantes olímpicas sujeitam seus corpos a um regime de treinamento implacável a partir dos quatro ou cinco anos, Ponor nem sequer foi apontada como futura campeã até os 15 anos.
Em 2002 ela foi selecionada em Constanta, e não em Deva ou Onesti --os principais celeiros das ginastas romenas-- pelos treinadores da seleção Octavian Belu e Mariana Bitang.
Fruto tardio em um esporte no qual as meninas costumam se aposentar quando chegam ao fim da adolescência, Ponor sabia ter uma curta janela de oportunidade para deixar sua marca no palco mundial.
Ela mal recebeu um segundo olhar de suas rivais internacionais quando arrebatou três pratas --equipe, solo e trave-- no campeonato mundial de Anaheim em 2003, já que não tinha competido contra elas nas várias ligas juvenis por que passou.
Mas ginastas do calibre da rainha russa Svetlana Khorkina e da favorita norte-americana Carly Patterson não puderam ignorar Ponor quando ela obteve o ouro com suas piruetas na trave, atingiu a glória com sua desenvoltura no solo e levou a equipe feminina da Romênia ao topo do pódio na Olimpíada de Atenas de 2004.
DESEJO ARDENTE
Ela pode ter sido considerada uma "forasteira" por suas concorrentes, mas Ponor se tornou a primeira ginasta desde 1988 --e ainda a última-- a desfilar pela vila olímpica com três reluzentes medalhas de ouro ao redor do pescoço.
Mas tudo acabou em um estalo. Aos 18 anos, Ponor decidiu que já bastava, e no campeonato mundial de 2005 estava mais interessada em dançar noite afora nos clubes da moda de Melbourne do que acordar com a batuta do então técnico romeno Nicolae Forminte.
Ponor trocou o uniforme colante pelo biquíni à medida que sua vida se tornou alvo dos tabloides de fofoca e suas fotos na praia viraram uma constante na imprensa romena.
Mas a mulher que achava que os três ouros em Atenas e cinco títulos europeus que conquistou entre 2004 e 2006 seriam seu legado no esporte começou a ficar irrequieta após passar algum tempo com Comaneci nos Estados Unidos em 2010, quando flertou com a profissão de treinadora.
O desejo ardente de sucesso pulsava forte novamente. Mas seria ela capaz de competir com a atual elite de adolescentes capazes de contorcer o corpo de uma maneira que ela já não podia?
Comaneci disse que Ponor tem uma grande vantagem.
"Ela tem sorte de não ter ficado muito, muito alta. Manteve a forma mignon e não sofreu grandes lesões, e isso a ajudou a voltar", disse Comaneci.
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