Futebol Bandido: Caso Daniel - Ep3: "Qualquer homem faria"
Do UOL, em São Paulo
01/09/2020 04h00
No terceiro episódio da segunda temporada do podcast Futebol Bandido, Edison Brittes gravou um vídeo admitindo ter assassinado Daniel para, segundo ele, "defender a honra" de sua mulher Cristiana Brittes. Os advogados de Juninho, Cris e Allana tentam provar que se tratava de uma família normal e trabalhadora e que o próprio jogador contribuiu para a tragédia. No dia do crime, testemunhas relatam o espancamento e os últimos minutos de vida do atleta do São Paulo.
Sempre às terças, os repórteres Adriano Wilkson e Karla Torralba vão contar a história do assassinato do jogador do São Paulo Daniel Corrêa. Serão seis episódios no total. O primeiro (E1.T2: Um corpo é encontrado com cortes no pescoço e só de camiseta) mostrou como o corpo de Daniel foi encontrado e o início das investigações da polícia, que ficou surpresa com a violência do crime e com a identidade da vítima. O segundo (E2. T2: "Me diz que é mentira"), mostrou como Daniel foi brutalmente assassinado após o aniversário da amiga Allana Brittes e revela quem assumiu a culpa: o próprio pai de Allana.
Você pode ouvir o terceiro episódio no player acima ou ler o roteiro na íntegra abaixo. Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts e em todas as plataformas de distribuição. Você pode ouvir Futebol Bandido, por exemplo, no Spotify, na Apple Podcasts e no Youtube.
Futebol Bandido - Temporada 2: Caso Daniel
Episódio 3: "Qualquer homem faria"
Os aniversários de criança de Allana Brittes e da irmã, seis anos mais nova, eram simples. Na foto de um deles, Allana aparece em cima da cadeira de casa ao lado do pai, que segura a filha para que ela não caia. À frente deles, na mesa, um pequeno bolo cheio de velinhas. Não tinha docinhos à vontade, não tinha decorações de personagens infantis, bexigas, ou amigos ao redor da mesa. O sorriso de orelha a orelha no rosto de Allana era por estar do lado do pai, Edison, em mais um aniversário.
O cenário era a casa simples com uma geladeira ao fundo e o forro baixo da construção, que fica nos fundos da casa dos avós, também em São José dos Pinhais. Nem de longe a imagem lembra a comemoração dos 18 anos daquela mesma Allana. Desta vez, tudo foi preparado nos mínimos detalhes para uma festa especial em uma badalada boate de Curitiba. Essa outra foto, a mais recente, conta outra história. O pai Edison e a mãe Cristiana posam com a filha mais velha. Agora, a menina está entre os pais segurando um copo personalizado para a sua celebração.
Alguns dias depois de Allana completar 18 anos, Edison Brittes gravou um vídeo para tentar explicar o inexplicável: as justificativas e os motivos que o levaram a cometer um assassinato.
"O que eu fiz qualquer homem faria. Aquela ali não era a minha esposa, eram todas as mulheres do Brasil. Naquele momento era a minha esposa, a Cris, a mulher que eu me dediquei em 20 anos. A minha esposa nunca teve nada com o Daniel, muito menos a minha filha. Se eu fiz o que eu fiz eu quero que cada um reflita. O que vc faria pra manter a integridade moral de sua família? Eu evitei que minha esposa fosse estuprada por esse monstro canalha".
Eu sou o Adriano Wilkson. Eu sou a Karla Torralba. Na segunda temporada de Futebol Bandido, a gente traz detalhes do Caso Daniel e mostra como uma festa de aniversário se transformou no assassinato brutal de um jogador. Este episódio vai trazer relatos de violência sobre a morte de Daniel Correa. Eles podem ser fortes demais para algumas pessoas.
O local dos últimos minutos da vida de Daniel
O nome da cidade é uma homenagem ao carpinteiro que, na tradição cristã, é considerado o pai adotivo de Jesus. Por causa da profissão, São José virou o santo padroeiro de quem trabalha com madeira. E São José dos Pinhais é conhecida por seus pinheiros e suas fazendas de reflorestamento. Essa não é uma das cidades mais conhecidas do país, e nem da região Sul do país. Mas se você alguma vez já foi a Curitiba, é possível que tenha passado por lá.
