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Historiador nega que o São Paulo tenha ganhado o Morumbi de governador

Do UOL, em São Paulo

07/08/2021 04h00

A história da construção do Morumbi é cercada de polêmicas, com hipóteses de que o estádio seria um presente do então governador Laudo Natel ao São Paulo e que o local onde hoje está o estádio seria um terreno público. O historiador Alexandre Giesbrecht nega esta versão e afirma que Natel deu o estádio ao clube, mas como presidente são-paulino e não em seu período como governador.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, Giesbrecht explica que a data da construção do Morumbi e o período no qual Natel era o governador paulista simplesmente não coincidem, diferentemente do que muitos torcedores rivais costumam dizer.

"Uma coisa que muita gente fala é que o São Paulo ocupou um terreno público. O terreno do Morumbi nunca foi público, nunca na história foi público. Ele era originalmente da Condessa Matarazzo e depois ele foi loteado pela Imobiliária Aricanduva, que não era pública. Então podem até dizer que no meio do Morumbi era para passar uma rua, é verdade, mas naquela época a legislação não previa que as ruas de um loteamentos fossem públicas, elas pertenciam à imobiliária dona do loteamento e isso só iria mudar nos anos 1970, ali o estádio do Morumbi já estava completo, já estava pronto", afirma o historiador.

"O Laudo Natel deu para o São Paulo? Bem, de certa madeira, sim, deu. Como presidente do São Paulo e não como governador do estado. É uma simples olhada na linha do tempo de governadores de São Paulo, já mostra que isso não tem como ser verdade porque o Laudo foi governador pela primeira vez no segundo semestre de 1966, que foi depois que o Adhemar de Barros foi cassado. No segundo semestre de 1966, a construção do Morumbi não estava andando, você pode pegar fotos de jogos do, por exemplo, em 31 de julho de 1966, o São Paulo jogou contra o Noroeste lá no Morumbi na estreia do Campeonato Paulista, você pega fotos desse jogo e compara com fotos do último jogo do São Paulo naquele Campeonato Paulista no Morumbi e o estádio não mudou, não cresceu nada", completa.

Outra versão negada por Giesbrecht é a de que Natel, como governador do estado de São Paulo, teria feito com que os professores vendessem carnês que ajudariam o clube na construção de seu estádio.

"Em junho de 1968 o São Paulo lançou o Carnê Paulistão, que era um carnê que angariava fundos para tocar a obra do Morumbi. E esse carnê que possibilitou que a construção avançasse muito. O Morumbi foi completado entre o segundo semestre de 1968 e o segundo semestre de 1969. Teve depois obras de acabamento no finzinho, lá perto da inauguração, em janeiro de 1970, mas ali era coisa cosmética, coisa de acabamento mesmo. O anel já tinha dado a volta no fim de 1969", diz o historiador.

"Muitas pessoas falam ‘porque o Laudo Natel como governador ele fez os professores venderem carnês do Paulistão, não sei o quê' Como ele faria isso se ele não era o governador? Ele só voltaria a ser governador em março de 1971, ele foi escolhido em março de 1970, ele foi nomeado, aí ele passou o resto de 1970 inteiro, ele pediu licença do cargo do presidente do São Paulo para fazer articulações políticas pelo interior, já que ia ter eleições no fim do ano para deputados, eleições parlamentares, e então ele ficou fazendo essa articulação política, mas aí o Morumbi já estava completo desde de janeiro, então tudo isso é um negócio que não encontra respaldo nos livros de história e nos jornais da época", conclui.

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