Na Rota do Rali Dakar 2010 - Traumas e emoções de um debutante
Rally Dakar que não sei porque adoram chamar de Rally da Morte; uma competição que desafia os instintos de qualquer piloto (amador ou profissional) que se encantou pela pratica do esporte offroad, seja de moto, carro, quadriciclo ou caminhão... E comigo não foi diferente.
No esporte desde 2003, quando meu maior desafio era o Rally dos Sertões, tomei coragem e a decisão de realizar meu sonho de participar da primeira versão do Dakar Argentina-Chile em janeiro de 2009. Foi um ano ímpar na minha vida. O mercado em crise, a empresa que dirijo em toda região latinoamericana passando por transformações inéditas, a economia despencando e dando sinais de estresse profundo e eu ainda tinha o “Rally da Morte” como desafio em pouco mais de 11 meses.
Cada dia passava em segundos e me lembro de cada uma das noites que definitivamente foram mal dormidas e melhor aproveitadas entre vídeos, treinos em academia, etc. Pra minimizar as dores e garantir maior eficiência em minha participação me cerquei de experiência. Chamei o mais experiente dos pilotos: Klever Kolberg para me orientar na preparação, Lourival Roldan para navegar e como equipe que já trazia no pacote um Mitsubishi Pajero Full Diesel, os portugueses da Redline, que já participa há anos da competição.
Klever me deu todo apoio que muito mais do que técnico foi motivacional e até diria psicológico. O Dakar exige “equilíbrio”, concentração, coragem e regularidade .... Aí fica - acreditem ou não, ele usou a palavra – “fácil”!!!
Dakar, não é fácil. Dakar é mais do que difícil. A prova te coloca em situações em que as saídas parecem impossíveis, intransponíveis e até desesperadoras. Durante os seis primeiros dias, tudo aconteceu em nosso carro, desde 11 horas a trocar uma embreagem, até caixa de cambio quebrada dentro de um funil de Dunas que eu acreditava que a única maneira de sair fosse ser içado por um helicóptero.
As vezes achamos que as durezas do Dakar estão em dormir mal ou comer pouco. Não temos tempo de saber se dormimos ou comemos mal ou não, afinal não se faz isto durante os 17 dias. Um monte de areia vira um colchão americano king size e um pedaço de pão amanhecido uma suculenta feijoada.
O Klever me orientou de forma fantástica, mas deixou as surpresas e os testes que o Dakar te impõe como um segredo. E ele estava certo. Se ele tivesse me avisado antes talvez eu mudasse de idéia e não estaria aqui escrevendo cheio de alegria e saudades de um dos maiores eventos na minha vida. Largar no Dakar e chegar ao final.
Esta prova testa e desafia todas as emoções, vivemos 17 dias entre lágrimas e sorrisos por um ideal quase doente e descontrolado. Aquele equilíbrio que ele profetizou era um sinal claro do que viria pela frente, e eu nem percebi. As variáveis eram muitas e cada uma delas acabou aparecendo mas com uma roupagem muito mais agressiva do que a esperada.... Bem amigos, tudo isto se apaga, como aquela luz branca dos protagonistas do MIB ( lembra....!!! eles piscam a luz e sua memória se apaga ), no exato momento em que passamos a linha da chegada. O coração dispara e a sensação de superação floresce de forma natural, incomparável e única na vida de qualquer piloto...
*Paulo H Pichini é presidente da Getronics Brasil e América Latina, disputou o Dakar 2009 no carro número 444, e escreve a última coluna a convite de Klever Kolberg
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