"O aeroporto internacional Afonso Pena, localizado em São José dos Pinhais, é hoje considerado um dos melhores do Brasil, mas para voar alto nem é preciso embarcar pois algumas das mais modernas indústrias do país têm sede em São José dos Pinhais. A cidade tem mais de 2 mil indústrias instaladas. Muito do que se fabrica aqui ajuda a levar o nome de São José para o mundo".
Mas em outubro de 2018, o nome da cidade foi mais associado a outro fato marcante. Foi pra lá que se dirigiram a família Brittes e seus convidados depois da festa de 18 anos de Allana. Entre eles estava o jogador Daniel Corrêa. Pensa numa ruazinha simples, daquelas em que você poderia conversar sem levantar a voz com o vizinho que mora na casa da frente. Os carros passam devagar, sem pressa. Se existe algum risco nessa ruazinha, é o de ser mordido pelo cachorro que insiste em latir para forasteiros.
Um pouco mais para cima, um pet shop expõe na calçada casinhas para cachorros, caminhas para gatos e gaiolas para papagaios. Um pouco mais para baixo, a padaria e confeitaria Bahia vende chineque, o tradicional pão doce paranaense. E no meio dos dois estabelecimentos, um muro alto de ladrilhos azuis destoa da paisagem interiorana da ruazinha. Sobre o muro, dois leões brancos, feitos de algo parecido com mármore, guardam a entrada da casa. Essa é a casa da família Brittes. E esse é o cenário dos últimos minutos da vida de Daniel.
A família Brittes
Desde 2018, eu venho fazendo reportagens sobre o que ficou conhecido como o Caso Daniel. A história teve muita repercussão na época, principalmente pela forma como o jogador morreu. O corpo dele foi encontrado com a cabeça parcialmente degolada. E o órgão sexual não tinha sido cortado. Alguns dias depois da descoberta, Edison Brittes, pai da moça que tinha chamado Daniel para o Paraná, confessou o crime.
Durante todo esse tempo, o esforço da defesa era apresentar Edison Brittes como um pai de família trabalhador. Conhecido por parentes e amigos como Juninho, ele era descrito por eles como um homem de família que teve um ataque de fúria na ânsia de proteger a esposa Cristiana. Durante a apuração do caso, a gente recebeu um dossiê de 80 páginas com fotos da família Brittes antes do assassinato de Daniel. As imagens mostram os crachás usados por Edison e Cristiana nos empregos deles, aniversários em família, e nas festas de formatura das duas filhas. Os retratos mostram uma família comum, provavelmente como a sua e como a minha.
Futebol Bandido: Caso Daniel, episódio 3
Mas como uma família "comum" entrou no epicentro de um crime bárbaro desse?
Gessi Rodrigues: "Ele sempre foi um menino bom. Ele sempre trabalhou. Sempre assim".
Essa é Gessi Rodrigues dando um depoimento sobre a filha Cristiana, o genro Edison e a casa em que eles moravam em São José dos Pinhais.
"E minha filha também sempre trabalhou. A casinha que eles têm é obra do suor deles, que eles trabalhavam. Começaram a casa pequena e foram indo, indo. É uma casa humilde, do suor deles".
Edison Brittes, ou Juninho, conheceu Cristiana Brittes ainda adolescente. O jovem de 17 anos se encantou pela menina de 15 e eles logo começaram a namorar, com o apoio da família dela. Cris ficou grávida dois anos depois do início do relacionamento, e eles decidiram que era hora de casar. O casamento foi no estilo tradicional. Noiva de véu e grinalda, com vestido branco longo e encorpado. O noivo franzino com as espinhas ainda no rosto não disfarçava seus 19 anos. Nada de ostentação. Para sustentar a família, Edison trabalhava como metalúrgico e foi funcionário de grandes empresas do setor automobilístico. Cristiana também trabalhava fora. Por algum tempo, a família Brittes morou nos fundos da casa dos pais de Cris, Pedro e Gessi Rodrigues.
Edison Brittes deixou a carreira como metalúrgico para abrir um negócio próprio. Virou dono de uma loja chamada Gula, uma rede especializada em vender produtos próximos à data de vencimento. O jovem casal prosperou e a vida da família mudou.
Moto, carro e tiros para o alto
A gente foi mais de uma vez no bairro da família em São José dos Pinhais e conversou com vizinhos. Ninguém quis gravar entrevistas, mas a gente ficou sabendo que, na residência de muros altos, aconteciam festas que varavam a manhã. Edison gostava de reunir os amigos na casa, que tinha um local especial para isso, com churrasqueira, mesas e cadeiras. Ele colocou um apelido especial na própria residência: "A casa do Juninho Riqueza".
