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Ex-piloto Raul Boesel agita festas como DJ e reprova "pegação" nas baladas

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

21/10/2013 06h00

Do cockpit para casas noturnas. As mãos que antes trocavam marchas e viravam o volante para curvas perigosas agora controlam aparelhos eletrônicos que dão o ritmo às pistas. Foi assim, que há aproximadamente sete anos, o ex-piloto das Fórmula Indy e F-1 Raul Boesel decidiu trocar o automobilismo pela carreira de DJ.

“Quando eu era garoto, com 14 anos, adorava músicas e gravava nas minhas próprias fitas cassete. Naquela época não tinha mixagem. Sempre fiz tudo escutando música, sempre ia a festivais de músicas eletrônicas. Chegou um dia que comecei a pensar mais em música do que em corrida. Vi que era um aviso de que minha motivação não era mais a mesma para o automobilismo”, falou Boesel, em entrevista ao UOL Esporte.

Entre 2006 e 2007, Boesel conta que se trancou em casa e passava cerca de oito horas por dia fazendo aulas com DJ para aprender sobre o ramo que queria ingressar. Passou a ir com frequência para Ibiza, na Espanha, considerada a meca da música eletrônica, para ver as novas tendências, trocar informações e fazer contatos.

Em 2007, teve sua primeira chance e desde então tem tido a agenda cheia. Chega a fazer seis eventos em um mesmo mês, com apresentações que variam de preço conforme o tipo de festa, mas que iniciam na casa de R$ 8 mil. Tem até site oficial com exposição de seu trabalho, como calendário de festas no ano, estilo musical e participações em eventos anteriores.

Boesel tem como estilo os sons Deep House, Techno, Tech House e Progressive House, entre outros. Diz que o maior desafio é fazer a pista ficar em movimento o tempo todo ao som do seu estilo. Gosta do público que vai ao local por ser fã desse tipo de música, mas encontra dificuldades pelo fato de muita gente ir para a balada somente por “pegação” e querer ouvir sons da moda que tocam nas rádios.

O piloto diz que não muda seu estilo de jeito nenhum e avisa que quem o quiser contratar, tem que saber o produto que terá na noite.

“Gosto de tocar quem vai pela música, pelo DJ. Aqui no Brasil a visão é um pouco diferente. As pessoas não tem isso (de irem pelo gosto da música). Muitos vão a vários clubes só pra pegação, e eu não gosto de tocar assim porque o DJ não tem importância nenhuma na festa. O cara só vai pra pegar menina que só sabe cantar musica de rádio”, falou.

“Aí você pega clube que o cara toca três vezes a mesma música...o grande desafio do DJ é entender a pista e fazer bombar. Pra mim é fazer isso com músicas desconhecida. Agora ir lá para tocar música de rádio direto não é desafio nenhum.”

Raul relata que muitas das pessoas presentes na festa às vezes olham com estranheza e desconfiam se é mesmo o ex-piloto que está comandando o som.

“Agora já me reconhecem mais. No começo tinha aquelas ´será que é ele mesmo?´ Às vezes eu vejo pessoas discutindo na pista e depois faço um sinal de positivo, e o cara entende. Às vezes eu coloco um som de carro passando...e o pessoal adora, é incrível. As mulheres, principalmente, gostam desse som e pedem pra colocar de novo.”

No automobilismo, Raul Boesel foi campeão do mundial de marcas em 1987, pela equipe Jaguar.  Correu dois anos na Fórmula 1 na década de 80 e passou diversas vezes pela Fórmula Indy, tendo disputado em 13 oportunidades a tradicional corrida das 500 milhas de Indianápolis.

Foi terceiro colocado em uma oportunidade, em 1989. Em uma das edições, de 1993, liderou por 18 voltas e teve chances reais de vencer a corrida, mas sofreu algumas penalizações que atrapalharam.

“Se não tivesse as penalidades, ganharia com uma volta na frente pelo menos. Até hoje quando vou em Indianápolis, falam que fui o ganhador na prova. Foi uma corrida inesquecível, mas colocando na balança, tive mais alegrias do que frustrações no automobilismo.”