Futebol Bandido: o Caso Daniel - Ep4: "Desceu, puxou a faca e foi cortando"
Até agora, quem acompanha a segunda temporada do podcast Futebol Bandido, que conta a história da morte do jogador Daniel Corrêa, ouviu relatos de violência que precederam o crime. No quarto episódio, acusados e testemunhas do caso contam em detalhes como aconteceu o assassinato.
Na noite em que morreu, Daniel foi espancado na casa da família Brittes e jogado, ainda vivo, no porta-malas de um carro. Quatro homens embarcaram no veículo, e após menos de uma hora Daniel estava morto. Todos, menos Edison Brittes, negam participação na morte propriamente dita. Quais os problemas dessa versão? E o que pode corroborar esses relatos? Você pode ouvir acima ou ler no roteiro, publicado na íntegra, logo abaixo.
Sempre às terças, os repórteres Adriano Wilkson e Karla Torralba vão contar a história do assassinato do ex-jogador do São Paulo. Serão seis episódios no total.
Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts e em todas as plataformas de distribuição. Você pode ouvir Futebol Bandido, por exemplo, no Spotify, na Apple Podcasts e no Youtube.
Futebol Bandido - Temporada 2: Caso Daniel
Episódio 4: "Desceu, puxou a faca e foi cortando"
Daniel foi espancado por pelo menos quatro homens enquanto outras pessoas presenciaram tudo, mas não fizeram nada. Ao todo, eram 15 pessoas na casa da família Brittes, contando a família da aniversariante Allana e os convidados que esticaram a festa comemorada na boate. Quando Daniel estava no chão, tentando se recuperar de uma sequência de socos e chutes, uma faca chegou às mãos de Edison Brittes, o pai de Allana.
A faca foi o instrumento de mais uma barbaridade cometida naquela manhã. Com ela, Edison Brittes arrancaria à força a masculinidade de Daniel. Como se, com essa violência extrema, quisesse deixar uma mensagem. Mas como ele conseguiu aquela faca? Em que momento a mente dele foi inundada de pensamentos tão terríveis? Nenhuma das pessoas que estavam presentes conseguiu descrever com certeza esse momento do dia do crime.
Quem fala a seguir é Lucas Mineiro, um amigo de Allana que estava na casa dos Brittes quando Daniel foi agredido. Lucas se tornaria a principal testemunha do caso.
Lucas Mineiro: "Eles tiram ele para fora, e na garagem eu escuto: "Mexeu com mulher de bandido vai morrer". Tiraram a cueca dele. Eu volto para dentro da casa para chamar um Uber para ir embora. Nesse momento, o Edison passa atrás de mim. Eu devolvo o celular e saio. No momento que eu saio da residência e olho pra onde ficava o fundo da casa, a ***, que estava chorando do meu lado, fala: 'Meu Deus, ele pegou uma faca'."
A importância da arma do crime
Em qualquer investigação de homicídio, a arma usada para tirar a vida é sempre um ponto-chave. A faca usada pelo assassino de Daniel é um tema de contradição entre os depoimentos das pessoas que estavam na casa da família Brittes. Cada testemunha relata uma percepção diferente sobre esse objeto, que foi visto dentro da casa e levado até o local onde Daniel foi morto. Algumas dizem que Edison buscou a faca na cozinha. Evellyn Perusso, uma das amigas de Allana, fala que outro convidado, Eduardo Purkote, buscou a faca e a entregou pro anfitrião. Isso pode indicar um tipo de participação no crime. Outras pessoas dizem não ter visto o momento em que a faca chega na mão de Edison. O objeto nunca foi encontrado pela polícia. O pai de Allana afirma ter atirado a faca em um lago, perto do local onde o corpo foi encontrado.
Eduardo Purkote é outro conhecido de Allana que foi para a casa dos Brittes depois da festa de aniversário na boate. Ele foi preso durante o inquérito policial, mas solto dias depois. Ele não foi denunciado pelo Ministério Público por participação no crime e continuou na lista de testemunhas do caso. Evellyn, que associou Eduardo com a faca, foi incluída entre os acusados por falso testemunho. O Ministério Público denunciou ao todo quatro pessoas como os responsáveis diretos pela morte de Daniel.