Em vídeos e fotos nas redes sociais, Edison mostrava gostar bastante de carros e motos. Ele tinha um Hyundai Veloster preto, que dirigia no dia do aniversário da filha, e uma moto Honda CBR-1000. Em uma foto no Instagram, ele e Cristiana aparecem uniformizados e montados na moto durante um evento de motociclistas. Quando os jornalistas e a polícia foram buscar mais informações sobre esses veículos, alguns detalhes estranhos surgiram. Nem a moto nem o carro estavam registrados no nome de Edison ou de Cristiana. A moto, por exemplo, pertencia a um homem condenado a 43 anos de prisão por tráfico de drogas.
Outras informações sobre a vida e os hábitos de Edison também colocaram em questão a imagem de normalidade que os advogados dele passavam. O empresário era amigo de policiais e gostava de atirar. Ele tinha uma arma em casa e a autorização para andar com ela quando ia para o clube de tiro. Mas Edison também costumava usar esse arma dentro de casa, e os vizinhos se acostumaram a ouvir tiros vindo do quintal dos Brittes. Segundo eles, Edison mandava bala para o alto por pura diversão.
Em uma dessas vezes, em janeiro de 2018, a polícia foi chamada por causa de um disparo, conforme um boletim de ocorrência que a gente encontrou. Cristiana Brittes disse aos policiais que teve um desentendimento com Edison, mas negou os disparos. O marido admitiu ter uma arma e mostrou um certificado de registro válido até agosto de 2018. Cristiana não quis denunciar o marido pela discussão, e o caso ficou por isso mesmo.
As relações perigosas da família Brittes
Apesar dessas estranhas descobertas, os advogados dos Brittes sempre se esforçaram para descrever a família como sendo comum. Edison era um trabalhador de origem humilde que venceu na vida depois de derramar muito suor. Ele gostava de se divertir com a mulher e com a filha porque todos eram jovens. Ele gostava de atirar, mas gostar de atirar não é crime. Ele gostava de ostentar motos e carros esportivos, mas ostentação também não é crime. O problema dessa narrativa são outros fatos mais graves.
Outro boletim de ocorrência veio à tona, esse de fevereiro de 2018. Ali está descrita uma discussão entre Edison e a própria mãe, Doralice Ferreira dos Santos. Segundo o BO, Edison chamou a mãe de "folgada que vive às custas dos outros". O motivo da briga teria sido dinheiro. A mãe tinha emprestado uma quantia pro filho investir em um negócio próprio, e Edison acabou não pagando na data combinada. Em depoimento à Justiça sobre o caso Daniel, Doralice acabou defendendo o filho e afirmou que o seu desentendimento foi usado pela imprensa apenas para prejudicar Edison.
As relações de amizade entre Edison Brittes e outras pessoas envolvidas com crimes também foram um tema central da cobertura. A gente descobriu, por exemplo, que Juninho tinha uma relação próxima com três policiais que são réus por um homicídio de 2015. Um deles, o delegado Rubens Recalcatti, parecia próximo também de Cristiana Brittes. Aqui está um trecho do programa Balanço Geral, da RIC TV, afiliada da Record, no Paraná.
Apresentador: "Qual a ligação entre o delegado xerifão Recalcatti e Edison Brittes?"
Recalcatti: "Cris, minha amiga especial, amiga do peito. Que Deus te abençoe, muitas vitórias na sua vida."
Edison Brittes Júnior também foi denunciado ao Ministério Público em 2015 por receptação de produto roubado, um carro Hyundai Sonata. O caso rendeu uma denúncia do Ministério Público em junho de 2018 por receptação dolosa, já que o MP considerou que Edison sabia que o carro era roubado quando recebeu o veículo. Segundo o advogado de Brittes, o cliente comprou o Sonata sem saber que ele era roubado. Mas a informação mais estranha e até hoje não explicada sobre as ligações ocultas de Edison Brittes surgiu quando a polícia foi rastrear o número de telefone que ele usava.
O número de telefone de Edison
Nos dias seguintes à morte de Daniel e antes de confessar o crime, Edison ligou para a família do jogador para prestar solidariedade e condolências. Quando investigou esse número, a polícia descobriu que ele pertencia a outro homem. E que esse homem estava envolvido com receptação de produtos roubados. E esse mesmo homem tinha sido morto por tiros de fuzil e pistola dois anos antes. Em uma reportagem de novembro de 2018, o Fantástico da TV Globo entrevistou o promotor João Milton Salles e o advogado Claudio Dalledone Junior, que falaram sobre o caso.
