Furor com beijo no futebol espanhol cresce enquanto promotoria investiga chefe de federação
Por David Latona e Emma Pinedo
MADRI (Reuters) - O procurador da Suprema Corte espanhola abriu nesta segunda-feira uma investigação preliminar para apurar se o presidente da federação nacional de futebol, Luis Rubiales, cometeu agressão sexual contra a jogadora Jenni Hermoso, quando roubou um beijo dela após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina.
Um porta-voz do gabinete do promotor disse que a corte recebeu muitas reclamações, mas afirmou que uma investigação oficial só será aberta se a atleta pedir. Ela afirmou que o beijo não foi consentido.
A decisão aumenta a pressão sobre Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, que foi suspenso pela Fifa no sábado em meio à polêmica relativa ao incidente, que ocorreu na cerimônia de premiação pelo título, em Sydney, no dia 20 de agosto.
Rubiales, que tem 46 anos, recusou-se a renunciar e disse que o beijo, transmitido pela televisão para todo o mundo, foi consensual. Hermoso, suas colegas de equipe e o governo espanhol afirmam que o ato foi indesejado e humilhante.
A situação se tornou um debate nacional sobre o direito das mulheres, os comportamentos machistas e os abusos sexuais. A Corte Esportiva Administrativa vai decidir se abrirá um inquérito contra Rubiales após encontro nesta segunda-feira.
A ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, disse que as respostas do dirigente e o apoio que recebeu de alguns membros da federação mostram que o comportamento machista é sistêmico na sociedade espanhola.
“Aquilo que aconteceu com a jogadora Jenni Hermoso nunca deveria ter ocorrido”, afirmou a ministra em discurso gravado, antes de encontro com o sindicato das atletas.
À noite, centenas de pessoas se juntaram no centro de Madri em protestos convocados por grupos feministas, para defender a posição de Hermoso e criticar Rubiales. Os presentes pediam a renúncia dele com o slogan “Não foi um beijo, foi uma agressão”.
Em reação às críticas a Rubiales, a mãe do dirigente se trancou dentro de uma igreja e iniciou uma greve de fome. Ela disse à agência EFE que o protesto “vai durar até que uma solução seja encontrada para o tratamento desumano e a caçada sangrenta que estão fazendo contra o meu filho, com algo que ele não merece”.
Todas as 23 jogadoras campeãs do mundo, além de outros membros da comissão técnica, afirmaram na sexta-feira que não jogarão partidas pela seleção enquanto o cartola permanecer à frente da federação. O próximo jogo previsto no calendário é contra a Suécia, pela Liga das Nações, em 22 de setembro.
Após reunião da federação na sexta-feira, Rubiales afirmou que não renunciaria, dizendo que seu beijo foi “espontâneo, mútuo, eufórico e consentido”.
Hermoso disse que não houve consentimento e que se sentiu “vulnerável e vítima de uma agressão”.
O assunto está em alta na Espanha. Dezenas de milhares de mulheres participaram de passeatas contra abusos e violências de gênero nos últimos anos, e a coalizão socialista que governa o país reformou as leis de igualdade salarial e aborto.
(Reportagem de David Latona e Emma Pinedo em Madri; reportagem adicional de Michelle Nichols em Nova York e Marco Trujillo, Jesús Aguado e Fernando Kallas em Madri)