Piloto já atuou no Iraque, no Haiti e hoje comanda helicópteros do Dakar
Ele já transportou armas químicas e bacteriológicas durante o regime de Saddam Hussein, foi soldado no Haiti da Organização das Nações Unidas (ONU), e hoje trabalha no Rally Dakar 2015, sem se separar de seu helicóptero. Mauricio Neira é um piloto veterano, com 20 anos de experiência. A bordo de sua aeronave, sobrevoa diariamente os trajetos do rali no Delta do diretor do Dakar, Etienne Lavigne.
Com seu cabelo bagunçado e camisa desabotoada, Neira é o chefe da equipe dos 15 pilotos de helicópteros do Dakar. Com mais de 61 mil horas de voo, o currículo de Neira inspira respeito. Mas ele nunca se leva a sério, como mostram os adesivos de seu capacete: na frente, um robô da saga de filmes Transformers; atrás, um Minion, personagem do filme Meu Malvado Favorito.
“Comecei como piloto de caças, nas Forças Aéreas chilenas”, explicou à AFP. “Mas mudei rapidamente para os helicópteros, e assim fiquei”. Neira foi para o Iraque em 1998, com uma missão de inspeção da Comissão Especial das Nações Unidas. “Estávamos na base de Al Rasheed, perto de Bagdá, e fiquei lá por quatro meses”, relembra.
Três anos depois, foi para o Haiti como um “casco azul”, termo usado para chamar os militares que colaboram com a ONU. “Ali atiravam na gente, é muito mais perigoso do que no Iraque”, afirma. De volta ao Chile, se tornou o piloto pessoal de Michelle Bachelet, hoje presidente do país, quando ela era ministra da Defesa, de 2002 a 2004.
Depois disso, Neira decidiu deixar entrar no exército e entrar em uma empresa privada, onde é instrutor e piloto. Não comanda mais um Black Hawk Sikorsky norte-americano, mas pilota um Eurocopter Ecureuil francês, e sobrevoa o Rally Dakar desde 2009, quando o rali passou a ser realizado na América do Sul.
Resgate e operação logística
“A primeira vez é realmente aterrorizante”, lembra Neira. “Como voar mais alto, mais baixo, onde aterrissar… Tudo isso é realmente especial”, descreve. Durante uma etapa agitada do Dakar, pode chegar a pousar 40 vezes, sem contar os momentos em que transporta um fotógrafo ou o diretor Etienne Lavigne, ficando a um metro do solo.
Com os anos, Neira e Lavigne se aproximaram. “Agora entendo o que ele quer e isso o tranquiliza. Mas é preciso separar as coisas”, avisa. “Quando estou voando, sou o piloto, não mais o amigo, e se eu digo ‘não’, é ‘não’”.
Algumas intervenções do helicóptero Delta podem ser perigosas. Em uma etapa do Dakar de 2013, entre Salta e Tucumán, na Argentina, dois motoristas estavam presos na cheia de um rio, a 2.400 m de altura. “Resgatamos os dois com o helicóptero, e depois transportamos suas motos por cima do rio, com um gancho”, relata.
No Rally Dakar desde 2009, Neira só perdeu a edição de 2012, quando sua empresa não foi contratada pela organização da prova. Os quinze dias de duração das competições às vezes lembram o piloto do exército. “O Dakar requer uma logística mais do que militar”, explica, sorrindo. A única diferença é que, durante a corrida, ele não se limita a pilotar. “A bordo do helicóptero, sou o piloto, a aeromoça dos passageiros VIP, o mecânico… Mas pelo menos ninguém atira aqui!”, brinca.
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