Topo

Na Rota do Rali Dakar - Perrengue na prova de 2006

Klever Kolberg é colunista do <b>UOL</b> durante o Dakar - João Pires/Divulgação
Klever Kolberg é colunista do <b>UOL</b> durante o Dakar Imagem: João Pires/Divulgação

Klever Kolberg*

Especial para o UOL Esporte

13/01/2010 07h00

Estes 22 anos de experiências me apoiam no planejamento para que o resultado da Valtra Dakar Eco Team seja o melhor possível, apesar de todo o pioneirismo e inovação que envolvem trazer o primeiro carro a competir utilizando etanol como combustível. Mas, como comento, a única certeza do planejamento é que as coisas não aconteceram conforme você imaginou. 

Na sétima etapa do rali de 2006 , partimos de Zouerat rumo a Atar, um percurso na Mauritânia, 521 quilômetros de pura areia, com muita dificuldade na navegação, já que o regulamento atual permite apenas a utilização da bússola do GPS. 

No dia anterior, havia sido detectado um problema no motor de arranque do meu Mitsubishi Pajero. Nada grave, fácil de resolver, já que contava com uma boa estrutura de apoio. 

O caminho foi realmente difícil, as dunas viraram uma teia de aranha, com rastros para todos os lados. Na metade da etapa começamos a atravessar uma região de areia muito fofa e vimos concorrentes que estavam à frente atolados em todos as direções. Resolvi tentar uma rota alternativa e me afastei um pouco do trajeto mais marcado, mas logo dei de cara com uma montanha de areia que parecia intransponível. Tentando voltar, acabei atolado e o motor apagou. 

Eu e o Eduardo Bampi, meu navegador, começamos o trabalho para desencalhar o carro, mas quando fui dar a partida, o motor de arranque não funcionou. O reparo não ficou bom. A única alternativa foi voltar a pé pelo mesmo caminho, para tentar chegar a trilha principal e pedir ajuda ao nosso caminhão de apoio. Infelizmente ele não nos viu e seguiu em frente. 

Nosso rali parecia estar indo por água abaixo. Como mover um carro no meio das dunas? Não sei se Deus é brasileiro, mas do nada surgiram alguns habitantes de algum vilarejo próximo, quatro pessoas. Através da mímica consegui organizar uma força de socorro.

Infelizmente não conseguimos movê-lo nem um centímetro, mas aquele pequeno solavanco acabou destravando o motor de arranque, e numa nova tentativa o motor de partida fez o carro funcionar. Incrível, graças a aquela inesperada força local, estávamos de novo na prova. Minhas luvas e um boné ficaram como agradecimento. À noite os mecânicos me explicaram que o reparo não havia sido realizado porque as peças estavam erradas. 

*O piloto de rali Klever Kolberg, que participou 21 vezes do Dakar, dez de moto, 11 de carro e uma como chefe de equipe. Ele escreve artigos exclusivos sobre os bastidores da maior e mais difícil competição off road do mundo. A 31ª edição da prova começou no dia 1 de janeiro de 2010 em Buenos Aires e chega na mesma cidade no dia 17.