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Velejadores defendem lei de incentivo fiscal para substituir bingos

29/03/2004 22h37

Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo

Apesar de reconhecerem os avanços proporcionados pela Lei Piva, os velejadores brasileiros defendem a crianção de uma lei de incentivo fiscal para facilitar o apoio ao esporte através da iniciativa privada.

A modalidade era uma das mais beneficiadas pela legislação que permitia a arrecadação de recursos pelos bingos, fechados recentemente por medida do governo federal.

Recordista brasileiro de medalhas olímpicas ao lado do nadador Gustavo Borges, o experiente Torben Grael, que em agosto disputará a sexta Olimpíada de sua carreira, defende um sistema de financiamento mais fácil de ser controlado pelas autoridades, evitando assim a associação do esporte com empresas envolvidas em atividades ilícitas.

"Com certeza é uma verba que a federação de vela tinha e vai deixar de ter, mas acho que a lei de incentivo ao esporte é muito mais importante e muito mais transparente do que os bingos. Seria uma coisa beneficiaria a todos", afirma o velejador, medalha de ouro em Atlanta-1996 na classe Star e um dos favoritos ao pódio em Atenas.

Depois de sete anos recebendo patrocínio do Bingo Augusta, o também campeão olímpico Robert Scheidt prefere não polemizar sobre a transparência das empresas do setor, mas alerta para a lacuna que o fechamento dos bingos vai deixar no esporte brasileiro.

"É difícil falar sobre todos os bingos porque não tenho conhecimento profundo sobre o negócio, mas o Bingo Augusta sempre foi exemplar com relação a todas as obrigações que eles tiveram comigo", relata o velejador, também ouro em Atlanta-1996 e candidatíssimo ao título da classe Laser.

"Fala-se muito em lei de incentivo fiscal com renúncia da renda e isenção de impostos para beneficiar o esporte. Mas isso é uma coisa que tem que ser feita com muita calma, por isso acho que vai levar um tempo ainda. No primeiro momento, vai ter uma lacuna muito grande entre um processo de apoio ao esporte e o segundo, se é que ele vai vir", completa.

Para Ricardo Winicki, que vai defender o Brasil na classe Mistral nas próximas Olimpíadas, a ausência de uma política de incentivo vai afetar justamente os atletas que mais precisam de apoio.

"Espero que não atrapalhe, não a mim, mas talvez alguns brasileiros que ainda não atingiram um nível elevado como eu, Torben, Scheidt, e precisam de mais apoio. Esses podem acabar sendo muito prejudicados, isso é uma pena", lamenta.

Por ser um esporte que exige um alto investimento - equipamentos e barcos são quase todos importados - a vela é um caso ainda mais complicado dentro do quadro de falta de dinheiro que predomina no esporte nacional.

"Você não consegue nada sendo apenas talentoso sem ter uma estrutura mínima. A aprovação de leis de incentivo fiscal seria um caminho mais curto de tornar as coisas mais fáceis", sugere Fernanda Oliveira, vencedora da seletiva olímpica na classe 470.

Embora seja um defensor da regulamentação dos bingos, o presidente da Federação Brasileira de Vela e Motor (FBVM), Walcles Osório, faz coro com os atletas.

Para ele, a legislação atual pune a empresa que patrocina o esporte. "Hoje em dia a Receita Federal cai em cima dos patrocinadores e ainda cobra imposto. Assim ninguém quer patrocinar".