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Missa da Indy fica sem teto em SP e improvisa altar para dois fiéis

Ministro Bob Hills posa em frente à sala onde deveria ter sido realizada sua missa - Rafael Krieger/UOL
Ministro Bob Hills posa em frente à sala onde deveria ter sido realizada sua missa Imagem: Rafael Krieger/UOL

Rafael Krieger

Do UOL, em São Paulo

06/05/2013 06h01

A garagem da Indy montada no pavilhão do Anhembi ficou cheia de fãs curiosos na manhã de domingo, se amontoando para assistir ao trabalho dos mecânicos horas antes da largada. Poucos notaram uma reunião de quatro pessoas de pé em volta de uma caixa de papelão, em frente à sala destinada às reuniões das equipes. Era a missa oficial da Indy, ministrada pelo capelão Bob Hills.

Ele esperava atender aos fiéis dentro da sala de reunião, mas um encontro entre representantes de equipes deixou Bob sem teto. Com a ajuda de sua mulher Ruthie, ele usou uma caixa de papelão virada ao contrário para apoiar o recipiente onde estavam guardadas as hóstias.

Bob leu um trecho do evangelho que estava impresso em um folheto personalizado, e depois entregou as hóstias para uma mulher e um homem que prestigiavam a celebração católica, que já seria improvisada mesmo se todos estivessem sentados dentro da sala. Afinal, ele não é padre, e sim um ministro protestante que oferece serviços religiosos em todas as etapas da Fórmula Indy.

Até 2011, a categoria contava com um padre católico: Phil DeRea, que até celebrou casamentos de pilotos como Dario Franchitti e Helio Castroneves. Mas ele foi afastado depois de sofrer uma acusação de abuso sexual. Desde então, Bob assumiu o comando do Ministério da Indy, onde começou como assistente em 1997.

O capelão já esteve no Brasil outras duas vezes, e nunca chegou a atrair muitos fieis para seus cultos no Anhembi. Segundo ele, nos circuitos norte-americanos, a média de fiéis presentes é de 30 pessoas. Como a programação da etapa de São Paulo é diferente das outras, dificulta a presença das pessoas que geralmente têm outros compromissos no mesmo horário. Por isso, apenas duas pessoas se juntaram a ele na sua missa improvisada.

Depois que Bob já havia feito a sua bênção final, o responsável pela reunião que o deixou sem teto passou ao lado da caixa de papelão e pediu desculpas. Finalmente, o capelão pôde atender à reportagem, com um olhar desconfiado. Ele explicou a atuação de seu ministério e disse que, dos pilotos brasileiros, Helio Castroneves é o que mais pratica sua fé.

Ao contrário de Bob, a sua mulher Ruthie se sentiu mais à vontade e falou sobre o seu primeiro ano trabalhando na Fórmula Indy: “As pessoas aqui são como uma família. Os pilotos respeitam um ao outro, é um ambiente muito saudável, sem maldade ou linguagem imprópria”.

Ruthie revelou que entrou no mundo da velocidade por acaso. Ela conheceu o marido Bob em setembro do ano passado, através do site de relacionamentos “Christian Mingle”, específico para o público cristão. Em março, eles já se casaram: “Já passamos dos 50, não podíamos esperar”. Ao lado de Bob, ela teve a oportunidade de viajar ao Brasil pela primeira vez.

Ao fim da conversa, Bob e Ruthie finalmente puderam entrar na sala de reuniões, e começaram a se organizar para o culto protestante. Eles ainda esperavam os primeiros fiéis, mas ninguém havia aparecido no horário marcado. Pelo menos, eles já não precisariam mais da caixa de papelão.