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Blatter reafirma inocência e ataca comitê de ética: "Lembra a Inquisição"

DENIS BALIBOUSE
Imagem: DENIS BALIBOUSE

15/12/2015 11h11

ZURIQUE (Reuters) - O presidente suspenso da Fifa, Joseph Blatter, voltou a declarar sua inocência no escândalo de corrupção que abala a entidade responsável pelo futebol mundial, enquanto se prepara para testemunhar perante o comitê de ética da entidade nesta semana.

"Continuarei a lutar por meus direitos – e no fim desta semana, vou apresentar meu caso (...) com grande convicção e forte senso de justiça", disse o suíço em comunicado divulgado antes da audiência de quinta-feira. "Embora eu esteja suspenso, não estou isolado e certamente não serei silenciado".

Em seu comunicado, o dirigente criticou o julgamento público do qual é alvo. "Estes procedimentos me lembram a Inquisição", declarou também.

Em novembro, os investigadores de ética da Fifa pediram sanções contra Blatter e Michel Platini, presidente da Uefa, e ambos foram afastados de seus cargos por 90 dias contados a partir de 8 de outubro à espera da conclusão do inquérito.

O comitê de ética da Fifa deve se pronunciar sobre o caso na próxima semana.

Promotores dos Estados Unidos indiciaram 42 pessoas e entidades na investigação sobre a corrupção no futebol, incluindo os ex-presidentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) José Maria Marin e Ricardo Teixeira e o atual presidente licenciado da entidade, Marco Polo Del Nero.

Dirigentes de todas as Américas estão entre os réus no caso, que os promotores dizem envolver 200 milhões de dólares em propinas e subornos ligados a direitos de marketing e de transmissão de eventos de futebol.

Blatter também é alvo de uma investigação criminal na Suíça, sua terra natal e sede da Fifa. Em junho, poucos dias depois de ser reeleito para um quinto mandato, a avalanche de acusações o levou a anunciar que renunciaria, mas ele não foi acusado de nenhum crime.

Confira o comunicado divulgado por Joseph Blatter:

Aos membros da Fifa

Zurique, 14 de dezembro de 2015

Caros amigos,

O último destaque de um ano turbulento para o futebol começou no Japão, na quinta-feira, 10 de dezembro, com o Mundial de Clubes. Embora a Fifa atravesse uma de suas mais sérias crises, estou feliz de notar que as operações diárias sequem tranquilas. Todas as competições da Fifa se desenrolaram sem problemas (e estão indo bem); todo os programas de desenvolvimento correm conforme planejado. Agradeço a toda a equipe da Fifa em Zurique e a todas as associações.

A calma é necessária para restaurar nossa federação – algo que desejo pessoalmente para mim também. Estou perplexo com as insinuações e as alegações trazidas a mim pela câmara de investigação do Comitê de Ética. Sou empregado da Fifa há 40 anos, e sou presidente desde 1998. Durante este período, sempre cumpri minhas tarefas da maneira com o melhor de meu conhecimento e minhas crenças, e enfrentei todos os momentos com respeito, honestidade e fair play. Estes são valores passados para mim por meus pai e com os quais eu convivi, como profissional e como pessoa:

- Nunca aceite dinheiro que você não conquistou
- Sempre pague suas dívidas

Em meu caso atual, a câmara adjunta do Comitê de Ética deve julgar a legalidade de uma conta de 2 milhões de francos suíços – referente a um acordo de 1998 entre a Fifa e Michel Platini – e cujo pagamento (do total restante) foi requisitado apenas em 2010/2011. Posso assegurar o seguinte: foi legal, porque foi baseado em um acordo verbal. E acordos devem ser cumpridos. O pagamento passou por processo administrativo completo, e a correção foi confirmada por todos os órgãos competentes da Fifa – inclusive o Congresso.

No entanto, a maneira como a câmara de investigação do Comitê de Ética tem comunicado os procedimentos, demandando pena máxima e reforçando um pré-julgamento público, alcançou uma dimensão tendenciosa e perigosa. Estes procedimentos me lembram a Inquisição.

Continuarei a lutar por meus direitos – e no fim desta semana, vou apresentar meu caso junto à câmara adjunta com grande convicção e forte senso de justiça.

Embora eu esteja suspenso, não estou isolado e certamente não serei silenciado. Gostaria de agradecer a todos pelos gestos de solidariedade a meu respeito. Esperemos que 2016 seja um ano melhor para a Fifa.

Com o coração grato e os melhores votos,

Joseph Blatter