Ex-goleiro do SP que sofreu acidente viveu drama em alto-mar para ir às Paraolimpíadas
Bruno Neves foi às manchetes da imprensa em 2006, quando sofreu um grave acidente de carro que o deixou tetraplégico. Em 2012, seis anos depois, o ex-goleiro do São Paulo estará nos Jogos Paraolímpicos de Londres, ao lado da parceira Elaine Cunha, mas não sem esforço. Em entrevista ao UOL Esporte, a dupla da vela adaptada conta os apuros que viveram em alto-mar em julho, na Inglaterra, para garantirem a vaga.
Os dois competem na categoria Skud 18, mas sofrem com as limitações de estrutura no Brasil. Bruno e Elaine treinam em um barco diferente do que será usado em competições com direito a improvisações como uma cadeira de praia como assento e espumas velhas para adaptar a altura do ex-goleiro, timoneiro da embarcação.
Na Inglaterra, durante o Campeonato Mundial de Vela Adaptada em Weymouth, eles usaram o barco correto pela primeira vez, já que a Confederação Brasileira de Vela Adaptada (CBVA) alugou o de um holandês. Eles treinaram quatro dias antes da prova e se assustaram com a rapidez e a complexidade da embarcação.
Uma vela diferente, que se chama “balão” e com a qual eles não treinam, daria dor de cabeça. Durante uma regata, a vela se soltou do mastro e eles não tiveram como consertar. Completaram a etapa e pediram ajuda ao dono do barco, que recolocou a vela ao contrário, por engano.
AINDA AMIGO DE ROGÉRIO
Bruno conta que segue com boas relações no São Paulo. Pela rotina corrida, não vai mais com tanta frequência ao CT, mas mantém contato com Rogério Ceni e Denílson.
"Eu falo sempre com o Rogério. Quando ganhamos a vaga na Inglaterra a gente se falou, ele pediu umas fotos. Ficou bem feliz", disse o ex-goleiro.
O atleta não tem mais contrato com o São Paulo, mas diz que o clube ajuda sempre que pode, especialmente em questões médicas. Marco Aurélio Cunha, ex-diretor tricolor, ainda o ajuda com a academia e a fisioterapia diárias de Bruno.
“A gente estava lutando pela vida”, exagera Elaine, ao risos. “Era um vento de 25 nós [cerca de 50km/h], no meio do mar, com uma tempestade com neblina. Quando subimos o balão ele estava errado e fez a gente andar em círculos. Foi difícil porque a gente não sabia como consertar”, conta Elaine, explicando que os dois conseguiram retornar à terra firme sem maiores sustos.
Bruno e Elaine ficaram na 16ª colocação da categoria e conseguiram uma vaga surpreendente para Londres. Agora, terão um barco bancado pela CBVA que ficará na Europa, e esperam disputar competições no ano que vem para poderem usá-lo antes dos Jogos Paraolímpicos. Treinar com ele no Brasil, por enquanto, está fora de questão, por conta do custo envolvido no traslado.
As coisas, então, tendem a melhorar para a dupla, mas nem sempre foi assim. Os dois se conheceram na fisioterapia. Elaine também sofreu um acidente que a deixou paraplégica e primeiro tentou a sorte no remo adaptado. Depois, convidada por Bruno, decidiu testar a vela.
“No começo era muito difícil, porque eu precisava de cinco pessoas para me segurar no barco e cansava muito rápido. Não conseguia ficar mais de 20 minutos na água. Mas eu já joguei futebol e sei que você sempre vai enfrentar dificuldade”, disse Bruno Neves.
O convite para começar na vela adaptada veio do Instituto Superação, que mantém uma parceria com a Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac), na represa de Guarapiranga, em São Paulo. Hoje, os dois treinam no mar durante três dias por semana, além da fisioterapia e da musculação que fazem no restante do tempo livre.
Victor Hugo, luso-angolano que treina os dois, é otimista quanto à performance, mas ressalta que eles precisam de melhores condições e mais competições. “Eles precisam conhecer melhor o barco, e para isso têm de ir à Europa para fazer mais regatas, para se acostumarem”, avisa o técnico, que assim como Bruno e Elaine pedem um patrocinador para o projeto paraolímpico.
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