Tadeu Schmidt: "Edison Brittes, para os amigos, Juninho Riqueza. Para a polícia, o assassino confesso do jogador Daniel e um homem de relações suspeitas".
Um dos fatos que levantaram suspeitas das autoridades é que no dia do assassinato de Daniel, Brittes usava o telefone de outra pessoa, este homem, assassinado em 2016
Promotor João Milton Sales: "E este rapaz que foi executado tinha como atividade a receptação e adulteração de carros roubados".
Repórter: "O seu cliente informou como conseguiu esse chip?"
Dalledone: "Não informou".
Como Daniel chegou à casa dos Brittes
Além dessas relações que chamam atenção, os Brittes tinham outros conhecidos que acabaram ganhando destaque nessa história. São os convidados que continuaram a festa depois de sair da boate. Antes de a gente chegar neles, uma explicação de como o Daniel foi parar na casa dos Brittes. No dia 27 de outubro de 2018, ainda na boate Shed, surgiu um convite para os amigos continuarem a celebração do aniversário de Allana em sua casa. Por volta de 5h40 da manhã, a família deixa a boate.
Às 6h, Daniel caminha sozinho na calçada da casa noturna e vê pessoas conhecidas entrando em um carro de aplicativo. Um homem está prestes a entrar no banco de trás. Esse homem conversa com Daniel e eles sobem no veículo. Esse homem é Lucas Mineiro. Lucas Mineiro foi a primeira testemunha a falar com a polícia sobre tudo o que aconteceu naquela manhã. Ele afirmou que Daniel foi para a casa dos Brittes sem ser convidado.
Lucas Mineiro: "No momento que a Shed estava fechando, já era fim de noite, o pai dela nos convida, eu e mais um grupo de pessoas para que fosse a casa deles pra continuar a comemoração. Tudo bem, aceitamos, acertamos nossa conta na casa noturna e fomos pra frente da casa noturna pra chamar Uber, porque não estávamos de carro. Chamamos o Uber e nesse momento que chega o Uber, a Evellyn entra".
Evellyn Perusso é uma das amigas de Allana Brites. Ela tinha beijado Daniel na boate.
Lucas Mineiro: "No momento que eu estou entrando, o Daniel aparece. Ele não estava com a gente. Ele surge e pergunta 'pra onde vocês vão'. Eu falo que não cabe ele, que nem conheço e ele olha pra Evellyn e diz 'onde vocês vão' e a Evellyn fala 'pra casa da Allana'. Aí ele fala que vai junto. Ele entra no nosso Uber e acaba indo com a gente".
Quando chegam à casa dos Brittes, os convidados se espalham pela área de festas. Em vídeos publicados em redes sociais, é possível ver os jovens cantando, dançando e se divertindo nas primeiras horas da manhã. O depoimento a seguir é de uma testemunha considerada sigilosa no processo. Por razões de segurança, a Justiça proíbe que ela seja identificada. Mas esse rapaz, um dos convidados da festa, presenciou o início da mudança de comportamento de Edison Brittes naquela manhã. Aqui ele conversa com o promotor Marco Aurelio Oliveira. Nós silenciamos trechos que podem permitir a identificação da testemunha.
Testemunha: "O Edison saiu para comprar mais bebida e ficou 15 minutos fora".
Promotor: "O senhor lembra quem estava na casa de festa?"
Testemunha: "Eu, [trecho silenciado] Juninho, Mineiro, a Cristiana não estava, o Eduardo, a namorada dele. A gente ficou ali e o Edison saiu para comprar mais bebida. Ficou 15 minutos fora e voltou. Ele trouxe mais umas duas vodcas".
"Vai matar o piá, para de bater"
Quando Edison voltou para casa com mais bebida, uma festa que parecia normal se transformou na violência que resultou na morte de Daniel.
Testemunha: "Uma hora, eu estava entre a área de festa e o corredor, o Edison passou por mim e falou que ia pegar algo no quarto, para eu ir junto. Eu acompanhei ele. Quando ele abriu a porta da casa e tentou entrar no quarto e viu que estava trancada. Ele falou 'eu não deixo a porta trancada'. Ele deu a volta pela janela, que é baixa. Quando ele abriu a janela".
