Por política, brasileiro campeão da F-3 britânica deixa Europa e mira Indy
No final de 2016, o brasileiro Matheus Leist vivia o auge de sua breve carreira no automobilismo. Campeão da renovada Fórmula 3 britânica, testou na GP3 pelas equipes Arden e Trident - segunda e terceira colocadas entre os times na temporada. No entanto, no começo de 2017, surpreendeu: a exemplo do que fizeram nomes como Helio Castroneves e Tony Kanaan, deixou a Europa e foi para os Estados Unidos, onde corre desde o início do ano compete na Indy Lights.
A reviravolta, porém, é um passo planejado na carreira do jovem piloto gaúcho, de 18 anos. Diante das exigências políticas e financeira do automobilismo europeu, preferiu ocupar um assento da Carlin, tradicional escuderia inglesa, para disputar a categoria de acesso à Fórmula Indy.
"A gente fez uns treinos bons (na GP3), uns treinos positivos. Mas, pensando na minha carreira, eu via mais oportunidades nos Estados Unidos", contou Leist em entrevista ao UOL Esporte.
No automobilismo americano, pesou o suporte dado a jovens pilotos pelo programa Road to Indy. Nele, os competidores que vão subindo nas categorias de acesso (USF2000, Pro Mazda Championship e Indy Lights) recebem uma espécie de bolsa para correr nas séries acima, até que cheguem à Indy - cuja trajetória já é financeiramente menos exigente.
"Na Europa, a GP3 e a GP2 (chamada de Fórmula 2 a partir de 2017) não te proporcionam isso. Se eu fosse campeão da GP3, teria que pagar para correr na GP2 e assim por diante", contra o brasileiro, que vive um momento "um pouco complicado" em relação a patrocinadores, "até pelo fato de o Brasil estar se recuperando um pouco". "Tenho ajuda da equipe, eles me ajudam em certas questões", explicou.
Mas não foi só isso que levou Matheus Leist para os Estados Unidos. Na Europa, as categorias de base são terreno fértil para programas de desenvolvimento de pilotos em projetos voltados à Fórmula 1 - Mercedes, Renault, Red Bull e Ferrari, por exemplo, contam com tais projetos, que envolvem equipes e categorias abaixo da F1.
Para Leist, tal planejamento deixou o acesso no automobilismo europeu "muito político".
"Acho que os programas de desenvolvimento mudaram muito", analisou. "Tudo envolve dinheiro hoje em dia. Na maioria dos programas, tu tem que pagar, e isso não é o certo. Praticamente 90% (dos pilotos) pagam para entrar nos programas da Red Bull. Nos da Ferrari, ou tu é muito conhecido, ou tu paga", completou, em tom de crítica.
Ainda assim, Leist reconhece a importância de programas de desenvolvimento de jovens pilotos. "Hoje, um dos poucos programas que pega piloto bom é o da Renault. Hoje, seria o melhor", diz o gaúcho.
O caminho aos EUA
No automobilismo americano, Matheus Leist encontrou um cenário inédito. Pistas onde jamais havia corrido, adversários pouco conhecidos, e um carro novo. No entanto, a adaptação ao carro da Indy Lights acabou surpreendendo o brasileiro, justamente por trazer semelhanças com os que havia testado na GP3.
"A maior diferença é que o carro é um conjunto inteiro maior e mais forte que os carros que eu guiei até então. Ele é um carro bem grande. Quando tu chega, tu olha para ele e se impressiona", afirma, detalhando o novo carro. "Ele é comprido, tem freios grandes, asas grandes. É um carro bem legal. Tem bastante grip, faz curvas superbem e tem um motor bom. É um conjunto super legal."
De resto, tudo é muito novo na vida de Matheus nos EUA. E ele mesmo reconhece que o começo "está sendo um pouco difícil". Na primeira etapa da Indy Lights em 2017, rodada dupla em St. Petersburg, ficou em 15º e 11º.
"Conhecia a equipe - a Carlin é inglesa e eu corria na Inglaterra. Mas não conhecia as categorias. Nunca tinha visto um Fórmula Indy, nunca tinha andado em nenhuma pista. Por esses fatores, está sendo um pouco mais difícil", conta. "Por outro lado, eu já sei como se trabalha com os ingleses."
As principais novidades do ano, porém, ainda estão por vir. Na temporada, Matheus Leist correrá pela primeira vez em um circuito oval. Em 2017, a Indy Lights terá provas em três deles: Indianápolis (26 de maio), Iowa (9 de julho) e Illinois (27 de agosto). Por enquanto, o brasileiro fez apenas um treino nesse tipo de pista, e achou "bem legal".
"É uma coisa diferente de tudo que eu tinha feito na vida. É bem mais técnico do que parece. Às vezes, tu está olhando na TV e pensa: 'é só acelerar tudo'. Que nada, é bem técnico, as linhas mudam muito. É bem diferente e legal", explica.
O futuro? EUA, sim; Europa, talvez
Embora tenha planos traçados para a Fórmula Indy nos próximos anos, Matheus Leist não descarta a volta à Europa - em especial, de olho em uma vaga na Fórmula 1. Para isso, porém, quer chegar à elite na Indy e brilhar.
"Nunca descartei tentar a Fórmula 1, mas, no momento, meu foco é ser campeão de Indy Lights. A ideia é entrar na Indy. Se eu conseguir bons resultados jovem, acho que a partir dali, consigo", explica Leist, ciente do obstáculo financeiro que terá que superar se quiser voltar a correr nos monopostos europeus.
"É difícil, hoje em dia, chegar à Fórmula 1 no talento. Se tu ver no passado, isso acontecia bastante; hoje, se não tiver um caminhão de dinheiro, tu não vai a lugar nenhum", completa.
E o Brasil? Retornar está nos planos? Correr na Stock Car é uma possibilidade a curto prazo? "Nenhuma", resume o gaúcho.
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