O primeiro é Edison Brittes, o pai de Allana, réu confesso. Os outros três são convidados da festa, que admitiram ter participado do espancamento do jogador: David Vollero, Ygor King e Eduardo da Silva. Os três entraram no carro de Edison na viagem que levou Daniel à morte, mas eles dizem que não tiveram participação no assassinato. Um júri, ainda sem data marcada até a publicação desse episódio, vai analisar a participação efetiva de cada um.
Como o corpo chegou ao matagal
Futebol bandido: Caso Daniel, episódio 4
Quatro homens admitiram ter participado do espancamento de Daniel, e ninguém conseguiu impedir as agressões. Algumas das seis mulheres choraram em desespero, e os três homens que não participaram dizem que não foi possível fazer nada porque teriam sido ameaçados por Edison Brittes. Na manhã de sábado, dia 27 de outubro, o já debilitado Daniel é carregado e colocado dentro do porta-malas do Veloster de Edison, que arranca com ele. Vão junto Ygor King e David Vollero, amigos de Allana, além de Eduardo da Silva, namorado de uma prima de Cristiana, a mãe da aniversariante.
As investigações não puderam esclarecer com 100% de certeza o que aconteceu a partir do momento em que o carro deixa a casa dos Brittes. Daniel foi encontrado horas depois morto na colônia Mergulhão, em São José dos Pinhais, a cerca de 20 minutos da casa onde ele começou a ser agredido. O corpo sem vida foi deixado no meio da plantação de pinheiros próximo a uma rua de terra ladeada por mata. Um homem que passava pelo local viu o sangue na margem da rua. Seguindo o rastro, ele chegou até o corpo de Daniel, apenas de camiseta, parcialmente degolado e com o pênis cortado.
Pra polícia, Edison Brittes afirmou ter feito tudo sozinho: matou Daniel e arrastou o corpo até o local onde foi encontrado. Se o Tribunal do Júri entender assim, os três rapazes podem ter suas penas diminuídas. Por outro lado, a promotoria tenta provar que a participação dos três convidados foi maior do que eles dizem. Acusados de homicídio, David Vollero, Ygor King e Eduardo da Silva admitem ter apenas agredido Daniel na casa. Eles sustentam que nem sequer tocaram no jogador no caminho até a mata. Em depoimento, apenas Eduardo da Silva deu sua versão dos últimos minutos do Daniel na colônia Mergulhão. Os outros preferiram se calar.
O chocante relato do assassinato
A seguir, a gente vai expor trechos do depoimento de Eduardo. É um relato forte, com descrições de violência. Mas esse é o depoimento da única testemunha ocular que se dispôs a falar e é fundamental para entender melhor um processo cheio de contradições.
Eduardo da Silva: "Fiquei hospedado na casa do Júnior. Fomos para Shed, uma festa normal. Eu ia novamente ficar na casa deles. Cheguei na casa deles, chegou um pessoal. Eu subi pra dormir no quarto e fui dormir, e a Cris subiu a escada correndo e me chamou: 'Ajuda o Daniel, ajuda o Daniel. O Juninho está batendo muito nele, eu não sei o que está acontecendo'.
Eu desci correndo. Coloquei a mão na maçaneta, estava trancada. Eu dei a volta e vi o Edison, o King e o David. Eu perguntei o que estava acontecendo, e ele disse: 'Esse cara estava na cama da minha mulher, tentando estuprar a minha mulher'. Eu perdi o sentido, eu não consegui responder mais por mim. Eu entrei no quarto pela janela, comecei a agredir ele também. Depois disso, estouraram a porta, tiramos o Daniel para fora. Dois, três minutos de agressão novamente.
O Edison colocou o carro de ré, colocou o Daniel para dentro do carro. Disse para nós... ele falava a todo momento: 'Eu vou capar. Esse cara estava na cama da minha mulher'. Ele falou que precisava da ajuda da gente: 'Eu vou capar o cara'. Eu não consegui dizer não naquele momento. Eu entrei no carro e fomos até o destino. Durante o trajeto, a intenção era capar o Daniel. Ele ia arrancar o pênis do cara."
No meio do caminho, enquanto dirigia o carro, Edison começou a olhar um celular. Nesse momento, segundo o relato de Eduardo, seu semblante mudou.
