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Pilotos peitam perigo e "ignoram" medo da família por adrenalina do Dakar

Jean Azevedo, o mais experiente dos brasileiros no Rali Dakar - Dfotos/VIPCOMM
Jean Azevedo, o mais experiente dos brasileiros no Rali Dakar Imagem: Dfotos/VIPCOMM

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

21/10/2013 06h00

Circuitos perigosos, desconhecidos e direção em alta velocidade. Mas nada disso assusta e faz diminuir o desejo da missão cumprida. A adrenalina e pressão de vencer o perigo superam o medo. É assim que os pilotos que representarão o Brasil na próxima edição do Rali Dakar, o mais conhecido do mundo, encaram a “profissão perigo”.

O experiente Jean Azevedo, o estreante Dário Júlio e Ike Klaumann são os três primeiros pilotos anunciados para representar o país na prova, entre as motos, queserá realizada entre os dias 5 e 18 de janeiro, na Argentina, Bolívia e Chile.

Antes de sua primeira participação, Dário Júlio admite que bate uma tensão pelo desconhecido. Mas nada que uma conversa com o experiente Jean, que já participou 15 vezes da prova, não resolva.

“Entrar em uma prova dessas, em um terreno que nunca andei...a gente fica um pouco tenso. Mas vamos pegando as dicas do Jean e até do Ike, que já esteve lá e conhece. Isso vai me ajudar bastante. É um diferencial muito positivo poder ouvir as experiências,” falou o Tricampeão Brasileiro de Rally Cross Country.

Ike chegou a viver situação tensa em sua primeira participação, no ano passado. Sofreu grave acidente de moto, ficou desacordado ao bater a cabeça em uma pedra e teve que ser atendido pelo resgate.


“Minha primeira participação foi bem curta, no terceiro dia tomei uma queda e fraturei a vértebra. Apaguei, fiquei contundido. E isso foi muito marcante. Posso dizer, que dos 20 anos que ando de moto, foi o acidente mais grave. Foi marcante e não pude continuar na prova”, lembrou.

O piloto ficou sete meses sem poder andar de moto. Fala que até a namorada já pressionou e questionou se não era melhor deixar de lado as provas em função do perigo. Mas ele ressalta a eficiência da organização ao se precaver para esses tipos de acidente e diz que a adrenalina fala mais alto.

“Na hora do acidente deu um desespero, passou um filme na cabeça. Mas tinha muita gente por perto, resgate. Foram rápidos, em dez minutos estavam lá e levaram pra o hospital e fizeram atendimento”, lembrou.

“Tem uma certa pressão do lado familiar e dos amigos, pois, querendo ou não, é um esporte com muito risco. Quando se toma um tombo dessa grandeza passa um filme na sua cabeça. Você quer saber se vai ficar bem de novo. Minha namorada cobra muito e pergunta se penso em ir de novo. Mas não tem jeito. É o esporte que a gente gosta. Há muitos anos estamos nessa. Está no sangue mesmo.”

Jean Azevedo tem experiência de sobra para ser conselheiro. Correu boa parte das provas quando elas ocorriam no deserto da África, até 2008. Lembra que lá as condições de segurança eram ainda piores do que agora. Mas nem isso metia medo.

“Lá tinha um extracampo de estar longe de tudo. Não tinha hospital perto, tinha que ir pra Europa caso desse algum problema. Tinha guerrilhas locais. Era uma prova que exigia mais, era navegação mais difícil”, contou.

O experiente piloto, bicampeão do rali Paris-Dakar na categoria motos, assume a experiência de domar os dois companheiros.“Estamos juntos todos campeonatos, passo dicas. O mais importante de tudo pros dois é um treino que vamos fazer no Chile e se adaptar. Tem a parte da navegação, que é o mais complicado. A parte das dunas, de andar nelas, de rio seco. E até de administrar tudo isso. São 14 etapas de prova. É quando surgem as dúvidas que vamos tirando. Não estamos juntos durante o dia nas provas, mas à noite sim.”

A prova terá largada dia 5 de janeiro, de Rosário, na Argentina, e chegará em Valparaíso, no Chile, dia 18 de janeiro, depois de uma passagem curta pela Bolívia, que será o país de número 28 a receber o rali.

  • Dfotos/VIPCOMM

    Jean Azevedo, que tem 15 participações no Rali Dakar, ao lado dos filhos