René Simões: Não podemos ter como melhor driblador no Brasil um venezuelano
Do UOL, em São Paulo
01/12/2020 15h26
René Simões levou a Jamaica a uma Copa do Mundo, comandou as categorias de base da seleção brasileira masculina, a seleção feminina principal na conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, além de clubes no Brasil e no exterior, e atualmente trabalha como comentarista e analisa os aspectos do esporte e chama a atenção para a escassez de dribladores no futebol brasileiro.
Em entrevista ao programa Os Canalhas, com o jornalista Rodrigo Viana, René afirma que o momento é positivo para mudanças no futebol brasileiro, como a busca dos times por intensidade, e vê a necessidade de se mudar a forma de trabalhar para que o país tenha mais jogadores habilidosos, afirmando ser inadmissível que um venezuelano,Yeferson Soteldo, do Santos, seja o maior driblador nos gramados do país.
"Eu acho que o futebol brasileiro está começando a entender que precisa ter mais intensidade, que ele precisa ter mais trabalho cognitivo na base, que nós temos que voltar a driblar, nós não podemos ter o melhor driblador do futebol brasileiro sendo um venezuelano, o Soteldo, é inadmissível. É óbvio, o melhor driblador do futebol brasileiro é Soteldo", diz René.
O treinador explica o que considera que seria a forma de resolver a escassez dos jogadores mais habilidosos no futebol brasileiro e aponta a necessidade de haver mais peladas nos treinamentos das categorias de base para estimular o desenvolvimento da habilidade e da tomada de decisões dos jovens atletas.
"A gente pode resolver isso sabendo o seguinte: da onde veio a capacidade de a gente driblar assim? Do caos. O que é o caos? São as peladas, com buraco, paralelepípedo, com tudo. Nós não temos mais a rua, nós não temos mais campos de várzea, então nós temos que levar esses campos de várzea para dentro do clube", explica René.
"Eu sou defensor e se eu tivesse trabalhando em um clube agora como diretor, todo dia os meus treinamentos de base da sub-14 ao sub-20 começariam com uma grande pelada, uma grande pelada sem juiz, deixa o caos ser implantado, o cara ia ter que se virar driblando, dando de calcanhar, dando caneta, faça o que você quiser e eu estou só de fora olhando. Acabaram os 25 minutos, parou, agora vamos sistematizar", completa.
Ainda em relação ao trabalho de base, René lamenta que a preparação dos jogadores ainda na infância já seja voltada para o resultado, o que deixa lacunas na formação dos fundamentos básicos, em sua análise.
"Eu não consigo entender um garoto sub-7 disputando um campeonato. Ele não sabe limpar a bunda ainda direito quando vai ao banheiro, mas ele já tem que jogar dentro de um sistema para ser campeão, porque o pai está xingando ele, o treinador está tirando ele. Não, bota esse moleque para jogar futebol de 5, porque é apertado e cognitivo", afirma o treinador
"Veja o Campeonato Brasileiro agora e observe que em determinados momentos você tem 10 por 10, 15 por 15 e você ter ali as vezes oito, dez jogadores ali dentro, o que é isso? é futebol de salão, o cognitivo ser muito rápido, você tem que definir rápido, você não tem mais tempo, como nós tínhamos, de dominar a bola bonito no peito, bota no chão, bota na grama, não, você já tem que ter a visão um e dois muito rápida, então essa é a solução com grande intensidade", conclui.
René Simões também fala sobre sua experiência trabalhando na seleção jamaicana, a ida à Copa do Mundo, sua passagem pela seleção brasileira feminina que conquistou a prata em Atenas-2004, a crítica a Neymar e a chegada de técnicos estrangeiros ao futebol brasileiro.
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