Dakar conquista Argentina e até Casa Rosada vira palco para o rali

Imagine um evento esportivo que começasse diante do Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo brasileiro. Foi assim que começou o Rally Dakar na Argentina: a Casa Rosada, centro do comando da Presidência argentina, serviu de palco para a largada promocional da principal corrida off-road no mundo. É fácil entender a importância dada à prova quando se analisa a paixão que tem tomado o povo, além da oportunidade financeira que tem incentivado o governo.

No terceiro dia de 2015, cerca de um milhão de pessoas foi às ruas de Buenos Aires para acompanhar o evento que marcou o início do Rally Dakar. De fãs veteranos de automobilismo a famílias com crianças pequenas, o público ficou sob sol forte e temperatura na casa dos 35ºC durante quase sete horas.

No início do dia, o público pôde comparecer a um centro de exposições a cerca de 40 minutos do centro de Buenos Aires, onde estavam todos os 414 veículos. A entrada era gratuita, e alguns pilotos estavam à disposição também para conceder autógrafos. Milhares de pessoas já compareceram a esse primeiro evento, mas a concentração foi maior quando os carros, motos, quadriciclos e caminhões começaram a deixar o local, em direção à Casa Rosada.

O público foi tomando as ruas no percurso dos veículos, formando um corredor humano pela capital argentina. Chegando às proximidades da Casa Rosada, os competidores aguardavam para serem apresentados, um a um, subindo uma rampa. Lá, todos os 665 competidores, entre pilotos e navegadores, foram entrevistados pela organização do Dakar e saudados pelo público que assistia à largada.

Há uma semana, no domingo (4), os veículos começaram a primeira etapa, deixando Buenos Aires em direção a Villa Carlos Paz. Nos últimos dias, passaram por diversas paisagens, áeras áridas e desertos, na Argentina, no Chile e na Bolívia. A partir da próxima terça-feira (13), começarão o retorno para a Argentina, e terminarão a prova novamente em Buenos Aires.

Migração

A ideia do Rally Dakar surgiu em 1977, quando Thierry Sabine se perdeu com sua moto no deserto da Líbia, enquanto disputava um rali. Voltou para Paris fascinado pela paisagem africana e compartilhou sua experiência com outros pilotos. Surgiu a ideia da prova, saindo da Europa e terminando na cidade de Dakar, capital do Senegal.

A primeira corrida foi em 1979, em Paris, mas após 35 anos, por razões de segurança, o Dakar teve de mudar. Autoridades francesas descobriram ameaças terroristas contra o rali, e a edição de 2008 foi cancelada. No ano seguinte, a competição veio para a América do Sul, e foi disputada na Argentina e no Chile. Desde então, o Dakar permaneceu por aqui, e a largada não foi na Argentina apenas em 2013.

Os números de 2014 deixaram claro que o evento se consolidou: o público chegou a 3,9 milhões de pessoas, sendo 2,5 milhões na Argentina; um milhão no Chile e 410 mil na Bolívia. A largada, realizada na cidade de Rosário, reuniu cerca de um milhão de pessoas, assim como neste ano.

E as cifras também comprovam a popularidade do Dakar. Conforme passou por esses três países em 2014, o Dakar promoveu um impacto econômico de US$ 252 milhões (cerca de R$ 665 milhões). Não à toa, o ministro do Turismo da Argentina, Enrique Meyer, definiu o Dakar como “o evento turístico mais importante da história” do país. “Representa uma nova oportunidade de promover nosso país em todo o planeta. Uma possibilidade renovada de usar o turismo como ferramenta de transformação social para fortalecer o desenvolvimento das economias regionais”, afirmou Meyer.

“O Dakar é pura ação para os pilotos, os organizadores, o público. Mas também para as grandes cadeias de hotéis e para o pequeno empreendimento familiar que oferece alojamento ou comida no percurso da corrida”, lembrou o ministro argentino.

Tradição no país

A tradição do automobilismo na Argentina ajuda a explicar por que o público abraçou tão rapidamente o evento. O país é o único da América Latina que recebe uma etapa do Campeonato Mundial de Rali (WRC). O Rally Argentina foi disputado pela primeira em 1980, e desde então só não ocorreu em 1982.

Atualmente, é realizado perto de Villa Carlos Paz, na província de Córdoba, por onde inclusive o Rally Dakar passou no início do percurso deste ano. Em outros anos, o Rally Argentina já ocorreu em Tucumán e San Caros de Bariloche, e em 2007 teve até uma seção realizada no estádio de futebol do River Plate.

País do pentacampeão da Fórmula 1 Juan Manual Fangio, a Argentina sonha em sediar novamente a categoria. No ano passado, com a estreia da MotoGP, o governo manifestou sua vontade e o chefão da F1 Bernie Ecclestone afirmou que o interesse era mútuo. “Quando encontrarmos pessoas sérias, vai acontecer”, disse na ocasião.

*a repórter viajou a convite da Honda