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Futebol Sem Fronteiras

O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


OPINIÃO

Futebol sem Fronteiras #22: Como a Fifa planeja fazer Copa a cada dois anos

Do UOL, em São Paulo

07/10/2021 16h00

A Fifa cogita mudanças profundas no calendário do futebol. A alteração mais polêmica consiste em organizar a Copa do Mundo a cada dois anos, em vez dos quatro habituais. O plano da entidade, porém, vai além da periodicidade do principal torneio do planeta. Afinal, o que há por trás desta reforma tão radical?

No podcast Futebol sem Fronteiras #22 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade falaram sobre os planos da Fifa para a adoção de um novo calendário para o futebol. Como Julio definiu, existe "uma queda de braço rolando neste momento nos bastidores, de forma invisível" entre várias entidades por conta das possíveis mudanças de cenário no futebol internacional para os próximos anos.

Jamil destacou como a pandemia da covid-19 deu outro ritmo às discussões sobre alterações no futebol. "A pandemia é uma espécie de panela de pressão. Tudo foi colocado em um ritmo aceleradíssimo. Todas as forças políticas, não só no futebol, mas também em outras áreas, anteciparam reformas e fizeram mudanças dramáticas nas estruturar. O futebol não ficou fora, essa é a realidade. A pandemia acelerou debates e questões fundamentais sobre como organizar o jogo. O futebol que começa a ser organizado será radicalmente diferente do que a gente conhecia", comentou o correspondente internacional.

"Quando a gente fala em mudança de calendário, aqui no Brasil temos um debate diferente do resto do mundo. O calendário é mal resolvido aqui. No resto do mundo, o calendário está organizado e tem nexo, parando em data-Fifa. Ainda assim, há muitas reclamações. Os clubes perdem muitos jogadores e há muitas partidas de seleções", disse Julio. A princípio, pode parecer incoerente colocar ainda mais jogos de seleções no calendário com uma Copa bienal, mas há uma explicação.

Como não seria diferente, questões econômicas permeiam o debate, como destacou Jamil. "A Fifa, junto com seus parceiros, principalmente comerciais, quer uma mudança dramática. Para nós, o que importa é: Copa a cada dois anos ou não? Esse é o centro da questão, mas não é só isso. O pacote é muito maior. A primeira questão é entender o princípio. Uma Copa a cada quatro anos, segundo as palavras utilizadas pela Fifa em documento, é um sistema obsoleto. Não condiz mais com uma realidade do mundo", colocou.

O correspondente explicou como ficaria o calendário caso o plano da Fifa realmente seja adotado. "Há, sim, uma pressão das redes sociais e do setor comercial para que o mundo não tenha que esperar quatro anos pelo grande evento do futebol mundial. De um lado, um sistema obsoleto. De outro, uma pressão cada vez maior por resultados comerciais. O projeto de uma Copa a cada dois anos significa, na prática, ter uma Copa seguida de uma Eurocopa e de uma Copa América no ano seguinte. Também significa que as datas-Fifa serão abolidas. Haveria uma concentração de apenas dois momentos no calendário para que as seleções disputem tudo aquilo que precisam: março e outubro. No resto do ano, não há seleção", ressaltou.

O impacto deste novo calendário provocaria mudanças significativas em algumas competições, com a recente Liga das Nações. "Acaba qualquer possibilidade de fazer amistosos. Essas datas teriam que ser utilizadas, no fundo, para as eliminatórias. Se não, o ano não fecha. O que significa que a Liga das Nações terá seu fim prematuro, inclusive porque ela não teve o impacto que os europeus esperavam. Serão provavelmente dez a doze dias reservados em cada um desses meses para poder fazer vários jogos. De certa forma, isso ajuda os técnicos, que reclamam muito de receber as seleções meio dia antes da próxima partida. Também há uma garantia para os clubes de que em nenhum outro momento do ano vão ter que liberar jogador", apontou Jamil.

Além das questões financeiras, Jamil frisou outra razão pela qual a Fifa resolveu pensar em mudanças. "Há outra motivação por trás disso tudo: colocar o futebol internacional como principal protagonista do futebol mundial. Não é o futebol nacional, estadual ou regional que vai dominar a agenda. Esse é um dos objetivos da Fifa, de ter sempre um calendário dominado por essa lógica. Tem gente que vai gostar porque vai participar, como grandes clubes e seleções. Tem gente que não vai gostar porque ficará fora. A ideia é ter a volta do monopólio da Fifa sobre o calendário internacional completo", concluiu.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também a análise da situação das eliminatórias para a Copa do Mundo-2022, com a disputa de rodadas decisivas nos próximos dias.

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.

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