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Qual a diferença entre o público que assiste no autódromo F-E e F-1?

Fãs assistem a corrida da Fórmula E por telão em Hong Kong - Julianne Cerasoli
Fãs assistem a corrida da Fórmula E por telão em Hong Kong Imagem: Julianne Cerasoli

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Londres (ING)

23/03/2019 04h00

Um grupo de adolescentes, todas mulheres, circula na área dos estandes dos patrocinadores. Ao seu lado, pais acompanham a corrida pelo telão enquanto seu bebê dorme tranquilo no carrinho. E crianças um pouco maiores fazem fila para andar nos simuladores. Fila para comprar cerveja? Nenhuma. O bar está quase às moscas.

Nem parece um evento de automobilismo, mas é a realidade na Fórmula E, categoria que busca conquistar fãs, não acostumado às corridas da F-1. O objetivo de atender ao público mais jovem foi atingido em cheio ao menos na etapa de Hong Kong, acompanhada pela reportagem. O público não poderia ser mais diferente daquele que acompanha, por exemplo, a Fórmula 1 em Interlagos: são famílias, na maioria locais, e grupos de amigos jovens com proporção semelhante entre homens e mulheres. Já a categoria mais tradicional atrai em sua maioria homens com mais de 35 anos.

    Como a F-E ainda está criando sua identidade de base de fãs, são vários os atrativos de cada etapa. O primeiro deles é o preço. Para a prova de hoje (23), em Sanya, na China, como se trata de um resort de luxo, o valor dos ingressos está entre os mais caros das provas, começando em cerca de R$ 625 - algo compatível ao cobrado pelo setor mais barato do GP Brasil de F-1. Porém, em provas como no México, o ingresso comprado por antecipação não sai mais do que R$ 20.

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    A grande reclamação dos fãs de automobilismo em relação à categoria E é a falta do ruído, uma vez que os motores são totalmente elétricos e soam mais como uma disputa de pods de Star Wars do que carros de corrida. Para quem comanda o campeonato, agora em sua quinta temporada, esse incômodo está longe de ser uma preocupação. "Estamos dialogando com um público que já vai crescer sem essa ideia de que carro tem que fazer barulho na cabeça. Para o nosso público, carros elétricos vão ser o padrão", explica o CEO da Fórmula E, Alejandro Agag.

    Massa Fórmula E - Julianne Cerasoli - Julianne Cerasoli
    Fãs cercam carro de Felipe Massa minutos antes da largada
    Imagem: Julianne Cerasoli

    Na tentativa de garantir a melhor experiência possível e fazer com que o espectador eventual se interesse pela categoria, a estratégia da F-E é exatamente oposta à da F-1, que aposta na exclusividade. Tanto que, mesmo recebendo muito menos público em suas corridas, os grids são lotados e não há, como na F-1, separação entre os carros e público. Ou seja, dá até para arriscar tirar uma selfie com o piloto favorito minutos antes da largada, caso consiga localizá-lo em meio à muvuca. Em Hong Kong, por exemplo, havia tanta gente no grid que os fiscais de pista só conseguiram tirar todo mundo com menos de um minuto para a largada.

    Segundo os organizadores, as pessoas que ganham acesso ao grid geralmente são convidados das montadoras, algo que seria muito raro na Fórmula 1. Além dessa proximidade dos carros, a grande maioria ainda ganha um dos 100 passes para o "Emotion", uma zona VIP com telões e diversas opções de comida e bebida - tudo de graça.

    O fato da maioria das provas ser realizada em um dia também ajuda o público menos familiarizado às corridas a comparecer. Exceção para a decisiva, em Nova York.

    "Bandejão" e estrutura compacta

    Como tudo na Fórmula E é pensado para ser o mais sustentável possível, saem as estruturas de boxes e entram tendas que são transportadas pelos organizadores, junto dos carros e todo o material das equipes, de maneira mais ecologicamente responsável. Sempre que possível, como nas duas semanas entre as etapas de Hong Kong e Sanya, a F-E "viaja" de navio. Além da questão do transporte, o esquema enxuto também diminui o impacto na cidade que recebe o evento - menos de 24h depois da etapa de Hong Kong, toda a estrutura estava quase completamente desmontada.

    Em vez de cozinhas comandadas por chefs em cada um dos motorhomes das equipes, a F-E carrega uma tenda de alimentação durante toda a temporada e por 12 países. De pilotos a mecânicos, todos comem por ali, no melhor estilo bandejão.

    Sanya é a sexta etapa da quinta temporada da Fórmula E, que conta com quatro pilotos brasileiros no grid: Lucas Di Grassi e Nelsinho Piquet estão na categoria desde seu início, e Felipe Massa e Felipe Nasr se juntaram a eles neste campeonato. O Brasil é um dos mercados prioritários para a expansão da categoria, e deve receber uma etapa em 2020, provavelmente em Belo Horizonte.