Eduardo da Silva: "Estava normal, começou a mexer no celular e ficou nervoso. Quando chegou no trajeto, ele abriu o porta-malas e já puxou o Daniel já cortando a garganta".
Não fica claro se Edison estaria mexendo no próprio celular ou no de Daniel. O aparelho do jogador nunca foi encontrado. O acusado, também chamado de Juninho, se calou quando foi questionado sobre isso. Evellyn Perusso e Allana Brittes afirmam que o celular de Daniel ficou no quarto da família Brittes quando o jogador foi tirado à força. Depois, o aparelho teria sido destruído por um dos convidados.
Eduardo da Silva: "Quando a gente desceu, o Daniel já estava no chão. Ficamos em choque com o que aconteceu, fomos pro canto. O Brittes continuou e puxou o Daniel pela barriga, meio pelo braço, e puxou lá para cima."
Promotor: "Nesse momento já tinha cortado o pescoço?"
Eduardo da Silva: "Ele puxou já cortando o pescoço. Eu desci do carro primeiro, os meninos desceram, e eu vi e falei: 'Meu Deus'. Não tive reação. Ele estava com uma faca na mão. Ele pegou o Daniel pelo braço meio que pela barriga, levantou e foi arrastando. A vítima tentou reagir. Mas ele puxou o menino e cortou. Quando descemos do carro o Daniel já estava no chão. Jogou o Daniel no chão. 'Meu deus, o que está acontecendo?' Estava vivo, estava gritando. E o Edison cortando. Aí fomos pro canto. Eu não vi ele cortando o pênis. Eu só vi quando desci, e passou a faca. Aí o Daniel estava no chão. Aí a gente foi para frente do carro. A gente falava 'Meu deus, esse cara é louco!' Ainda gritava. Eu vi ele levar o corpo. Desceu e jogou para o outro lado. Eu não vi ele cortando, mas eu vi que ele jogou."
Promotor: "Estava de camiseta?"
Eduardo da Silva: "Estava."
Promotor: "Ele carregou a vítima pro mato?"
Eduardo da Silva: "Isso."
Edison Brittes fez tudo sozinho?
Repare a insistência do promotor em saber a sequência dos fatos. Ele insiste em saber exatamente como o corpo de Daniel foi levado ao local onde foi deixado. Esse é um ponto de incoerência entre o relato e os exames periciais no local do crime. Existe uma dúvida sobre a forma como Daniel foi levado até o local: se foi arrastado ou carregado. E definir isso é importante porque pode implicar em penas maiores ou menores aos envolvidos.
A Polícia Civil do Paraná produziu dois laudos sobre a investigação feita no local onde Daniel foi encontrado. No primeiro, nada é dito sobre um possível arrastamento do corpo. Esse laudo foi pedido pela Delegacia de São José dos Pinhais e assinado pelo perito Jerry Cristian Gandin. Depois desse dia, o delegado Amadeu Trevisan seria designado como o titular do caso. Ele pediu uma segunda perícia no local e ela se ocupou especificamente de analisar se havia sinais de arrastamento na mata.
O segundo laudo é assinado pela perita Clélia Regina Fila Hamera. O documento diz que não foi possível identificar sinais "de arrastamento do corpo". Se isso tivesse acontecido poderia ser percebido pela disposição de folhas e galhos no terreno. Isso é o que diz o laudo:
"[Em] Exame dos locais abrangidos pelo espaço entre o local onde se encontrava a mancha na margem da via até o local no interior da vegetação, próximo aos arbustos onde foi localizada a outra mancha com característica de sangue, bem como nas circunvizinhanças destes locais, não foram constatados sinais de possível arrastamento do corpo, observando-se também, que tais vestígios poderiam ser visualizados com maior facilidade devido às características específicas do solo, tais como a camada de galhos e folhas que o revestem e que deixariam evidenciada a pressão de um peso deslizando em sua superfície."
