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Piloto morto aos 26 anos estava noivo de médica e era líder da nova geração

Tunico Maciel, durante o Sertões 2020 - Marcelo Maragni
Tunico Maciel, durante o Sertões 2020 Imagem: Marcelo Maragni

Beatriz Cesarini e Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

10/11/2020 04h00

Quem teve a chance de conhecer Tunico Maciel, que morreu ontem (09) depois de sofrer um grave acidente durante prova do Rally dos Sertões em São Luis (MA), não economiza elogios ao talento do bicampeão brasileiro de 26 anos de idade. O piloto da Honda Racing era uma das promessas da modalidade e líder de uma nova geração de competidores.

Tunico não resistiu aos ferimentos depois de sofrer grave queda após 62km da largada da competição de 223 km no Maranhão. Ele foi levado ao hospital, mas os médicos declararam a morte encefálica do piloto.

Mineiro, Tunico é definido por todos que falam sobre ele como um jovem talentoso e muito carismático. Brincalhão, vivia cada minuto de seu trabalho - que nem parecia trabalho para ele - desde o início nas montagens de estruturas para as competições, carregando caixas até o momento de subir em sua moto e fazer o que mais gostava: acelerar.

Só uma coisa ganhava do esporte no ranking das coisas mais amadas por Tunico, a família. Nas redes sociais, a moto divide espaço com os cliques ao lado principalmente da noiva Stella Pádua, médica. Em uma das mensagens trocadas por eles, os dois estão pedalando na natureza e Tunico brinca que a noiva está "cada dia mais bruta" em referência ao esporte no meio da mata, sem espaço para grandes vaidades. Ela respondeu que foi incentivo dele. "Você me incentiva".

Tunico maciel - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Tunico Maciel e a noiva Stella
Imagem: Reprodução/Instagram

Ele incentivava mesmo. Foram nove anos acelerando as motos nos rallys, cinco na Honda Racing, atual equipe. É considerado o primeiro da nova geração de pilotos e o "professor da molecada". Ganhou dois campeonatos brasileiros dos Sertões (2019 e 2018).

"É muito ruim saber que não teremos mais o Tunico com as brincadeiras dele, com a nossa diversão do dia a dia. Eu torcia demais pelos resultados dele. Uma pessoa incrível, era o meu vizinho de quarto no motorhome. Estava toda hora ali, um ao lado do outro", comentou Bissinho Zavati, amigo e companheiro de equipe de Tunico.

"Eu perdi um filho, um menino que conheci e vi que tinha potencial. Muito mais do que eu imaginava. Sobre o piloto Tunico, o que tenho a dizer é que ele foi muito dedicado, buscava sempre melhorar em tudo, um guerreiro, um campeão. Não foram à toa todos esses títulos conquistados na carreira. Sobre a pessoa Tunico, um cara apaixonado pela vida, família e amigos", disse Dário Júlio, chefe da equipe Honda Racing.

Letícia Datena, repórter dos Sertões, que cobria a prova no momento do acidente, ressaltou a união de todos para ajudarem Tunico na hora do acidente. "É um esporte que envolve riscos, todo mundo que participa se prepara muito bem para poder minimizar esses riscos, mas eles estão aí. Como pessoa que ama o automobilismo e off road, eu conheci o Tunico virou um herói para mim em pouco tempo. Toda a categoria de motos que parou lá para socorrer também. Essa solidariedade faz parte do espírito do rally".

Foi justamente um "rival" o primeiro a socorrer Tunico na hora do acidente, Ricardo Martins, da Yamaha, que encontrou o amigo após a queda e ganhou o título da prova ontem. "Toda a alegria do título foi apagada. Um grande amigo meu, a rivalidade ficava dentro das especiais, nos respeitávamos. A nossa última disputa no Sertões foi muito limpa, muito respeitosa".