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Inspirados em lendas, Grael e Ferreira querem ser cinquentões olímpicos em 2012

Bruno Doro

No Rio de Janeiro

18/01/2010 07h00

A qualidade de Torben Grael e Marcelo Ferreira é inegável. Juntos, formam a dupla mais vitoriosa do esporte brasileiro. Somam três medalhas olímpicas, duas delas de ouro, e um título mundial, sempre na Star, a classe mais importante da vela.

Agora, os dois começam a sonhar com um objetivo ousado: quase cinquentões, devem entrar de cabeça em mais uma campanha olímpica. Em Londres 2012, caso consigam desbancar, por exemplo, os medalhistas de prata da Star em Pequim-2008, Robert Scheidt e Bruno Prada, vão velejar nas águas de sede olímpica de Weymouth com 52 (Torben) e 47 (Marcelo) anos.

Muito velhos? “Bom, você pode perguntar para o Paul Elvstrom se é muito velho”, desafia Grael. Considerado por muitos o maior velejador olímpico de todos os tempos, o norueguês é o único do planeta a conquistar quatro medalhas de ouro na vela. O ;ultimo ouro foi 1960, aos 32 anos.

DIFICULDADES NO MUNDIAL

Os planos são para 2012, mas a preparação de Grael e Ferreira já começou. No Campeonato Mundial da classe Star, que está sendo disputado no Rio de Janeiro, eles ocupam a 13ª posição na classificação geral, após duas regatas. Na primeira, eles terminaram em quinto lugar. Na segunda, em 25º. O motivo para o desempenho inconstante, porém, não foi a falta de treinos.

"Não dá para falar em falta de ritmo. Acho que foi azar mesmo. Largamos mal e não foi possível recuperar", resume Marcelo, sobre o segundo dia. "O dia foi complicado. Foram quatro largadas, três delas canceladas. E nós largamos muito bem nas três primeiras. Mas na que valeu, erramos", completou Torben.

O Mundial segue até a próxima sexta-feira (dia reserva). Estão programadas mais quatro regatas.

Nas décadas seguintes, continuou ativo. Foi quarto colocado na classe Star nos Jogos de 1988, aos 40 anos. Mas o maior exemplo da longevidade veio em 1988, aos 60 anos. Velejando ao lado de sua filha Trine, ele foi quarto colocado na exigente classe Tornado, a mais rápida que já fez parte das Olimpíadas.

Marcelo Ferreira também é rápido para encontrar exemplos: “Velho? Ninguém é velho não. O Buchan foi campeão olímpico com quase 50 anos. Porque a gente não pode?”, pergunta o proeiro, único brasileiro bicampeão mundial da classe Star – além do título com Torben em 1990, venceu o Mundial de 1997 ao lado do alemão Alexander Hagen.

O exemplo de Marcelo é Bill Buchan, norte-americano que foi campeão olímpico em 1984, nos Jogos de Los Angeles, na própria classe Star. “Ainda estamos velejando bem. Podemos chegar sim. É só ter o tempo certo para nos preparar”.

O grande problema dos dois, porém, é justamente esse. Nos últimos dez anos, Torben se tornou um dos velejadores mais requisitados do planeta. Disputou a America`s Cup, a competição mais importante da vela mundial, três vezes entre 2000 e 2010. A segunda regata em importância, a volta ao mundo Volvo Ocean Race, foram duas vezes, ambas como comandante – e na última ainda conquistou o título.

Eleito o melhor velejador do mundo em 2009, neste ano os convites só devem aumentar. Mesmo assim, os dois garantem que é possível. “Vamos com calma, disputando os campeonatos certos. É possível”, analisa Torben.

Para Marcelo, a receita é a mesma. O proeiro, que acaba afastado da vela enquanto o parceiro compete em barcos maiores, já está acostumado com longos períodos sem se preparar. “É claro que você precisa se dedicar. Mas não tem que ser 24 horas, sete ias por semanas durante quatro anos. Se você velejar um pouco todo mês e se dedicar antes das competições importantes, é possível, sim, fazer uma boa campanha olímpica”.

Os dois já mostraram isso. Para Sydney-2000, Torben perdeu a final da America`s Cup em março (como tático do italiano Prada) e mesmo assim foi uma das estrelas das Olimpíadas. Entrou na última regata em primeiro lugar. Perdeu o ouro, mas acabou com o bronze, a quarta medalha de sua carreira – e a segunda de Marcelo.