Essa segunda perícia levou o delegado Amadeu Trevisan a concluir que Daniel foi carregado e não arrastado, o que reforçaria a tese de que Edison recebeu a ajuda de pelo menos mais uma pessoa para carregar o corpo. Mas existem dois problemas nessa tese: o primeiro é que Daniel pesava em torno de 68 kg, ou seja, ele não era muito pesado, e nada impediria Edison de carregar Daniel sozinho. O outro problema, mais grave, é que a segunda perícia foi feita no dia 8 de novembro de 2018. O crime tinha acontecido 11 dias antes.
Isso nos permite questionar. Esse tempo não seria suficiente para que qualquer vestígio de possível arrastamento fosse apagado pela ação da natureza?
Momento da emasculação pode mudar acusações
O depoimento de Eduardo da Silva continua:
Promotor: "Pode me explicar outra vez?"
Eduardo da Silva: "Pegou pelo braço e barriga e levou. Foi meio arrastando, levantando. Puxou pelo corpo. Pegou por trás, de costas e levou. Eu vi ele arrastando, mas não fiquei olhando."
Promotor: "Com ajuda de alguém?"
Eduardo da Silva: "Sozinho. Nós não fomos para matar ninguém."
Promotor: "Ele retornou e pegou o pênis e jogou?"
Eduardo da Silva: "Ele jogou. Entrou dentro do carro cheio de sangue."
Eduardo insiste que apenas Edison se aproximou de Daniel, enquanto os outros três rapazes teriam permanecido distantes durante todo o trajeto até a mata. Mas os peritos encontraram indícios que talvez narrem uma história diferente. Eles encontraram manchas de sangue em outras partes do veículo. Além do porta-malas, onde Daniel foi transportado, havia vestígios de sangue no painel da porta da frente direita, a do carona, e no painel da parte de trás esquerda, atrás do motorista, perto de onde os rapazes estavam. Se eles nem tocaram em Daniel desde que saíram de casa, como eles alegam, como aquelas partes do carro ficaram sujas de sangue?
E outra questão permanece sem resposta até hoje: se o pênis de Daniel foi cortado antes ou depois da morte. Edison Brittes escolheu ficar calado ao ser questionado sobre isso pela polícia. Eduardo da Silva disse que não viu, e a perícia não conseguiu determinar se a emasculação foi no momento imediato após a morte ou antes disso.
As circunstâncias da mutilação do órgão genital do jogador são importantes. Elas podem ajudar a determinar por quais crimes os réus serão condenados ou não. Se ficar constatado que Daniel foi emasculado antes de morrer, é possível que a pena sobre os réus seja ainda maior. Como a arma usada para matar Daniel nunca foi encontrada, a perícia baseou as conclusões na análise apenas do corpo do jogador e da cena do crime.
Recapitulando a sequência dos fatos
São várias informações sobre o crime, algumas dúvidas e muitos detalhes. Então, agora a gente vai recapitular tudo que aconteceu até aqui. E fazer um resumo da sequência dos fatos com base nas investigações da polícia e depoimentos das testemunhas e réus:
O jogador Daniel Corrêa sai de Sorocaba, interior de São Paulo, para participar do aniversário da amiga Allana Brittes em uma boate de Curitiba.
Depois da festa, ele e outros amigos da aniversariante estendem as comemorações até a casa dela.
Já de manhã, o pai de Allana perde o controle e começa a agredir Daniel. Ele é ajudado por três outros convidados.
Edison joga Daniel no porta-malas do carro e parte com ele com a intenção de cortar o pênis. Ygor, David e Eduardo, os convidados que tinham participado do espancamento, vão junto.
O corpo de Daniel é encontrado em uma floresta de pinheiros.
Enquanto o corpo aguarda o reconhecimento no IML, Edison entra em contato com a família de Daniel e presta solidariedade. Ao mesmo tempo, a polícia tenta refazer os últimos passos do jogador.
Até que um dos amigos de Allana, um rapaz conhecido como Lucas Mineiro, rompe o silêncio e revela a autoria do crime para a polícia.
Antes de ser preso, Edison grava um vídeo - e você já ouviu um trecho dele nos episódios anteriores - para explicar os motivos que levaram ele a matar o jogador. Nessa gravação, Brittes afirma que fez o que fez para defender sua esposa Cristiana de um ataque de Daniel.
