F-Indy queria destruir último drive-in do Brasil. Brasília não permitiu
Um cinema ao ar livre, criado há mais de 40 anos e um dos últimos estabelecimentos do tipo na América Latina,virou tema de debate por causa da Fórmula Indy em Brasília. A cidade receberá uma etapa da categoria pela primeira vez em março de 2015, mas a corrida mobilizou a população. A possibilidade de demolição do Cine Drive-In, que fica dentro da área do Autódromo Nelson Piquet, para criação de um estacionamento VIP e um trecho do paddock, criou uma corrente a favor do cinema.
O Drive In, lugar em que se pode assistir aos filmes de dentro do carro, está em extinção. O de Brasília foi criado em 1973, coexiste com o autódromo desde então, e é o último exemplar da América Latina em funcionamento. Estima-se que, mensalmente, cinco mil pessoas vão ao local aproveitar a atmosfera romântica de se assistir filmes como se fazia há 30, 40 anos. Muitos deficientes físicos também frequentam o drive-in, em razão das dificuldades de acesso aos cinemas de shoppings.
“Foi uma campanha bem sucedida porque foi bem escrita, com uma boa atualização e muito direta. Por isso, nós também participamos da divulgação”, explicou Graziela Tanaka, diretora de campanhas da Change.org, onde o abaixo-assinado circulou pela internet.
A obra para receber a Indy está prevista para começar em novembro deste ano e tem o orçamento inicial em R$ 300 milhões. Na quinta-feira da semana passada, integrantes do governo local, da TV Bandeirantes (que exibirá a prova) e da Indy promoveram uma coletiva de imprensa na qual anunciaram a demolição do kartódromo, vizinho ao drive-in, para a construção do estacionamento VIP e do novo paddock. Segundo o GDF (Governo do Distrito Federal), o cinema não será demolido, nem interditado e só passará por uma reforma: no asfalto.
O anúncio pegou a proprietária do drive-in de surpresa. Nem ela foi consultada sobre a necessidade de restaurar o piso abaixo da tela de mais de 300 metros quadrados. “Ali é só asfalto, só precisa pintar, não precisa trocar asfalto”, afirmou Marta Fagundes, cuja história de vida se confunde com a do cinema.
Ela começou a trabalhar lá em 1975, dois após a fundação, como bilheteira. ajudando o pai, que era administrador do local. Em 1989, ela conseguiu juntar dinheiro e comprar o drive-in da pessoa que o fundou. Desde então, toca o negócio. Já enfrentou diversas crises, como a popularização do video-cassete, nos anos 80, e das TVs a cabo, nos 90. Ficou também surpresa com a sensibilização popular em torno do possibilidade de demolição. “Quando vi a planta do projeto da Indy em que não constava mais o drive-in, fiquei muito preocupada. Até recebi a visita de técnicos que vieram aqui [no cinema] estudar a viabilidade da demolição”, relatou.
Mas, de acordo com o GDF, essa possibilidade jamais foi ventilada entre os organizadores e a campanha na internet pode ter sido movida por um boato ou mal entendido. “O Governo do DF sempre foi a favor da manutenção do drive-in. Desde a concepção inicial, o projeto de reforma do autódromo teve como objetivo preparar o local para os grandes eventos do automobilismo, sem que estivesse prevista a remoção do Drive-In. A decisão já tinha sido manifestada pelo governo, antes mesmo da coletiva de anúncio da Fórmula Indy em Brasília, na última quinta-feira (18)”, afirmou, por meio de nota, a assessoria de imprensa do GDF.
Tamanha repercussão serviu para tornar o Cine Drive In de Brasília mais popular. Na página do abaixo-assinado na change.org, diversas pessoas de outras cidades manifestaram o interesse em vir a Brasília para conhecer o drive-in, e não para assistir à inédita prova da Fórmula Indy. “Estou planejando para dezembro trocar o aparelho de exibição, que ainda é de película, por um de HD [alta definição de imagem]”, previu Marta.
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