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Brasileiro campeão da Indy diz que carreira ruiu após atropelar veado

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

03/10/2013 06h00

Uma carreira vitoriosa e feliz. É assim que o mineiro Cristiano da Matta, ex-campeão da Fórmula Indy e com passagem pela Fórmula ,1 e praticamente aposentado, define sua passagem pelo automobilismo. Mas ela poderia ter sido mais rica caso não houvesse uma infelicidade.

Em 2006, um acidente inusitado com um veado quase tirou a vida do piloto e encurtou a sua jornada nas pistas. Em um teste no circuito de Elkhart Lake, quando disputava a Fórmula Indy, nos EUA, o animal atravessou o pista e bateu contra carro em alta velocidade. 

Da Matta, 40 anos, tentou voltar a correr quase três anos depois. Mas teve dificuldades e pouco competiu no automobilismo desde então. Admite que o acidente encurtou a carreira. 

“Na minha carreira, vejo que foi um uma mega, ultra-fatalidade. Tem muito veado nos Estados Unidos, mas a pista era cercada da melhor segurança possível, mas aconteceu. Para minha carreira foi o fim, é uma coisa que não é fácil nem de falar. Mas para vida tive que aprender a reconstruir, reerguer e olhar pra frente”, falou, em entrevista, ao UOL Esporte.

O acidente ocorreu quando o carro perdeu o controle depois de bater em veado, e depois o brasileiro se chocou contra o muro de proteção. Da Matta ficou em coma e teve que fazer uma cirurgia para retirada de um pedaço do crânio. Foi aconselhado a voltar para o Brasil depois da alta para que fizesse o tratamento em sua língua nativa para ter mais facilidade na recuperação.

“Tive que fazer o processo de recuperação no Brasil para falar português e ficar mais fácil. E quando voltei pra cá, no final de 2006, ia na fonoaudiologia porque tinha bagunçado a minha cabeça. E também ia na nutricionista porque perdi 10 kg. Era fisioterapia e fono quase todo dia durante uns quatro meses ou mais. Foi ralação”, lembrou.

O mineiro diz até lembrar como foi seu último raciocínio e pensamento antes de se chocar com o animal. “As últimas cenas, flashes, lembro que peguei a esquerda e a asa dianteira direita do carro pegou nele. Pensei naqueles milésimos 'bicho filha da p...”, falou, em tom bem-humorado.

Da Matta estava bem na temporada naquele ano. Chegou a ganhar corridas, mas teve sua carreira abreviada por esse acidente. O piloto nascido em Belo Horizonte ganhou fama ao ser campeão da Fórmulas Ford, em 1993, e Fórmula 3, no ano seguinte. Três anos depois se aventurou nos Estados Unidos e competiu na Indy Lights, principal categoria de acesso para o campeonato que hoje é a Indy. Em 2002, sagrou-se campeão.

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“Era meio que um título mundial, tinha gente do mundo todo. Uma categoria forte, com várias montadoras. Lógico que não é um título da Fórmula 1, mas era o que mais se aproximava disso. É meu maior orgulho. Foi bom demais. É uma carreira que, hoje olho pra trás, foi muito curta”, falou Da Matta.

O prestígio com o título da Indy e a experiência de correr com os motores da Toyota nos Estados Unidos o credenciaram para sentar em um dos bancos da equipe japonesa na Fórmula 1 (optaram pela mudança em 2003). O mineiro ficou receoso, mas topou o desafio.

Como estreante na Fórmula 1, fez dez pontos e ficou à frente do companheiro de equipe, o francês Olivier Panis, bem mais experiente. Pontuou mais do que um ex-campeão da categoria e que corria há anos por lá, o canadense Jaques Villeneuve. Mas foi demitido junto com Panis em 2004 por reclamarem do fraco desempenho do carro.

“O primeiro ano foi tudo legal e no segundo ano tive a experiência do exemplo que o pessoal fala. Da concorrência de pilotos do mundo inteiro pra entrar lá. Em 2004, nosso carro era bem pior que o de 2003 em relação aos outros. Aí chegou uma hora que comecei a falar pro pessoal da Toyota que o engenheiro que entrou fez um carro mais lento que o do ano anterior. Aí mexeram os pauzinhos e mandaram o 'pilotinho' dos Estados Unidos e o velhinho (Panis) embora. Experimentei esse lado do cara mexer, manipular e não se respeitado”, contou.

Com experiência de campeão nos EUA e com passagem pela F-1, Da Matta vê com serenidade o momento mais difícil que teve na sua carreira e na vida. 

“[O acidente] me deu uma preparação melhor pra vida. Para saber melhor o que é preciso pra qualquer tipo de situação. De tudo se extrai um lado positivo, e acho que consegui fazer isso. Eu queria ter continuado na Indy mais um ano ou dois. Mas no geral acho que foi muito bom. Hoje estou numa boa e acho que tem um pouco a ver a energia positiva toda que me deram”, continuou.

Distância das pistas e loja de roupas

Cristiano correu pela última vez em 2011, na American Le Mans Series, na equipe Jaguar. Desde então, parou de procurar equipes e passou a se dedicar a uma loja de confecção de roupas de sua família, a Da Matta design.

O piloto diz que sempre foi bom em números e usa a facilidade que passou a ter no contato do mundo do automobilismo para ajudar na parte de finanças da empresa.

“Hoje em dia uso muito o que aprendi com engenheiros. Trabalho na parte de logística. Essa parte o quanto temos que vender tantos por mês, para isso produzir um certo tanto. E calcula o que temos que comprar de pano, costureira, estampar. Isso tudo”, falou.

Voltar ao automobilismo, agora, só se aparecer algo muito atraente. Mas ele não corre tanto atrás. “Esse ano, desde que parei forçado em 2006 no nível que eu vinha fazendo, pela primeira vez estou tranquilo e não sentindo falta de nada, sem correr atrás de nada. Não fui nem ver corrida, meu caro de kart está parado. Estou de um jeito que tem que ser legal pra animar pra voltar e correr. Está muito legal aqui trabalhando, escritório, computador.”