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"Esquecido" pelo público após sair da F-1, Bruno Senna quer vaga na Stock Car

Júlia Caldeira

Do UOL, em São Paulo

07/06/2013 06h00

Após trocar a Fórmula 1 pelo Endurance, Bruno Senna passou da fama ao anonimato. Antes reconhecido nas ruas, hoje ele diz ser parado apenas por fãs 'puristas' de automobilismo. Mas, apesar da visibilidade, reconhecimento e ‘status’, ele não expressa o desejo de retornar à categoria.

Dispensado pela Williams em 2012, ele garante que só retornaria ao circuito se recebesse uma boa proposta. Outras categorias, como a Stock Car, no entanto, estão nos planos do piloto, que mostra resultados positivos no Endurance.

"Quando você está na Fórmula 1 você está muito mais exposto, então muito mais gente me conhecia no Brasil. Acho que hoje em dia eu estou um pouco fora da mídia. Só os torcedores mais puristas de automobilismo que me conhecem", contou Senna, em entrevista ao UOL Esporte. "Mas o carinho de quem está na pista e de quem acompanha continua o mesmo e o apoio está super bom", completou.

A vontade de Senna é vencer e ser competitivo, por isso, qualquer oportunidade na F-1 não bastaria. Quando deixou a Willians, inclusive, chegou a recusar propostas de Caterham e Marussia. Segundo ele, nestas escuderias sua carreira “não iria a lugar nenhum”.

“Fiquei bastante desapontado (de ser dispensado).Com a Caterham e com a Marussia a gente, realmente, não chegou a considerar de verdade, porque, para mim, era regredir. A única chance de eu voltar para a Fórmula 1 é se aparecer uma oportunidade muito boa, uma oportunidade legal de voltar a ser competitivo e estar entre os 10 primeiros. Se não for uma coisa desse tipo, prefiro fazer a minha carreira fora da Fórmula 1 e ter uma carreira bem longa e competindo na frente”, explica.

Sua passagem pela Fórmula 1 durou três anos. A estreia foi pela Hispania, em 2010, como piloto titular da equipe, e terminou a temporada na 23ª colocação. Em 2011, foi anunciado como piloto reserva da Renault e, com a rescisão de contrato entre a escuderia e o alemão Nick Heidfeld, acabou assumindo a vaga de titular da equipe e encerrando a temporada em 18º. Em seu último ano na categoria, foi piloto titular da Williams e acabou a temporada em 16º, uma colocação atrás do então companheiro de escuderia, Pastor Maldonado.

Hoje no Endurance, Senna comemora bons resultados e agrada sua nova equipe, a Aston Martin. Com duas etapas disputadas, o brasileiro soma um primeiro lugar – conquistado em sua estreia, nas 6 horas de Silverstone  - e uma segunda colocação, o que lhe garante a liderança do Mundial.

Com o desempenho positivo, ele procura expor a categoria e tentar encerrar a quase exclusiva relação da Fórmula 1 com a torcida brasileira.

"É uma questão muito de cultura. O brasileiro conhece muito a Fórmula 1 e a Stock (Car), mas não conhece muitas outras formas de automobilismo. É uma coisa muito de ter pilotos bem sucedidos aqui ou lá, mas hoje em dia com a internet e com as facilidades de comunicação, bons resultados e sucesso a gente vai conseguir trazer um pouco mais de variedade para os fãs de automobilismo no Brasil".

Mas, mesmo com sucesso no novo rumo da carreira, ele procura outras categorias para disputar. Como o calendário do Mundial de Endurance é curto, com apenas oito provas no ano, Bruno Senna cogita correr em mais de um campeonato no ano que vem.

“Estou de olho na própria Stock Car aqui no Brasil, que é uma das categorias que a gente tem interesse. Estou olhando também a Fórmula E, que vai começar no ano que vem e as categorias nos EUA, Indy, Nascar. Enfim, o plano está bem aberto. Estamos vendo quais são as melhores estratégias, opções e acho que, para o ano que vem, vou em algumas categorias diferentes ao mesmo tempo”.

Ao bom desempenho no Endurance ele relaciona a experiência na Fórmula 1, quando ele era acostumado a fazer várias coisas ao mesmo tempo. “Na Fórmula 1 você está sempre trabalhando os botões, a estratégia, o rádio do carro, isso ao mesmo tempo em que tenho que deixar meu carro no limite, num nível muito mais rápido do que no Endurance”.

Mas Senna não é “só elogios” à Fómula 1. Questionado sobre as recentes declarações de Hélio Castroneves de que os pilotos de Fómula 1 são “mimados”,  ele disse entender o ponto de vista do piloto da Indy, mas amenizou a crítica.

“Acho que na Fórmula 1 os pilotos, com certeza, são mal acostumados com certos privilégios. Lá as coisas realmente são muito mais refinadas do que na maioria das outras categorias , pela estrutura que tem em volta. Mas é parte da categoria.”

Ainda assim, ele lembra que há muita política envolvida na modalidade e, por isso, a  competição acaba sendo “muito restrita”.

“Tem muita política na Fórmula 1, sempre existiu. Isso não mudou, mas, em geral, no automobilismo na Europa é assim. Eu adoraria que as coisas fossem um pouco mais simples e puras. Que as oportunidades fossem por mérito  e de verdade, e não meias oportunidades. Não só para mim, como para todos os pilotos também. Mas não é assim que as coisas são e a gente tem que aprender a lidar com essas coisas”, lamenta.

Com o escândalo dos testes secretos de pneus e com o incentivo a competição entre pilotos da mesma escuderia, a Fórmula 1 hoje também decepcionaria o tio e ídolo de Bruno, Ayrton Senna. Segundo Bruno, Ayrton lutaria por mudanças na categoria.

“O Ayrton  sempre foi super purista com o automobilismo. Ele disse que, muitas vezes, o que ele mais gostava era o kart, que era ‘pure racing’. Então, com certeza ele estaria desapontado com a situação e com o fato de a competição estar tão restrita. Ele passou por muitas complicações na própria carreira dele, lutando contra as forças políticas, então acho que não seria muito diferente do que ele foi na época dele”.