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Na Rota do Rali Dakar 2010 - Mesmo rali, novas oportunidades

Klever Kolberg*

Especial para o UOL Esporte

17/01/2010 07h00

Após 20 participações como competidor, sendo nove em moto e 11 com carros, nestas duas edições do Rali Dakar na América do Sul, eu passei por experiências diferentes.

No ano passado, 2009, vim ao Dakar como chefe de equipe. Cansei de responder aquela pergunta básica: “Você não preferia estar pilotando?” Lógico, macaco gosta de banana. No começo, quatro meses antes da largada, quando começamos a estruturar o projeto, havia até uma sensação de perda misturada com a abertura de janela de oportunidade, já que o time foi montado nos moldes, com tecnologia e equipamento das equipes de fábrica, algo que eu nunca tivera acesso anteriormente.

O aprendizado foi enorme, a troca de experiência com pilotos, engenheiros, mecânicos, projetistas, o planejamento, a logística, foi um grande prazer. Quando o carro, o Mitsubishi MPR13 chegou, tive uma recaída. Pilotar aquele foguete sempre foi um sonho, e ele estava materializado ali, na minha frente.

Já na Argentina foi incrível ver tudo estar pronto, a equipe funcionando, andando bem no rali. Tive uma satisfação muito maior do que eu esperava, ou talvez que nem imaginara. Quem diria que estar nos bastidores seria tão eletrizante quanto pilotar uma máquina.

Infelizmente nossa corrida foi interrompida por um acidente.

Para não deixar a peteca cair, e com toda a lenha na fogueira desta participação, retomei o projeto de voltar a pilotar no Dakar. Mas desta vez não nada simples 22ª participação – aliás, nada no Dakar é simples. Precisava dar maior sentido, dar valor. Foi então que decidi reforçar os pedidos para a organização aceitar o etanol como combustível.

Em maio de 2009 o gol de placa foi marcado. Recebi a autorização. O momento econômico não era muito propício para buscar investidores, ainda mais para um projeto pioneiro e inovador. Mas era mais uma oportunidade que não queria perder.

A idéia parecia simples, fácil de ser colocada em prática. Não foi bem assim. Mas graças a uma equipe de colaboradores engajados, comprometidos e competentes, todas as barreiras ficaram para trás. Tivemos de vir ao Dakar com um espírito totalmente diferente, da atitude, da inovação e seu aprendizado; diferente do anterior, quando tínhamos mestres mostrando o melhor caminho. Desta vez tivemos de aprender com erros.

A prova está terminando, então começa uma nova missão, também muito diferente do espírito competitivo. A missão de multiplicar este aprendizado, disponibilizando-o para os concorrentes que queiram participar deste e de outros ralis com energia limpa. E ao mesmo tempo, evoluir ao máximo até a próxima prova, o Ralidos Sertões.

*O piloto de rali Klever Kolberg, que participou 21 vezes do Dakar, dez de moto, 11 de carro e uma como chefe de equipe. Ele escreve artigos exclusivos sobre os bastidores da maior e mais difícil competição off road do mundo. A 31ª edição da prova começou no dia 1 de janeiro de 2010 em Buenos Aires e chega na mesma cidade no dia 17.