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Na Rota do Rali Dakar 2010 - Troquei a competitividade pela atitude

Klever Kolberg é colunista do <b>UOL</b> durante o Dakar - João Pires/Divulgação
Klever Kolberg é colunista do <b>UOL</b> durante o Dakar Imagem: João Pires/Divulgação

Klever Kolberg

Especial para o UOL Esporte

29/12/2009 07h00

Dois anos atrás, antes da largada do Rali Dakar 2008, eu estava passando mal. Minha concentração estava ‘falhando’, meu sono sumiu e os pesadelos deram as caras. Era uma crise de abstinência. Pela primeira vez, depois de 20 anos consecutivos, eu não participaria do Rali Dakar. Mas no dia 4 de janeiro de 2008 veio uma surpresa ainda pior: o rali havia sido cancelado devido à ameaça de ataques terroristas em países por onde a competição passaria.

Dias depois, a organização da prova anunciava o novo destino, a mesma aventura num novo cenário, a América do Sul. Então decidi batalhar por dois objetivos, nada pequenos. Primeiro, levar o primeiro carro a competir utilizando etanol, energia limpa, no Dakar. Segundo, fazer o Brasil ser parte do percurso.

Passados dois anos, consegui marcar um destes dois gols. No dia 1º de janeiro de 2010, estarei largando ao lado de Giovanni Godoi, no Mitsubishi Pajero Sport Flex da equipe Valtra Dakar Eco Team, abrindo um novo caminho no mundo do Dakar, o da sustentabilidade.

A idéia inicialmente parecia simples e fácil, afinal temos toda a tecnologia aqui no Brasil: o etanol de cana de açúcar, a tecnologia Flex, os pneus Pirelli, o carro fabricado em Catalão (GO) e uma equipe comprometida de engenheiros e mecânicos trabalhando duro para preparar tudo.

Na verdade, as coisas foram um pouco mais complicadas. Este é um projeto pioneiro, e como em qualquer pioneirismo, há de se conviver com erros. Desculpem a comparação, porque chega a ser falta de modéstia, mas lembrem-se da corrida à Lua, entre americanos e soviéticos. Muitos foguetes não atingiram o destino.

Então, além da dificuldade da montagem de logística para levar etanol a Argentina e Chile, das inúmeras peças fabricadas pela primeira vez, já que este modelo de carro e motor nunca haviam sido utilizados nesta competição, também tive de tentar alterar a programação do meu DNA. Ele tem origem competitiva, mas agora é hora da transformação, de colocar a atitude em primeiro lugar, afinal o objetivo de levar o etanol ao Dakar, é mostrar para o mundo todo que existe uma energia ‘verde’, limpa, renovável, e o mais importante, disponível, que pode ser utilizada imediatamente, e que com a participação de todos, podemos fazer a diferença.

Então esta não é a 22ª participação do Klever no Dakar. Esta é especial, esta é para escrever uma nova história, tentando mudar os rumos do planeta, que está nas nossas mãos. Vamos lá provocar e aprender, para depois multiplicar este aprendizado.

*O piloto de rali Klever Kolberg participou 21 vezes do Dakar, dez de moto, 11 de carro e uma como chefe de equipe. Ele escreve artigos exclusivos para o UOL Esporte sobre os bastidores da maior e mais difícil competição off road do mundo. A 31ª edição da prova começa no dia 1º de janeiro de 2010 em Buenos Aires e chega na mesma cidade no dia 17 de janeiro.