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Lars Grael sugere que Búzios seria melhor que Rio para a vela em 2016

Bruno Doro<br>Em São Paulo

08/11/2009 07h20

OS ARGUMENTOS DE LARS GRAEL

  • Folha Imagem

    Para Lars Grael, a realização da vela nas Olimpíadas depende de quatro fatores. Confira quais são e como Rio e Búzios se saem:

    1. Lugar bom de vento
    A raia da Baía de Guanabara é pequena para todas as classes de vela e o vento muito inconstante - no Pan-Americano de 2007, a vela atrasou e teve um dia de regatas cancelados por falta de vento. Logo, o Rio não atende a essa necessidade. Para abrigar todas as raias, o Rio-2016 teria de sair da baía e prejudicaria ainda a prioridade 3 (abaixo). Em Búzios, existe espaço para todos os campos de regata e as variações de vento e condições climáticas em geral são mais adequadas à vela.

    2. Água Limpa
    A questão da qualidade das águas é um desafio hercúleo fundamental, tão importante quanto o vento. Hoje, a baía tem qualidade ruim da água. Durante o Pan-2007, não foram poucos os velejadores que sofreram com sacos de lixo presos ao barco. Novamente, Búzios não sofre com esse problema.

    3. Boa Marina
    A Marina da Glória teria que passar por profunda transformação em sintonia com FEEMA, IPHAN, IBAMA, Marinha do Brasil, Moradores do Flamengo e Ministério Público o que é ainda um gargalo. Búzios, porém, não tem nenhuma marina com capacidade para receber o evento e teria de erguer do zero a sua sede.

    4. Próximo do centro das Olimpíadas
    Na Guanabara, os velejadores seriam alojados na Vila Olímpica e viveriam o clima dos Jogos. Um diferencial, se lembrar que em apenas três das últimas 12 edições dos Jogos, os velejadores ficaram na Vila. Em Búzios, ficaram a duas horas de distância.

 

Um dos pilares da campanha do Rio de Janeiro para receber as Olimpíadas de 2016 foi a disputa de todos os esportes dentro da cidade. A vela, uma das modalidades beneficiadas pelo fato, porém, não está completamente de acordo com isso. Com a poluição da Baía de Guanabara, somado ao regime instável de ventos do local e os problemas legais da Marina da Glória, sede do esporte, velejadores já afirmam que seria bom pensar em um plano B.

Dono de duas medalhas olímpicas, Lars Grael afirmou em seu blog que, esportivamente, seria melhor ter a disputa em Búzios, a cerca de 160 km da capital fluminense. "Búzios acaba de sediar o Campeonato Mundial da Juventude da ISAF, em julho deste ano. O evento foi consagrado como o melhor de todos os tempos. Quem conhece vela sabe que Búzios é incomparavelmente melhor que o Rio em ventos e na qualidade da água", escreveu.

Presente nas últimas duas Olimpíadas, o carioca Ricardo Winicki, campeão mundial da classe RS:X em 2007, tem toda uma estrutura de treinamento montada na cidade do norte do Rio. Todo ano, no inverno do hemisfério norte, ele recebe os melhores do mundo na cidade, para treinamentos. Ele fala até mesmo em começar uma campanha para tentar levar o esporte para lá.

"Regatas em Búzios não significa vento forte, e sim maiores variações de vento e condições climáticas em geral. Além da água limpa, tem bastante espaço para todos os campos de regata. Concordo 100% com tudo o que o Lars disse. Estaremos trabalhando duro para levar os Jogos para Búzios", disse o velejador.

Até mesmo quem não é do Rio de Janeiro concordo com a idéia, do ponto de vista de esportivo. "Se eu pudesse escolher, escolheria Búzios", admite o catarinense Bruno Fontes, representante do Brasil na classe Laser em Pequim-2008. "Mas eu sei que, em Búzios, você acaba perdendo o espírito olímpico. Longe da vila olímpica, é como se fosse mais um campeonato de vela", completa.

A mudança não seria fácil. O projeto aprovado pelo Comitê Olímpico para receber as Olimpíadas de 2016 não deve ser mudado. E, como já foi afirmado, ter todos os esportes na cidade é um de seus pontos centrais. Procurado pelo UOL Esporte, o Comitê Organizador do Rio-2016 negou a existência de um plano B para a modalidade.

"O Comitê Rio 2016 tem plena confiança no projeto apresentado para as competições de vela dos Jogos Rio 2016, que foi aprovado pela Federação Internacional de Vela (ISAF) e pelo Comitê Olímpico Internacional. Durante a visita de inspeção, a ISAF destacou que o fato de as provas serem realizadas na Baía de Guanabara permitirá que os atletas da vela estejam integrados aos demais esportes dos Jogos Olímpicos, o que dificilmente ocorre. No projeto Rio 2016, os atletas da vela ficarão na Vila Olímpica, junto com os competidores de outras modalidades", afirmou a entidade, por e-mail.

Lars não defende a mudança, mas entende que, além da parte esportiva, a qualidade da água da Baía de Guanabara também é um problema para a vela no local. A limpeza das águas faz parte do dossiê entregue pelo Rio-2016. Mas projetos para isso são feitos há anos e os resultados ainda não aparecem.

"Todos nós queremos, sonhamos e seríamos beneficiados com a despoluição da Baía de Guanabara. Temos que lutar por isto e não devemos jogar a toalha tão cedo. Se não despoluir agora nestes 7 anos, quando será? Mas seria fazer em sete anos muito mais que o Plano de Despoluição da Baía de Guanabara não fez em 14. Não custa pensar em plano B", lembra o velejador.