Futebol sem Fronteiras #25: O que faz o dérbi basco ser tão especial?
Neste domingo (31), La Liga terá uma das partidas mais importantes do torneio - e ela não reúne nem Barcelona, nem Real Madrid, muito menos o Atlético de Madri. Trata-se do dérbi basco entre Real Sociedad e Athletic Bilbao, que envolve muito mais do que a esfera esportiva. A política também marca forte presença neste duelo. A partida, válida pela 12ª rodada, está marcada para as 17h (horário de Brasília), com acompanhamento do Placar UOL.
No podcast Futebol sem Fronteiras #25 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade conversaram sobre o bom momento vivido por Real Sociedad e Athletic Bilbao nesta temporada. Eles também falaram sobre o lado político da região, que ficou em evidência por muitos anos devido à ação do grupo separatista ETA (Euskadi Ta Askatasuna, que significa Pátria Basca e Liberdade no idioma local).
"Este é um dos poucos clássicos locais em que as torcidas se misturam antes do jogo. Claro que existem problemas, mas, de uma forma geral, há um entendimento de que esses torcedores podem conviver. É uma região pequena e que entra para a história tendo a luta independentista, que continua, de outra forma e outro caráter. O ETA foi dissolvido há dez anos e entregou as armas em 2017", disse Jamil.
O correspondente fez um breve resumo da trajetória do ETA, desde seu nascimento até a entrada na política. "O ETA foi criado nos anos 50 como resistência à ditadura espanhol de Franco e, claro, às limitações que eram colocadas. Ao longo das décadas, o total de vítimas chega a quase 900 em atentados do ETA. A Europa declarou o ETA como um grupo terrorista e a resistência é estabelecida. Já na democracia, há uma perda muito grande de apoio ao ETA. A própria população da região reduziu seu apoio. Não fazia mais sentido: a bandeira era autorizada, a autonomia existe e eles controlam o sistema de saúde e de educação. O poder de influência do ETA foi se reduzindo e isso ficou muito claro até para os líderes históricos. O ETA tenta, então, migrar para a política, abandona as armas e começa um processo de politização", contou.
Durante o Franquismo, regime totalitário que vigorou entre os anos 30 e 70 na Espanha, houve a proibição de qualquer manifestação nacionalista basca e de outras regiões, como a Catalunha. Isso incluía, por exemplo, o ensino do idioma basco. Por isso, o futebol se tornou um espaço vital para a manutenção cultural basca. "Esses clubes também representam a identidade dessa região. Nos anos 70, quando o general Franco, que era o grande inimigo do País Basco, morre, logo depois houve um jogo entre os dois times, cujos capitães entraram em campo segurando a bandeira do País Basco, em um ato de resistência", citou Jamil.
Por conta desse espírito de luta de toda a região, o dérbi basco tem com uma de suas características marcantes o clima amistoso entre as torcidas, como explicou Julio. "Nesse dérbi, exatamente por essa união, o 'nós contra todos' dentro do País Basco, existe mais essa fraternidade entre as cidades dentro da realidade do País Basco do que uma rivalidade muito forte entre eles. Não é um clássico marcado pela violência. Muito pelo contrário: há a rivalidade, mas com torcidas amigas", contou o colunista do UOL.
A Real Sociedad lidera La Liga com 22 pontos, um a mais do que Real Madrid e Sevilla, mas ambos têm um jogo a menos. Já o Athletic Bilbao ocupa a oitava posição, com 17. Historicamente, porém, a equipe de Bilbao ostenta um cartel mais vitorioso do que o de seu rival de San Sebastián. O Athletic Bilbao conquistou oito títulos espanhóis e 23 da Copa do Rei, contra dois e três, respectivamente, da Real Sociedad. E a pandemia de covid-19 tirou muito do brilho do encontro mais importante da história das duas equipes.
"Em abril, Athletic Bilbao e Real Sociedad fizeram a final da Copa do Rei de 2020. O jogo seria disputado em maio ou junho do ano passado. Estávamos no início da pandemia e tudo foi cancelado. Os clubes chegaram a um acordo de só disputar essa final quando fosse possível ter público. A federação impôs apenas uma condição: tudo bem, desde que essa final fosse disputada antes da de 2021. Só que veio a segunda onda forte da pandemia na Europa e não houve essa possibilidade. O dérbi basco foi realizado com estádio vazio, com a Real Sociedad campeã, e poucas semanas depois, foi disputada a decisão de 2021 entre Barcelona e Athletic Bilbao, com o Barça campeão. Essa foi uma grande tristeza. Teria sido uma festa espetacular", finalizou Julio.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também mais detalhes culturais do País Basco, como a bandeira e o idioma.
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