Edison Brittes: "Foi quando eu fui até a porta e estava trancada, ele tinha entrado no quarto, tirado a roupa e trancado a porta. Eu arrombei e quando eu abro ele tá em cima da minha esposa, que gritava socorro. Qualquer homem faria. Aquela não era minha esposa, eram todas as mulheres do Brasil. Poderia ser sua irmã. Aquela ali não era a minha esposa, eram todas as mulheres do Brasil. Naquele momento, era a minha esposa, a Cris, a mulher que eu me dediquei em 20 anos. A minha esposa nunca teve nada com o Daniel, muito menos a minha filha. Se eu fiz o que eu fiz, eu quero que cada um reflita. O que você faria para manter a integridade moral de sua família? Eu evitei que minha esposa fosse estuprada por esse monstro canalha. Foi quando eu tirei ele de cima da minha esposa e joguei ele do chão e evitei que a minha esposa fosse estuprada."
Edison deixou mulher ser presa sozinha
Nesse vídeo, Edison Brittes disse que se juntou a outros três homens e espancou uma pessoa indefesa até a morte para defender sua esposa Cristiana. Mas antes de gravar esse vídeo, quando Cristiana se viu rodeada de policiais na iminência de ir para a cadeia, Edison agiu diferente. Quando descobrimos as circunstâncias da prisão de Cristiana, passamos dias tentando confirmar os fatos. Até que conseguimos um número de telefone.
Denis Araújo: "Alô."
Adriano Wilkson: "Alô."
Denis Araújo: "Opa."
Adriano Wilkson: "Oi, é Denis?"
Denis Araújo: "Opa, tudo bem?"
Adriano Wilkson: "Tudo bem. É Adriano, tudo bom? Pode falar um minutinho?"
Denis Araújo: "Posso."
Essa é uma ligação entre o Adriano e um homem chamado Denis Araújo. Denis foi ouvido no processo como testemunha de defesa da família Brites. Mas o Adriano ligou para perguntar sobre fatos que não foram abordados no depoimento de Denis à juíza.
Adriano Wilkson: "Obrigado por me atender. Eu queria dizer primeiro que estamos fazendo um trabalho aqui na editoria de esportes do UOL, e estamos desde o ano passado fazendo matérias sobre o caso do jogador Daniel. E uma das matérias que a gente quer fazer é contando como foi o dia da prisão da Cristiana Brittes."
Denis Araújo: "Certo."
Adriano Wilkson: "Foi num posto de gasolina, né?"
Denis Araújo: "Certo."
Adriano Wilkson: "Descobrimos que você esteve presente nessa cena da prisão dela. Não ficou claro ainda por que você estava com a Cris nesse dia."
Denis Araújo: "Eu tinha uma rede de lojas em Curitiba, né? E o Júnior e a Cris eram clientes meus. Eles tinham uma loja também e eu vendia alguns produtos para eles. Quando aconteceu o caso, eu lembro até hoje, eu estava na Avenida Batel em Curitiba, ali vendo um ponto comercial para comprar. O Júnior me ligou, era umas 6 horas da tarde, falando que precisava falar comigo urgente, um assunto muito sério. Isso foi na quarta, dia 31. Eu peguei meu carro, fui até meu depósito e encontrei ele e ela lá. Na hora que eu cheguei no meu depósito, o Júnior me deu uma abraço e começou a chorar. [Disse] Que precisava conversar comigo. Eu: 'O que aconteceu, bateu em alguém?' 'Vamos lá em cima que vou te contar.'
Chegando no escritório ele não contou como que foi explicitamente, mas falou que tinha feito uma cagada muito grande e se eu podia levar ele até o advogado. Peguei meu carro, uma Evoque, ele e a mulher dele, a Cris no banco de trás e ele no da frente, fui no caminho do advogado."
Adriano Wilkson: "Ele foi dirigindo a Evoque?"
Denis Araújo: "Não, eu fui dirigindo, ele do lado, a Cris tensa sem falar nada, o Juninho pálido, não falou nada com nada. E eu nervoso sem saber o que tava acontecendo. Hora que nós chegamos no posto de gasolina, a Cris falou: 'Pare o carro que quero comprar uma água'. Encostei no posto, o Júnior desceu do carro, a Cris ficou. Ele entrou na loja de conveniência para comprar água, e eu fiquei dentro do carro."