Promotor: "Você acompanhou..."
Testemunha: "Ele passou por mim e falou para eu ir junto. Na hora que ele abriu, eu comecei a escutar barulho de tapa e soco. Na hora que eu abri a janela, ele já estava sufocando o Daniel. com uma mão ele segurava e com a outra ele batia e falava 'o que o piá estava fazendo ali com a mulher dele na cama'. Nessa hora, ele olhou e viu que eu estava olhando e falou 'vai chamar o Vollero'. Nessa hora eu não tinha visto o Daniel na casa. Eu não me recordo dele. Quando eu olhei que estava batendo no Daniel, eu achei estranho, porque eu não tinha visto ele ali. Eu dei a volta e falei 'o pai da Allana está batendo em um piá dentro do quarto'. Eu falei para todo mundo que estava atrás. Está batendo num piá no quarto e eu nem sei quem é, tipo 'vamos ajudar a separar'. O Ygor saiu correndo e entrou no quarto e começou a bater junto e depois de uns 30 segundos desceu o Eduardo e David. Os dois entraram e os quatro começaram a bater. Quando eu fui chamar e voltei, a Cristiana já estava no sofá. E daí começaram a escutar batida. Eu entrei no quarto de volta ele pedia socorro, que não queria morrer. Nessa hora, eu entrei e falei 'vai matar o piá, para de bater'. Eles falaram para sair dali senão eu ia apanhar junto. Eu saí pra fora e todo mundo ficou ali fora".
A testemunha sigilosa continua o relato da sessão de espancamento de Daniel. No trecho a seguir, a gente omite o nome de outras testemunhas consideradas sigilosas pela Justiça, por razões de segurança.
Testemunha: "Deu uns 3 ou 4 minutos deles batendo, tiraram ele. Só de cueca e todo ensanguentado. Ele saiu só de cueca, que arrastaram ele. Jogaram ele para fora da garagem e continuaram a bater. A [nome silenciado] viu pingando sangue. A [nome silenciado] falou que ia chamar o bombeiro e o Edison falou 'desliga essa bosta que ninguém ia ligar pra ninguém'. A gente ia embora e falaram que ninguém ia sair da casa enquanto não tirassem ele dali. Ele ficou jogado no chão e depois tiraram a cueca dele e ficou virado pra baixo com bastante sangue virado. Ele respirava só. Ele não conseguia se mexer. Em momento nenhum eu vi reação. No quarto, eu via ele se protegendo e falando que não queria morrer. Ele só respirava, dava pra ver que se mexia, mas sem reação de se defender. Eles ficaram ali e escutei o Edison falando 'cadê a faca, pega a faca'. Mas não sei de onde veio. Eu só escutei que era pra pegar a faca, 'cadê a faca'".
"Mexeu com mulher de bandido vai morrer"
Aquele dia era o dia de aniversário de 18 anos da filha de Edison Brittes. Depois de uma festa que ela nunca esqueceria, seu pai pegou uma faca para matar um de seus convidados. Até hoje é difícil entender o que levou Edison a fazer aquilo. Outros três convidados da festa se juntaram no espancamento. Ninguém foi capaz de deter o grupo.
Promotor: "Alguém tentou fazer parar as agressões?"
Quem responde agora é Lucas Mineiro, amigo de Allana e primeira testemunha do caso Daniel.
Lucas Mineiro: "Sim. Eu, no momento que a Cristiana me pede pra tentar fazer algo, ele me empurra, o Edison. Ele me empurra e fala: 'sai daqui, cuzão. Se você não vai me ajudar, sai fora senão você é o próximo'. Essas palavras. Tiram a cueca dele e falam pra ele 'mexeu com mulher de bandido, vai morrer.'
No próximo episódio de Futebol Bandido:
Promotor: "Aí o senhor descreve que o Edison desce e retirou o Daniel".
Eduardo: "O Edison desceu primeiro, e retirou o Daniel do porta-mala, quando eu olhei pra trás o Edison cortando já. Aí nós descemos do carro e o Daniel tava no chão já. ele jogou o Daniel no chão, deu pra ouvir o barulho".
Promotor: "A vítima estertorava?"
Eduardo: "Estava gritando, e o Edson cortando. Ele continuou e nós fomos pra frente do carro meio pra frente do carro do lado do passageiro. Aí falamos 'Meu Deus, esse cara é louco'".