Futebol sem Fronteiras #27: Dérbi 'desigual' marca estreia de Xavi no Barça
Neste sábado (20), o Barcelona começa uma nova era: Xavi Hernández está de volta ao clube. O ex-jogador, que fez parte do meio-campo da geração mais vitoriosa da história do clube, inicia sua trajetória como treinador da equipe. Substituto de Ronald Koeman, ele tem logo em seu primeiro jogo um duelo complicado: o dérbi catalão contra o Espanyol, que tem a rara chance de ficar em uma situação melhor do que a do rival na classificação de La Liga. A partida, às 17h (horário de Brasília), terá acompanhamento minuto a minuto do Placar UOL.
No podcast Futebol sem Fronteiras #27 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade conversaram com o jornalista espanhol Joaquim Piera, do diário Sport. Eles contaram um pouco sobre a rivalidade entre Barcelona e Espanyol e a grande diferença no retrospecto entre eles.
"No dérbi desse final de semana, Barcelona e Espanyol chegam igualados em pontos, com a estreia do Xavi como treinador do Barcelona. Se o Espanyol ganhar no Camp Nou, vai carimbar essa volta do Xavi e vai ficar na frente do Barça no campeonato. Isso é praticamente um título para o Espanyol", disse Piera.
Barça e Espanyol têm os mesmos 17 pontos em La Liga. Julio destacou que, caso vença, o Espanyol alcançará um feito raro em sua história. "Desde que começou a ser disputado o Campeonato Espanhol, o Espanyol acabou na frente do Barcelona três vezes, a última delas em 1940, e nunca foi campeão". Jamil brincou: "Pode acabar o ano e encerrar a temporada."
Julio também enfatizou como o Espanyol foi uma das vítimas preferidas de Xavi em sua carreira como jogador. "Tem uma curiosidade: o Xavi é o jogador que mais atuou no dérbi. Foram 36 jogos, dos quais o Barça ganhou 25, empatou nove e perdeu apenas duas vezes. O Espanyol é o rival contra quem Xavi marcou mais gols: seis, com oito assistências. Quer dizer, o Espanyol sempre foi um dos rivais prediletos do Xavi", ressaltou o colunista do UOL.
Xavi tem uma carreira curta como treinador. Em 2019, ele assumiu o comando do Al-Sadd, do Qatar, logo após se aposentar como jogador. Piera explicou os motivos pelos quais a diretoria do Barça preferiu apostar na contratação de um técnico ainda inexperiente, mas que tem forte identificação com o clube.
"O barcelonismo acha que ou é Xavi, ou barbárie. É assim: 'vamos defender os princípios com tudo o que nós temos'. Isso é muito curioso, porque na hora de procurar um treinador, o Barcelona não tem os parâmetros que os seus rivais na Champions League. Eles procuram o melhor treinador possível, que tenha uma experiência brutal dirigindo clubes. Xavi é um estagiário. O que a torcida enxerga nele é voltar na página 1 do Cruyffismo puro", disse o jornalista, referindo-se ao estilo de jogo do 'futebol total' e da inovação.
Para Jamil, a aposta em Xavi, e em um estilo de jogo que marcou época, pode ser algo arriscado para um clube em busca de uma nova identidade. "Os times e os treinadores aprenderam a jogar contra esse estilo. De fato, ele não existia, pelo menos de forma tão organizada. Quando ele é implementado e começa a dar resultado, ninguém ficou de braços cruzados falando 'é imparável'. Todos tentaram parar. Não é que o estilo não dê resultado. Você tem, do outro lado, técnicos que foram estudar. Repetir a mesma tática para aqueles que já sabem lidar com essa realidade, obviamente o resultado não é igual. Esse é um desafio real", comentou o correspondente do UOL.
Histórias trágicas
Além de ficar à sombra do Barcelona, o Espanyol conta com algumas passagens trágicas em sua história, como recorda Piera. "A história do Barça e do Espanyol chega a um ponto em que o Barça vira o que todo mundo sabe, uma super potência mundial, e o Espanyol acaba não acompanhando. É certo que a história do Espanyol tem alguns episódios trágicos, esportivos e pessoais, que marcam muito a história nos últimos 30 anos. No momento em que o Espanyol podia subir de patamar, aconteceu alguma coisa. Por exemplo, em 1988, o clube chegou à final da Copa Uefa. Tinha eliminado o Milan de Arrigo Sacchi e a Internazionale. Chega no final, no jogo de ida no estádio de Sarriá, ganha do Bayer Leverkusen por 3 a 0. Na volta, na Alemanha, perde por 3 a 0 e nos pênaltis. Isso cria um trauma absoluto", disse o jornalista.
Não demorou muito tempo para o Espanyol sofrer outro duro golpe. "Já na década de 90, por causa dos problemas financeiros, o Espanyol tem que vender seu estádio, o Sarriá, localizado em uma das áreas mais nobres de Barcelona. Vai jogar no estádio Olímpico de Montjuic, na montanha, e que o torcedor não gosta. Em 2009, consegue construir seu estádio na área metropolitana. O que acontece no mês da inauguração? Seu capitão, Dani Jarque, morre após sofrer um infarto quando estava fazendo a pré-temporada na Itália. É uma sequência de episódios dramáticos que marca muito a história do Espanyol", enfatizou Piera.
Julio destacou outros aspectos que fizeram o Espanyol se tornar o 'patinho feio' no futebol catalão por conta do lado político. "O Espanyol é Real e Espanyol. O Barcelona quase sempre se colocou como um porta-voz desse sentimento de catalanismo", disse, referindo-se ao nome do clube, que remete exatamente a tudo aquilo contra o qual o movimento de independência da Catalunha luta - e que tem no Barcelona um de seus expoentes mais fortes de identidade cultural e esportiva", finalizou.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também outros detalhes do dérbi catalão, como a história do estádio de Sarriá, de triste lembrança para os brasileiros pela Copa-1982, e o retorno de Daniel Alves ao Barcelona.
Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.
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