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Sociólogo vê fracasso de torcida única nos estádios: "confrontos continuam"

Do UOL, em São Paulo

22/07/2021 23h22

Com o objetivo de coibir a violência no futebol, as autoridades de São Paulo adotaram há cinco anos a medida de torcida única nos clássicos, permitindo que apenas os torcedores do clube mandante possam estar presentes no estádio durante um jogo diante de um rival. Na opinião do sociólogo Bernardo Buarque de Hollanda, especialista em torcidas organizadas, a medida fracassou.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, Buarque cita as medidas que foram tomadas em outros países para coibir a violência e que tiveram algum efeito, enquanto no caso da torcida única nos clássicos, as brigas seguem ocorrendo longe dos estádios e até atualmente em um momento de pandemia, no qual os jogos não têm público.

?É interessante que em termos internacionais, quer dizer, houve responsabilização, claro, nesse caso específico isso se arrastou, mas houve penalização, em que os clubes ingleses foram afastados das competições, enfim, houve a responsabilização de vários entes, ao passo que aqui foi o bode expiatório, a criação de um bode expiatório, enfim, as tragédias na Europa criaram uma nova agenda", explica o especialista.

"A gente viu como a torcida única implementada há cinco anos não teve resultados em evitar os confrontos, os confrontos continuaram acontecendo, as mortes continuam acontecendo, e agora, mesmo com o futebol sem torcida, nós continuamos assistindo a esses conflitos e de novo sem inteligência, sem atuação prévia, sem premeditação, sem antecipação aos confrontos que continuam acontecendo regularmente, mesmo na pandemia", completa.

Buarque cita as proibições impostas em relação às torcidas no Brasil, com uma cruzada contra as torcidas organizadas, e a migração de parte delas para o Carnaval em São Paulo.

"Não houve mudança na infraestrutura do futebol ou no equipamento do futebol, mantiveram-se nas condições precárias e começou-se, vamos dizer, uma certa cruzada de proibição que também teve efeitos perversos, porque as torcidas não acabaram, elas continuaram participando do futebol e acabaram se estruturando ainda mais no caso de São Paulo, com investimento no universo associativo das escolas de samba", diz o sociólogo.

"Muitas dessas torcidas proibidas acabaram migrando para uma vinculação ao Carnaval e hoje a gente tem também muito estruturadas essas torcidas no futebol, isso gera uma dificuldade enorme, porque elas estão consolidadas institucionalmente e ao mesmo tempo a gente sabe que nos seus subgrupos a radicalização aumenta, então você não consegue extinguir e, ao mesmo tempo, elas existem institucionalmente e ao mesmo tempo continua acontecendo essa dinâmica de encontros cada vez mais distante dos estádios", conclui.

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