Em Paris, atletas israelenses e palestinos discordam sobre guerra em Gaza
Por John Irish
PARIS (Reuters) - Quando uma judoca israelense e um judoca palestino pisaram nos tatames da Olimpíada de Paris nesta terça-feira, a guerra que assola seus países estava no foco de ambos.
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Dois atletas -- um de cada lado -- lutaram e perderam para adversários diferentes.
Mas, uma vez derrotados, eles transmitiram mensagens diferentes que destacaram o quanto isso foi pessoal para os competidores e como foi difícil para os organizadores criar uma trégua olímpica, após dez meses de conflito entre Israel e militantes palestinos do Hamas em Gaza.
"Acho que na Olimpíada, estamos aqui para fazer a paz, mas se você está fazendo guerra em nosso país e quer fazer a paz aqui, é como se você tivesse duas caras", disse Feras Badawi, um dos oito atletas palestinos nos Jogos, a repórteres, depois de perder sua luta na primeira rodada na categoria abaixo de 81 kg contra o atleta do Tajiquistão Somon Makhmadbekov.
Ele disse que nunca poderia competir contra atletas israelenses ou apertar suas mãos em meio ao conflito em curso em Gaza, que já matou pelo menos 39.400 palestinos desde que Israel desencadeou sua ofensiva contra o Hamas em resposta ao ataque de 7 de outubro no sul da fronteira, que matou 1.200 pessoas.
Minutos depois, na categoria feminina abaixo de 63 kg, a judoca israelense Gili Sharir também estava pensando em sua derrota para a atual campeã olímpica, a francesa Clarisse Agbegnenou. Assim como Badawi, enfrentou perguntas sobre o contexto político mais amplo.
"Não podemos ignorar o que está acontecendo, podemos usar isso a nosso favor. Acredito em Israel, amo Israel e foi uma honra para mim lutar com a bandeira israelense no peito", disse Sharir, uma das 88 atletas israelenses em Paris.
Ela disse que, como atleta israelense, estava acostumada com o fato de as pessoas não apertarem sua mão, mas desejava que o esporte tivesse prioridade sobre a política.
As discussões na arena do Champs de Mars ocorreram depois que um judoca argelino foi desqualificado de um possível confronto com um israelense na segunda-feira, o exemplo mais recente de como o conflito lançou uma sombra nos bastidores no início da Olimpíada.
As expectativas antes dos Jogos eram de que poderia haver protestos generalizados às margens das disputas. Nos eventos em que os atletas israelenses competiram, a preocupação era que houvesse ações significativas que demonstrassem o sentimento anti-Israel, mas isso tem sido esporádico.
Bandeiras palestinas foram agitadas. Algumas faixas pediam uma "Palestina Livre" ou acusavam Israel de genocídio -- uma acusação que Israel rejeita.
Houve alguns cantos violentos em jogos de futebol e promotores franceses abriram uma investigação sobre ameaças de morte contra atletas israelenses, uma reviravolta preocupante 52 anos depois que 11 israelenses foram mortos nos Jogos de Munique, em 1972.