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Sobrinho de Barrichello se destaca no kart aos 9 anos e sonha com F1

Camila Mamede e Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

23/03/2015 06h00

Os parques da Disney, nos Estados Unidos, atraem milhares de crianças todos os dias. Felipe Bartz, de 9 anos, não costuma entrar nessa conta. Enquanto seus irmãos passam os dias nos famosos brinquedos, ele prefere ficar em outra atração de Orlando: um kartódromo. Foi nessa pista que venceu as quatro corridas de uma etapa do Florida Winter Tour, uma das principais competições norte-americanas de kart.

Neste fim de semana, Felipe disputou a terceira e decisiva rodada, e saiu como vice-campeão de seu primeiro campeonato internacional. Atual campeão na categoria Micro-Max Rotax da Copa São Paulo KGV, o jovem piloto começa a chamar atenção não apenas pelos bons resultados, mas também por ser sobrinho de Rubens Barrichello. Embora use o sobrenome do pai nas corridas, seu parentesco é conhecido no circuito de kart, e ele já demonstra semelhanças com o tio.

Após participar de um treino com chuva, no kartódromo da Granja Viana, em São Paulo, Felipe já fala como um piloto experiente, e acredita que herdou do tio a habilidade de guiar bem no clima adverso. "Eu me adapto mais para a pista, sou mais rápido na chuva", afirma ao UOL Esporte. Com seriedade, sabe descrever os equipamentos de segurança que utiliza antes de correr, e faz questão até de mostrar os patrocinadores em seu macacão.

"Normalmente, eu gosto de ficar no kart nos últimos cinco minutos antes da corrida, pensando no que eu vou fazer para a corrida... Eu não gosto de ficar brincando e no último segundo colocar tudo e já ir para a corrida. Isso já aconteceu, mas... não gosto", conta sorrindo. A declaração resume como os pais têm lidado com o interesse do filho: não querem colocar pressão no filho e, por enquanto, esperam apenas que ele se divirta.

"Eu acredito que mais para frente a gente vai conseguir saber se isso é um futuro", explica a mãe, Renata Barrichello. "Mas até agora, sem pressão nenhuma, ele vem para se divertir. Quando ele não quiser mais, ele para a qualquer momento", avisa. O pai Christian acredita que os resultados dos próximos anos ajudarão a definir se Felipe seguirá ou não a carreira no automobilismo.

Por enquanto, uma das preocupações da família é em manter os estudos de Felipe em dia. Ele só pôde disputar as etapas nos Estados Unidos porque não tinha aulas nos dias das corridas. "Escola vem em primeiro lugar. Ele me provou que não teria aula a semana inteira e eu falei 'Tá bom, então eu levo'", conta Renata, que também se lembra do apoio que seus pais deram para que o irmão demonstrasse seu talento. "É importante, eu sei, ele conquistou o espaço dele. Então eu levo isso em consideração, penso em como meus pais fizeram com o meu irmão".

O sobrenome Barrichello
Mesmo que a família não pressione Felipe por resultados, o parentesco com o tio torna a situação inevitável, segundo Renata. "Eu achei que não precisaria colocar Barrichello para não ter essa pressão por resultado, de estar no sangue e ter que virar. A gente deixou ele andar sem, e agora ele é conhecido como Felipe Bartz. Mas muita gente já sabe, não tem jeito, a pressão acaba que volta", afirma.

O tio também foi o responsável, mesmo que indireto, por Felipe começar a correr. "A gente sempre veio para as pistas ver o meu irmão. E quando o Felipe via as corridas de 'gente grande', eu falava que criança não podia correr. Muito mais para ele não se entusiasmar e querer começar a correr", lembra Renata.

Aos 4 anos de idade, veio o pedido para correr no kartódromo de Orlando, nos Estados Unidos. Renata pensou que ele andaria pouco, apenas durante as férias, e não viu problema. "Aí, uma vez, em uma prova de 500 Milhas no Kartódromo da Granja Viana, ele viu que tinha cadete [categoria de 8 a 10 anos] correndo. E falou 'Mamãe, criança pode correr!' E aí não teve mais jeito, tive que deixar ele começar a treinar", conta.

Toda a família de Felipe se envolve com os treinos e corridas. As primeiras voltas de kart foram junto com o pai, que pilotava, embora o filho já quisesse independência. "Eu sempre quis andar sozinho, só que eu tinha que achar o traçado", explica Felipe. Hoje, Christian ajudando como pode, passando instruções e dicas com gestos quando o filho completa uma volta.

Renata, que convive no mundo do automobilismo desde criança, quando acompanhava o irmão, também ajuda bastante o filho, mas sofre assistindo às suas corridas. "A vida era muito mais fácil quando eu vinha com o meu irmão. Eu fico muito mais nervosa e aflita em ver ele correndo, torço para que ninguém se machuque, que ninguém tire ele da corrida para que ele possa fazer o que ele sabe. Isso é o que eu mais torço", afirma.

Felipe ainda divide as pistas com um dos primos, filho de Barrichello, que tem idade semelhante e corre na mesma categoria. Apesar de serem amigos, eles competem a sério quando é preciso, segundo Renata. "Eles sempre treinaram juntos e um aliviava para o outro. Mas quando é uma corrida, um ultrapassa o outro para sair na frente, para ganhar... Acho que nenhum dos dois alivia porque é primo, não", conta rindo.
 
Ídolos
Felipe já assistia às corridas do tio na Fórmula 1 quando era bebê, no colo da mãe. Mas cresceu dividindo a torcida também pelo xará, Felipe Massa. "Ele torcia para os dois. Até porque os melhores resultados na época eram do Felipe. E o Felipe também é sempre muito carinhoso, amigo, liga para ele... Mas ele torcia para os dois, com certeza. Para o tio não dá para deixar de torcer, né?", brinca.

Felipe continua acompanhando Barrichello na Stock Car, e conta orgulhoso que também é amigo de pilotos da categoria como Thiago Camilo e Ricardo Maurício. Mas seu maior ídolo no automobilismo corre na Nascar: Jeff Gordon. O campeão o inspirou inclusive na escolha do número do kart, 24. A mãe avisou que os amigos poderiam fazer brincadeiras, mas Felipe não se importa. "Você já ouviu falar no Jeff Gordon? Ele é quatro vezes campeão da Nascar!", defende empolgado.

Com tantos ídolos e gostando tanto de correr, a resposta para a famosa pergunta "O que você quer ser quando crescer?" não é surpresa. Felipe quer ser piloto, mas às vezes ainda fica na dúvida entre a Fórmula 1 e a Nascar de Jeff Gordon. Mas dá uma pista com o sorriso que abre ao contar um detalhe: "Eu tenho uma foto no meu quarto, onde está escrito 'Futuro F1'".