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Futebol Sem Fronteiras

O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


OPINIÃO

Futebol sem Fronteiras #31: Por que camisas pesadas estão na 2ª divisão alemã?

Do UOL, em São Paulo

17/12/2021 04h00

Disputar a segunda divisão se tornou uma realidade para muitos clubes grandes, e nem sempre o sonhado retorno à elite ocorre de forma imediata. O pesadelo vivido no Brasil por torcedores de Cruzeiro, Vasco, Grêmio, Botafogo, Palmeiras, Corinthians, Fluminense, Internacional, Atlético-MG e de outras equipes tradicionais também é compartilhado na Europa, em especial na Alemanha. Nesta temporada, Hamburgo, Schalke 04 e Werder Bremen utam para voltar aos dias de glória.

No podcast Futebol sem Fronteiras #31 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes conversou com os jornalistas Gerd Wenzel e André Donke, especialistas em futebol alemão. Eles falaram sobre o duelo entre Hamburgo e Schalke 04, neste sábado, às 15h30 (horário de Brasília), pela 18ª rodada da 2. Bundesliga.

Wenzel traçou um breve panorama da situação atual das equipes no torneio. "O Hamburgo passou 55 temporadas na primeira divisão. É um dos clubes fundadores da Bundesliga. O Schalke 04 ficou 53 temporadas na primeira divisão. São times super tradicionais. O Hamburgo foi rebaixado pela primeira vez em 2017/18 e não consegue mais subir. O Schalke já passou cinco temporadas na segunda divisão, tendo sido rebaixado agora", comentou.

Na tabela, o Hamburgo ocupa a terceira posição com 29 pontos, três a menos do que o Darmstadt. Se o campeonato terminasse hoje, a equipe faria um playoff com o 16º colocado da primeira divisão valendo uma vaga na Bundesliga. A liderança está nas mãos do rival St. Pauli, com 36. O Schalke 04 é o quarto, com os mesmos 29 pontos do Hamburgo. Já o Werder Bremen está em nono, com 26.

O Hamburgo esteve perto de voltar à elite alemã nos últimos anos, mas bateu na trave, como explicou Wenzel - o que se tornou um problema. "Esse é o drama de um grande time que cai para a segunda divisão. Se ele não se recupera imediatamente, as condições são dificílimas para ele se recuperar. Vai faltar patrocinador, não poderá contratar jogadores de ponta, terá que reduzir a folha salarial e por aí vai. O Hamburgo já vai para a quarta temporada consecutiva na segunda divisão. Ele sempre quase sobe, mas na hora H, não consegue", disse.

Donke também destacou a falta de sorte do Hamburgo nas últimas temporadas. "Ele terminou em quarto nas três edições. Nas duas primeiras, ele passa quase o campeonato todo na primeira ou segunda posição. Na reta final, perde o fôlego e não sobe. É impressionante. Um roteiro que se desenhou de forma clara para o Hamburgo na segunda divisão", afirmou o jornalista.

Wenzel citou alguns dos problemas que levaram o Hamburgo à 2. Bundesliga. "Nos últimos dez anos, o Hamburgo teve 18 técnicos. É um descalabro administrativo, comercial. O clube deu um passo maior do que suas pernas quando contratou alguns medalhões. No último jogo na primeira divisão, a torcida quase invadiu o gramado, algo raro de se ver na Bundesliga. A polícia teve que segurar essa barra", contou.

No caso do Schalke 04, as razões do declínio da equipe foram outras. "O Schalke 04 dependeu muito tempo de um mecenas: Clemens Tönnies, o maior produtor de carnes da Alemanha. Quando faltava dinheiro, ele punha lá. Ele é um dos homens mais ricos do país, mas se envolveu em algumas falcatruas. Depois, houve uma manifestação racista dele. Ele deixou de ser o mecenas do clube e aí começaram os problemas financeiros do Schalke 04", explicou Wenzel.

Donke chamou a atenção para a rapidez com que o time de Gelsenkirchen se envolveu em dificuldades. "O que diferencia do Hamburgo e do Werder Bremen é que a queda do Schalke 04 foi muto rápida. O Werder Bremen, antes de cair na temporada passada, já havia disputado os playoffs do rebaixamento contra o Heidenheim em 19/20 e só se manteve na elite pelo gol fora. O Hamburgo disputou os playoffs em 2014 e 2015, então já era um clube em processo de cair. Houve uma sucessão de problemas no Schalke 04 dentro e fora de campo. Foram cinco técnicos diferentes na temporada do rebaixamento", enfatizou.

Já o Werder Bremen seguiu à risca a receita da queda, como apontou Wenzel. "O rebaixamento para a segunda divisão, de um modo geral, é o resultado de um processo. Pode ser desorganização interna, problemas financeiros, o técnico não conseguir impor seu sistema e ganhar o vestiário... Há uma conjunção de fatores que, com o tempo, vai corroendo a estrutura de um clube que naturalmente é da primeira divisão. No fundo, resume-se a uma má administração, tanto do ponto de vista esportivo como administrativo. Foi o que aconteceu com o Werder Bremen", completou.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também a discussão sobre o futuro do atacante Erling Haaland, astro do Borussia Dortmund, e detalhes da carreira de Wenzel, que veio para o Brasil após a Segunda Guerra, já foi pastor e vítima de perseguição política.

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.