Contratado pela Disney, Lugano divide nova fase com corridas de moto
Anunciado ontem como o novo reforço da equipe de comentaristas dos canais ESPN e Fox Sports, o ex-zagueiro Diego Lugano não vai deixar a prática de esporte de lado. Aposentado dos gramados desde 2017, o ex-capitão do Uruguai e ídolo do São Paulo agora se arrisca também nas corridas de moto.
A estreia de Lugano na motovelocidade aconteceu nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2021. O uruguaio disputou, em equipe de quatro integrantes, a R3Horas (motos 300 cilindradas), com duração de 3 horas e 21 minutos, no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Goiânia. Um cenário diferente, mas com sensações que ele conhece bem.
"São expectativas diferentes [futebol e motovelocidade], mas a emoção, a adrenalina e tudo o que o corpo desperta é muito similar. Eu acho que o atleta fica viciado neste tipo de emoção e sensações que só o esporte proporciona. Quando você não acha em um lugar, procura em outro. É algo químico, biológico", destacou o ex-zagueiro de 40 anos ao UOL Esporte.
Satisfeito por ter finalizado a corrida, apesar de sua equipe ter ficado na 24ª colocação, Lugano está se aventurando em coisas que o futebol, até poucos dias atrás, o impedia de praticar. Mas ele não consegue se desprender dos esportes. É um paradoxo na vida do ídolo são-paulino, que, livre da pressão de um cargo administrativo de um clube como o São Paulo — ele foi diretor de relações internacionais de 2018 até o início deste ano —, não quer abandonar a vida de atleta.
"Depois de cinco anos, sair um pouco da rotina de um clube imenso como o São Paulo, que sempre exige o máximo de resultado, de disposição, de cobrança, como tem que ser. Tudo tem um ciclo e foi bom para mim. Estou desfrutando um pouco dessa liberdade, de não ter que depender tanto do resultado, futebol é assim. Depende de ganhar para você conseguir sair de sua casa, sair para ir à esquina, na padaria. Futebol nesta parte é complicado. Estou curtindo [a nova fase]."
Como Lugano foi parar em corrida de moto
Não foram poucos os que se surpreenderam quando Lugano apareceu acelerando em alta velocidade sobre duas rodas. Afinal, em comum com a vida de jogador de futebol só havia o número 5 — antes usado nas camisas, e agora estampado na moto.
Foi por intermédio de Édson Barreto, o Edinho Picoloko, que Lugano entrou nas pistas. São-paulino, o piloto conheceu o ídolo por meio de seu cunhado.
"Tudo começou quando nos conhecemos [em janeiro de 2020]. Contei para ele que era piloto de motovelocidade e ele me disse que sempre gostou de moto, mas não podia andar por causa da sua profissão e contratos. Levei ele para assistir a uma corrida minha e, após ele sair do São Paulo, me pediu para ensiná-lo a andar. Aí surgiu a oportunidade da Endurance R3Horas", explicou Edinho.
De fato, Lugano já alimentava o gosto por motos há muito tempo. Os riscos e a dedicação à vida de jogador, no entanto, o impediam de se aventurar em uma nova experiência.
"O bom de parar de jogar [futebol] é que você pode fazer outras coisas ou, na verdade, mostrar e externar sem medo muita coisa que a gente fazia ou deixava de fazer por conta da profissão. Algumas vezes já havia brincado de moto, mas a experiência de corrida eu nunca havia tido. Tinha uma promessa com a turma do Picoloko, de que quando eu saísse do São Paulo eu ia me entrosar com eles em uma corrida e experimentar as sensações e emoções de um novo esporte, conhecer e compartilhar todo o ambiente tão específico que cada esporte tem", disse o ex-zagueiro.
E engana-se quem pensa que Lugano sofreu ao subir em cima da moto. O uruguaio contou com o suporte dos amigos e superou até o cenário adverso de chuva para cumprir o desafio.
"Ele me surpreendeu. Fizemos alguns treinos e ele, muito dedicado, pegou logo o jeito", contou Edinho. "Foi muito bem no fim de semana [da corrida], conseguiu baixar seu tempo em 22 segundos. Pegou o pior cenário para um piloto, que foi andar na chuva sem muita experiência, e mesmo assim a cada volta vinha diminuindo o seu tempo."
Túnel do estádio e saída dos boxes: dá para comparar?
A ansiedade que domina um jogador de futebol minutos antes de um jogo importante, com estádio lotado pode ser vista no túnel de entrada ao gramado. Ali, geralmente inquietos, os atletas demonstram nervosismo por conta do desafio que vem pela frente. Para Lugano, dá para comparar, sim, a adrenalina do túnel do estádio com a saída dos boxes, em acesso à pista.
"Quando você está entrando na corrida, saindo dos boxes, tem muito da adrenalina de quando chega no túnel [do vestiário] ou quando entra no estádio. E você tem toda aquela ansiedade, toda a expectativa de não saber se vai dar conta do recado, o que vai acontecer", afirmou.
A experiência no futebol, de certa forma, até segurou o medo em cima da moto. "Acha que eu nunca senti medo jogando bola? [risos]. Em um jogo importante, em um momento de tensão e insegurança. E às vezes o medo serve para te proteger. Você se protege estando muito mais ligado, tentando não cometer erros, tentando assimilar melhor as atitudes. Não muda muito do que eu fazia como zagueiro. Em cima da moto, obviamente, não tenho a experiência e agilidade de um garoto, então ia no meu ritmo, tomando as precauções e curtindo as sensações do meu jeito."
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