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Ex-goleiro do SP que sofreu acidente viveu drama em alto-mar para ir às Paraolimpíadas

Bruno Neves e sua parceira Elaine durante um treino de vela adaptada na Guarapiranga  - Gustavo Franceschini/UOL
Bruno Neves e sua parceira Elaine durante um treino de vela adaptada na Guarapiranga Imagem: Gustavo Franceschini/UOL

Gustavo Franceschini

Em São Paulo

04/10/2011 23h30

Bruno Neves foi às manchetes da imprensa em 2006, quando sofreu um grave acidente de carro que o deixou tetraplégico. Em 2012, seis anos depois, o ex-goleiro do São Paulo estará nos Jogos Paraolímpicos de Londres, ao lado da parceira Elaine Cunha, mas não sem esforço. Em entrevista ao UOL Esporte, a dupla da vela adaptada conta os apuros que viveram em alto-mar em julho, na Inglaterra, para garantirem a vaga.

Os dois competem na categoria Skud 18, mas sofrem com as limitações de estrutura no Brasil. Bruno e Elaine treinam em um barco diferente do que será usado em competições com direito a improvisações como uma cadeira de praia como assento e espumas velhas para adaptar a altura do ex-goleiro, timoneiro da embarcação.

Na Inglaterra, durante o Campeonato Mundial de Vela Adaptada em Weymouth, eles usaram o barco correto pela primeira vez, já que  a Confederação Brasileira de Vela Adaptada (CBVA) alugou o de um holandês. Eles treinaram quatro dias antes da prova e se assustaram com a rapidez e a complexidade da embarcação.

Uma vela diferente, que se chama “balão” e com a qual eles não treinam, daria dor de cabeça. Durante uma regata, a vela se soltou do mastro e eles não tiveram como consertar. Completaram a etapa e pediram ajuda ao dono do barco, que recolocou a vela ao contrário, por engano.

AINDA AMIGO DE ROGÉRIO

Luiz Pires/VIPCOMM
Bruno conta que segue com boas relações no São Paulo. Pela rotina corrida, não vai mais com tanta frequência ao CT, mas mantém contato com Rogério Ceni e Denílson.

"Eu falo sempre com o Rogério. Quando ganhamos a vaga na Inglaterra a gente se falou, ele pediu umas fotos. Ficou bem feliz", disse o ex-goleiro.

O atleta não tem mais contrato com o São Paulo, mas diz que o clube ajuda sempre que pode, especialmente em questões médicas. Marco Aurélio Cunha, ex-diretor tricolor, ainda o ajuda com a academia e a fisioterapia diárias de Bruno.

“A gente estava lutando pela vida”, exagera Elaine, ao risos. “Era um vento de 25 nós [cerca de 50km/h], no meio do mar, com uma tempestade com neblina. Quando subimos o balão ele estava errado e fez a gente andar em círculos. Foi difícil porque a gente não sabia como consertar”, conta Elaine, explicando que os dois conseguiram retornar à terra firme sem maiores sustos.

Bruno e Elaine ficaram na 16ª colocação da categoria e conseguiram uma vaga surpreendente para Londres. Agora, terão um barco bancado pela CBVA que ficará na Europa, e esperam disputar competições no ano que vem para poderem usá-lo antes dos Jogos Paraolímpicos. Treinar com ele no Brasil, por enquanto, está fora de questão, por conta do custo envolvido no traslado.

As coisas, então, tendem a melhorar para a dupla, mas nem sempre foi assim. Os dois se conheceram na fisioterapia. Elaine também sofreu um acidente que a deixou paraplégica e primeiro tentou a sorte no remo adaptado. Depois, convidada por Bruno, decidiu testar a vela.

“No começo era muito difícil, porque eu precisava de cinco pessoas para me segurar no barco e cansava muito rápido. Não conseguia ficar mais de 20 minutos na água. Mas eu já joguei futebol e sei que você sempre vai enfrentar dificuldade”, disse Bruno Neves.

O convite para começar na vela adaptada veio do Instituto Superação, que mantém uma parceria com a Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac), na represa de Guarapiranga, em São Paulo. Hoje, os dois treinam no mar durante três dias por semana, além da fisioterapia e da musculação que fazem no restante do tempo livre.

Victor Hugo, luso-angolano que treina os dois, é otimista quanto à performance, mas ressalta que eles precisam de melhores condições e mais competições. “Eles precisam conhecer melhor o barco, e para isso têm de ir à Europa para fazer mais regatas, para se acostumarem”, avisa o técnico, que assim como Bruno e Elaine pedem um patrocinador para o projeto paraolímpico.