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Na Rota do Rali Dakar 2010 - Água fria no deserto

Klever Kolberg é colunista do <b>UOL</b> durante o Dakar - João Pires/Divulgação
Klever Kolberg é colunista do <b>UOL</b> durante o Dakar Imagem: João Pires/Divulgação

Klever Kolberg

Especial para o UOL Esporte

01/01/2010 07h00

No deserto, água é sonho. Isso é fato. Desde minha primeira participação no Dakar, em janeiro de 1988, a busca por um banho no final do dia é parte certa do roteiro. Nesse texto, no entanto, vou falar de outro tipo de banho. Do banho de água fria que levamos logo na segunda etapa da edição de 2007. Como o trecho cronometrado em território europeu havia aumentado de 20 para 120 quilômetros, tornou-se muito importante conseguir um bom tempo nas especiais realizadas em Portugal. Ao lado do meu navegador, o curitibano Eduardo Bampi, comecei a prova com o pé direito.

Sorteados para largar na 56ª posição, fizemos uma porção de ultrapassagens e conquistamos o 21º lugar entre os 180 carros. Deixamos para trás diversos pilotos das equipes oficiais. Mas nossa festa durou pouco. Quase no final da segunda etapa, entrei um pouco mais forte em uma curva na qual a área de escape era uma erosão causada pelas chuvas. O carro escorregou, escorregou, escorregou e, quando perdeu o apoio das rodas esquerdas, tombou.

A multidão que assistia à prova deu uma de equipe de apoio e, no braço e aos gritos, nos deixou com os quatro pneus no chão. Voltamos à prova, mas com o visual da Pajero bastante sovado e com quase 15 minutos perdidos. Estava comprometido o planejamento de entrar no Marrocos numa boa posição. Isso era importante porque a falta de água (além de impedir os desejados banhos diários) deixa as estradas do norte africano cobertas por uma camada de areia fina. A passagem do concorrente levanta uma densa nuvem de areia e faz a visibilidade de dentro do carro tender a zero. Imagine essa falta de visão nas traiçoeiras estradas marroquinas, quase sempre estreitas, esburacadas, recheadas de pedras, erosões tamanho família e à beira de abismos.

Apesar de acelerar nessas condições definitivamente não ser uma boa idéia, não tínhamos outra opção para conseguir recuperar posições. Pé embaixo. Concentração nas alturas. Tudo ia bem até a sorte novamente nos abandonar (ou será que menosprezamos as armadilhas do piso marroquino?). A manga do eixo dianteiro, peça que sustenta as rodas, quebrou e perdemos 5 horas à espera do nosso caminhão de apoio. Voltamos à prova, mas o banho de água fria no nosso primeiro dia na África estava tomado. Muito bem tomado.

*O piloto de rali Klever Kolberg participou 21 vezes do Dakar, dez de moto, 11 de carro e uma como chefe de equipe. Ele escreve artigos exclusivos para o UOL Esporte sobre os bastidores da maior e mais difícil competição off road do mundo. A 31ª edição da prova começa no dia 1º de janeiro de 2010 em Buenos Aires e chega na mesma cidade no dia 17 de janeiro.