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Piloto brasileiro mostra tristeza com morte de português, mas afirma: "Estão habituados"

Rafael Paschoalin aparece ao lado do português Luis Carreira, morto em acidente - Divulgação
Rafael Paschoalin aparece ao lado do português Luis Carreira, morto em acidente Imagem: Divulgação

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

16/11/2012 06h02

A morte do piloto português Luis Carreira em um acidente durante a sessão de treinos para o GP de Macau abalou o mundo da motovelocidade. O brasileiro Rafael Paschoalin, que disputa a prova, admitiu a tristeza e a sensação de medo provocados pela  tragédia. No entanto, ressalta que os riscos são conhecidos pelos pilotos e que os acidentes fatais se tornaram 'habituais'.

PASCHOALIN É O PRINCIPAL BRASILEIRO

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    Rafael Paschoalin é o principal nome brasileiro da motovelocidade em circuito de rua. O piloto de 29 anos se tornou o primeiro representante do país a participar de uma das provas mais importantes da modalidade em North West 200, na Irlanda.

    Em seguida, conseguiu o aval para figurar entre os 32 pilotos do GP de Macau, permitido apenas para convidados e que contava com mais de 60 inscrições. Antes dele, apenas um brasileiro atingiu o feito na década de 90.

    “Foi muito satisfatório ser convidado para essa corrida. Sonhava com isso. As pessoas não entendem muito bem o gosto pela corrida, falam que é tão arriscado. Mas é uma sensação de superar os próprios limites e desafios”, disse.

    Em 2013, Rafael quer realizar o sonho de participar do Tourist Trophy (TT). A prova na Ilha de Man, no Reino Unido, é a mais difícil do circuito com 256 curvas. As motos podem ultrapassar 300 km/hora.

    Rafael lamenta a falta de investimentos no esporte que só ganha visibilidade quando acontece alguma tragédia. “Nosso país só valoriza o futebol. Não temos recursos financeiros, nem facilidade para treinar e equipamentos, como os europeus. Faço o meu melhor com a nossa realidade”, disse.

“Todo mundo fica chateado, mas infelizmente estão habituados com isso. Na prova da Irlanda também morreu um piloto. Todo mundo está triste, mas sabe os riscos e as consequências. Tira um pouco o brilho da prova, mas a vida tem que continuar”, disse ao UOL Esporte.

Rafael conseguiu pela primeira vez uma vaga na prova que só permite a participação de convidados e comemora o ponto alto na carreira ao ser o único brasileiro na modalidade. Mas ele reforça que a prioridade é se manter ileso.

“Vou dar 110% da minha capacidade, mas a prioridade é não me machucar. Tenho uma carreira inteira, não posso colocar tudo a perder na primeira oportunidade. Se não der, vou voltar para o Brasil e olhar para a frente. Não dá para voltar em um caixão.”

O piloto diz que ficou assustado com o ‘traçado traiçoeiro’ e que é preciso ter muito conhecimento do circuito para acelerar forte. O maior problema é que a pista é toda cercada por muros e guard rails (proteção nas margens das pistas de automobilismo), o que dificulta a visão dos pilotos.

“É como uma pista de autorama. Você olha a curva e não consegue ver a saída, só vê o início. Você tem que avançar, mas devagar. Não pode cometer erros. É preciso conhecer muito bem para andar em um ritmo forte. Os pilotos mais experientes andam aqui há 15 anos. Não adianta exagerar. São anos para aprender todos os macetes”, diz,

O português Luis Carreira se envolveu em um acidente durante os treinos livres na quinta-feira. Ele sofreu uma queda sozinho na “curva dos pescadores”, considerada o trecho mais veloz do circuito. Sua moto pegou fogo e ele não resistiu aos ferimentos.

Era a sétima participação de Carreira na prova chinesa. O piloto tinha 35 anos e, na tradicional prova em Macau, teve como melhor participação um quarto lugar desde sua estreia, em 2004.

Paschoalin e Carreira fizeram amizade e ficaram mais próximos pela facilidade de comunicação com o idioma. O brasileiro conta que ele era tímido, mas descontraído e estava sempre disposto a ajudar. Dava várias dicas ao colega iniciante e, inclusive, falou bastante sobre os perigos da prova de Macau.

“Como estou fazendo a prova pela primeira vez eu não dava sossego a ele. Ficava perguntando qual a dificuldade, onde era preciso frear e acelerar. Tudo para atrair o máximo de informação”.