Estádios recentes no Brasil não foram pensados para duas torcidas, diz jornalista
Com a realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014, o futebol brasileiro passou a contar com estádios modernos, seguindo o padrão Fifa, o que valeu para as arenas construídas para o evento, mas também para as de clubes como Grêmio e Palmeiras. Mas um aspecto novo foi a divisão para torcedores visitantes, o que já rendeu até ação judicial no caso da casa palmeirense.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o jornalista Rodrigo Barneschi, que aborda a saga de torcedores visitantes no livro Forasteiros, diz que as arenas modernas não foram pensadas em jogos com duas torcidas, priorizando shows e os torcedores do clube mandante, em um momento no qual vigora a torcida única nos clássicos.
"Para os clubes e para quem lucra com esse futebol agora que pensa o tempo todo em dinheiro, parece que o dinheiro é a única coisa que importa, e os estádios construídos para a Copa do Mundo, não só eles, mas também o do Palmeiras, o do Grêmio, eles não foram pensados para duas torcidas, eles foram pensados para shows e para a torcida da casa, o do Palmeiras claramente", afirma Barneschi.
"Eu falo isso como palmeirense e eu briguei muito com a gestão anterior do Paulo Nobre, porque o Palmeiras desde o começo deixou claro que ele não queria ter torcida visitante na sua casa. E o que mais me entristece é perceber que muitos palmeirenses eram a favor disso. Aí eu falo de palmeirenses, mas de qualquer torcedor, é o torcedor que não enxerga que o fato de não ter o visitante, o adversário, o oponente na sua casa implica na impossibilidade de ele próprio visitar o estádio do seu rival no returno ou no ano seguinte", completa.
O jornalista afirma que existe todo um aspecto de batalha de cantos e gritos nos estádios, além da sociabilidade com os adversários, o que considera que se perde quando se naturaliza a impossibilidade de duas torcidas diferentes dividirem o mesmo estádio. Barneschi cita ainda o anticlímax de um clube campeão em silêncio, como o Corinthians na final do Paulistão de 2018 diante do Palmeiras no Allianz Parque.
"Quando você começa a naturalizar isso e achar que tudo bem, é uma torcida só, vamos manter assim, você acaba com essa questão de sociabilidade, da convivência. Eu sempre digo que arquibancada forja caráter, especialmente quando você está diante do seu rival e você ouve o estrondo da torcida rival, aquele estrondo em um clássico do gol do seu rival é o pior som do mundo, mas ele forma o caráter, aquilo te fortalece, você precisa daquilo para ser um torcedor completo", afirma Barneschi.
"Os gols de visitantes hoje em São Paulo, eu digo antes da pandemia, eles são silenciosos. O Corinthians foi campeão no estádio do Palmeiras há dois anos e foi um silêncio absurdo, esse é um capítulo do livro. Eu falo sobre o quanto as autoridades estão silenciando os gols e estão tornando a expressão do clássico algo muito desagradável, porque um Palmeiras e Corinthians, um São Paulo e Santos, um Corinthians e São Paulo é uma experiência de uma torcida só, você não tem um oponente, não tem alguém que vai torcer contra, e isso enfraquece até mesmo a torcida da casa, porque ela não tem contra quem batalhar ali no canto, no grito de guerra, então, o ambiente do estádio fica um ambiente estéril", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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