Antes de continuar a ligação, um parêntese. Eu e o Adriano fomos a esse posto de gasolina em Curitiba e conversamos com funcionários que trabalhavam naquele dia. O relato deles confirma o que Denis Araújo diz a seguir.
Denis Araújo: "De repente, chega uma viatura da polícia no meu carro. Ela aborda o meu carro. O Júnior viu nós sendo abordado e saiu pelo lado da loja de conveniência e foi para a rua a pé. E daí a polícia chegou em mim e na Cris, pegou meus documentos e os da Cris. Levou a Cris pro outro lado carro."
Adriano Wilkson: "A polícia não soube que o Juninho tava por perto ali, nem percebeu?"
Denis Araújo: "Não, não sabia. Aí nisso, o Juninho foi pro escritório do Dalledone [o advogado Cláudio Dalledone Jr, que defende a família] a pé, que era ali perto. Umas duas horas depois chegou a Polícia Civil, já prendeu a Cris e eu falei: 'O que tá acontecendo?', e o policial me contou o que aconteceu."
Nessa altura, sabendo tudo o que sei sobre Edison Brittes, eu já consigo formar uma imagem mental a respeito dele. Talvez isso também aconteça com você. Eu penso na intensidade da violência que ele impôs a uma pessoa totalmente indefesa, na frieza de ligar para a mãe de Daniel e dar condolências, nas relações dele com pessoas acusadas de crimes violentos, na tentativa de escapar da punição, no fato de ele ter fugido e abandonado a mulher para ser presa sozinha...
Eu penso em tudo isso e penso que não há nada que ele possa argumentar para minimizar a gravidade de seus atos.
As fotos de Daniel com Cristiana
Mas tem o outro lado dessa história. A família Brittes é defendida por uma competente equipe de advogados criminalistas, que trabalha para diminuir a pena de Juninho. E esses advogados trabalharam muito para levantar histórias que, em tese, mostrariam um comportamento reprovável de Daniel. E foi esse comportamento, segundo a defesa, que teria motivado o crime cometido por Edison. Na tese da defesa, Daniel tentou atacar Cristiana e foi flagrado por Edison - que, como a gente sabe, reagiu da forma mais violenta possível.
Quando a polícia encontrou amigos de Daniel e perguntou como tinha sido o último contato com o jogador, eles entregaram prints de conversas de Whatsapp. E essas conversas revelam informações importantes e levantam questões incômodas. Primeiro: na conversa, há uma selfie tirada por Daniel momentos antes de morrer. Nessa foto, ele aparece sorrindo e fazendo careta, deitado em uma cama. Ao lado dele está Cristiana Brittes, de olhos fechados, aparentemente dormindo.
Como ele chegou lá? O que ele estava fazendo lá? Segundo: na mesma conversa, Daniel mandou um áudio. Ele está na casa dos Brittes e ao fundo dá para ouvir o som de água caindo, como se o jogador estivesse gravando enquanto urinava.
Daniel: "Moleque, eu juro para você que não estou muito bêbado. A situação é desesperadora. Eu não sei como é essa casa que eu vim parar aqui, mas parece que a casa tem, sei lá. Uma casa tem uma coroa dormindo, outra casa tem uma novinha dormindo. O namorado da novinha eu não sei onde está, o marido da coroa eu não sei onde está. Moleque, eu não sei o que eu faço, moleque. Me ajuda."
Além de mandar a foto e o áudio, Daniel travou o seguinte diálogo em mensagem de texto com o amigo. Ele diz:
Daniel: "Comi ela, moleque"
O amigo responde: "Mentira. Acordou e comeu? Ou tomou dormindo?"
Daniel não responde mais.
No próximo episódio de Futebol Bandido:
Cristiana Brittes: "Eu estava dormindo. Eu acordei com ele em cima de mim. Ele estava pegando no meu seio, com o pênis para fora. Ele estava só de cueca, de camiseta ainda, com o pênis para fora esfregando em mim. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. Eu não sei o que eu falei. Eu não lembro a reação que eu tive. Acordei assustada e eu lembro que ele falou pra mim: 'Calma, calma, é o Daniel'. Como eu não conhecia. 'Quem era o Daniel?' Eu comecei a falar: 'Sai, sai.'"
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