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09/12/2009 - 07h00

Brasileira troca o mountain bike apenas pela neve e improvisa até na areia

Maurício Dehò
Em São Paulo
Num país tropical como Brasil, resolver se arriscar nos esportes de inverno pode ser considerado quase uma loucura. Ainda mais para quem já fez uma história competindo nas Olimpíadas de Verão. Para Jaqueline Mourão, isso foi levado à última consequência. Depois de disputar dois Jogos na mountain bike, ela resolveu que agora é exclusivamente uma atleta da neve. E, para chegar às Olimpíadas de Inverno de Vancouver, em fevereiro, dedicou-se 100% e improvisou até na areia seus treinamentos (veja o vídeo ao lado).

BRASILEIRA ESQUIA NA AREIA DO CEARÁ

  • Além de se destacar na neve, Jaqueline Mourão ganhou atenção neste ano por esquiar em um lugar pouco usual: a areia. Depois de uma experiência em Quebec (CAN), ela trouxe o inovador treino para o Brasil e deslizou pelas dunas de Jericoacoara (CE), aproveitando para mostrar esta novidade aos cearenses, nada acostumados com os esportes de inverno. Pode ser uma semente para o futuro.

    "Foi uma experiência que surpreendeu por todo o interesse que gerou. Eu fiz isso no Canadá, no começo, porque não tinha tempo para aprender até os Jogos de Turim", explicou a mineira. "É uma opção de baixo custo, em vez de procurar neve ou neve artificial, só precisa dos esquis, dos bastões e das botas. Além de tudo, trabalha os membros superiores, por ser mais difícil deslizar na areia. Espero continuar a treinar no Brasil, mostrando o esporte e com os planos de no futuro levar o esqui cross country a muitas outras pessoas".


Jaqueline foi uma pioneira, a primeira mulher a disputar tanto os Jogos de Verão quanto os de Inverno. No entanto, decidiu que seu ciclo na mountain bike terminou após quase duas décadas de dedicação, passando assim a se dedicar exclusivamente às provas de inverno, mais especificamente o esqui cross country.

"Eu apenas decidi que já estava bom. Eu me realizei na mountain bike e agora preferi me dedicar 100% ao esqui. Descobri o esporte tarde, então vamos ver até onde posso chegar", afirmou ela, da Noruega, onde se encontra na temporada europeia.

A história da mineira de Belo Horizonte com a neve é curiosa e teve uma pitada de romance. Em 2004, ela foi para o Canadá disputar uma competição de mountain bike e conheceu por lá o esquiador Guido Visser, que a hospedou para uma etapa da Copa do Mundo. Além de acabar se casando com o canadense, que competiu em Nagano-1998, ela teve dele o primeiro empurrão para sair esquiando, em 2005.

"Eu estava fazendo parte de uma competição de mountain bike e uma tempestade de neve nos surpreendeu. Como não podia treinar por dois dias, acabei indo esquiar. Avisei que não sabia se ia gostar, mas fiquei apaixonada, até porque o cross country é parecido com o que fazia na bicicleta", afirmou Jaqueline, salientando a proximidade das provas, que são de muita resistência.

A partir daí, ela levou as duas carreiras paralelamente, competindo nos Jogos de Inverno de Turim-2006 (foi 67ª colocada) e nos de Verão de Pequim-2008 (19ª), antes de se decidir somente pelo cross country. O objetivo agora é melhorar a posição mas, principalmente, mostrar uma evolução, visível pelos pontos conquistados na prova, de 10 km.
  • Jaquelie Mourão foi a duas Olimpíadas de Verão, no mountain bike: Atenas-2004 e Pequim-2008


O marido foi o maior apoiador, afinal, assumiu o papel de técnico de Jaqueline Mourão em toda a sua carreira na neve. "Nós formamos uma equipe e ele me ajuda em tudo o que pode. Eu quero demais buscar bons resultados e, às vezes fico frustrada se não consigo, então é complicada essa relação de marido e mulher. Mas tentamos separar o máximo possível", explicou.

Apesar de ainda considerar que mora no Brasil, Jaqueline passa boa parte do ano viajando tanto no inverno do hemisfério Sul (quando vai a Chile e Argentina) quanto do Norte, passando por países como Áustria e Noruega. Neste fim de ano, apenas aguardando que seu passaporte seja "carimbado" com a vaga, a intenção nas competições é pegar experiência, em eventos como a Copa do Mundo.

Uma das grandes dificuldades foi transferir suas qualidades físicas, antes ideais para o ciclismo, para o esqui. Mas o financeiro é que acaba pesando na lista de obstáculos. "Mesmo com nosso orçamento enxuto, é um investimento grande, 24h pensando no cross country e tentando melhorar. Não estamos brincando, já disputo entre as melhores do mundo", afirma ela.

Atualmente, Jaqueline não tem patrocinadores e "equilibra" os gastos. O principal ganho é com o Bolsa Atleta, além do apoio dado pela Confederação Brasileira de Desportos na Neve, que paga parte dos gastos de infra-estrutura e de viagens. Já o marido recebe como técnico e ainda trabalha como tradutor para dar um upgrade no orçamento familiar e da "equipe".

Pelo sonho de uma boa colocação em Vancouver, inclusive, ela deve passar Natal e Ano Novo em regime de concentração. Confirmada sua vaga na seleção, ela parte para o Canadá, onde ficará dois meses até a disputa dos Jogos, em fevereiro.

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