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O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


Futebol sem Fronteiras #35: Afinal, Palmeiras tem ou não tem Mundial?

Do UOL, em São Paulo

03/02/2022 16h49

O Mundial de Clubes da Fifa começou nesta quinta-feira (3), e com ele se renovam as esperanças dos torcedores palmeirenses em busca do inédito título. Ou seria do segundo mundial? Uma das questões mais polêmicas no futebol brasileiro, e que virou motivo de chacota para os adversários do alviverde, volta à tona.

No podcast Futebol sem Fronteiras #35 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade receberam Tiago Leme, repórter do Grupo Bandeirantes, para falar sobre a participação do Palmeiras no Mundial de Clubes. Eles discutem como o reconhecimento (ou não) do Palmeiras como campeão mundial está muito além do âmbito esportivo.

Tudo gira em torno da Copa Rio de 1951, torneio interclubes realizado no Brasil e que teve o Palmeiras como campeão. A competição reuniu clubes como a Juventus, Nacional-URU, Vasco e Estrela Vermelha. A polêmica se estabeleceu a partir do momento em que o Verdão pediu à Fifa para reconhecer o certame como o primeiro mundial.

"Essa é uma história fascinante. Apesar da polêmica e das provocações de torcidas, ela conta como um discurso pode ser construído ao longo de muitos anos. O Palmeiras apresentou para a Fifa um dossiê bastante extenso pedindo que seja considerado como o primeiro campeão mundial. A Fifa recebe aquilo ali e não seguimento ao pedido. Ela diz que o campeonato existiu, mas em momento algum diz que é o primeiro mundial. Não há essa reação oficial da Fifa", explicou Jamil.

O correspondente internacional mostrou como a Fifa, na figura do seu então presidente Joseph Blatter, ampliou a polêmica ao querer fazer política. "Esse tema continua e vai ganhando força. A Fifa, então, manda um comunicado para o Palmeiras, que acaba usando e diz que 'a Fifa reconheceu'. Reconheceu o torneio, e não que foi o primeiro mundial de clubes. Há todo um debate que vai caminhando até chegar à Copa do Mundo no Brasil, em 2014. A Fifa, no caso, Joseph Blatter, que faz política e não esporte, atende a um pedido de um certo palmeirense, o ministro do Esporte Aldo Rebelo. Para, de certa forma, resolver o tema e, ao mesmo tempo, agradar ao Brasil e ao ministro de Esporte do país que sediaria a Copa, Blatter vai lá e reconhece", disse.

Jamil, que estava presente à entrevista coletiva na qual Blatter fez o anúncio, detalhou como a entidade passou a tratar o tema de forma mais cautelosa para não colocar sua própria autoridade em dúvida. "Isso ganhou uma grande proporção. O problema é que o Blatter fez isso como um gesto político, e não pensando no papel da Fifa. E por que a Fifa logo depois dá um passo atrás, principalmente com o [Gianni] Infantino [atual presidente da Fifa]. É simplesmente porque a Fifa teve, por anos, que construir sua legitimidade internacional. Ela não nasce poderosa, dona do futebol mundial. A construção da Fifa levou anos para ser estabelecida. O monopólio dela sobre o futebol levou décadas. Existiram torneios no passado que não foram realizados pela Fifa. Por isso, ela não pode voltar e dizer 'reconheço aquele torneio'. Isso colocaria em xeque o monopólio do futebol pela Fifa", afirmou.

Jamil usou outro exemplo para ilustrar a situação. "Isso é uma questão legal, econômica e fundamental. Se hoje Inglaterra, França, Brasil, Argentina, Alemanha e Itália brigarem com a Fifa e disserem que vão organizar um Mundial, a Fifa tem como reconhecê-lo? Não. Se ela fizer isso, dará um tiro no próprio pé e esvaziando o seu próprio poder. A Fifa não pode reconhecer outros campeonatos que não sejam realizados por ela", acrescentou o colunista do UOL.

Chancela da Fifa está acima do futebol

Em um primeiro momento, a Fifa tratou como campeões mundiais aqueles clubes que venceram as competições organizadas por ela (2000 e a partir de 2005). Depois, incluiu nesta relação os ganhadores da Copa Intercontinental, disputado desde 1960 entre os campeões da Libertadores e da Liga dos Campeões. Jamil falou do critério utilizado para justificar essa decisão.

"A própria Conmebol chegou para a Fifa e disse que também havia um torneio continental e disputas entre europeus e sul-americanos organizadas pela Conmebol e pela Uefa. Há uma negociação, que estabelece 1960 como ano de corte", disse. Julio explicou que não foi um ano escolhido ao acaso. "As três aconteceram meio que ao mesmo tempo: a criação da Libertadores, da Copa dos Campeões e da Copa Intercontinental", complementou.

Seria, então, o caso de a Conmebol interferir e fazer o mesmo em relação à Copa Rio de 1951? Não é tão simples, como mostrou Jamil. "A Conmebol não pode propor para a Fifa o reconhecimento de uma competição que tampouco era dela. Isso não é um debate sobre futebol, mas de organização e monopólio. Por isso, é um debate sem solução. Não dá para dizer que é um bicampeonato porque são torneios completamente diferentes", analisou o correspondente internacional.

Outra questão que sempre levantou dúvidas é a de como os europeus encaram a disputa do Mundial de Clubes. Leme, que já morou na Inglaterra por vários anos, contou como os torcedores de lá lidam com o torneio. "Diria que, dentro da Europa, a Inglaterra seja um dos países que menos dão bola para o Mundial. Sabemos que os europeus não dão a importância que nós, brasileiros, damos. Para eles, talvez seja mais como um torneio de verão, de férias. Claro que jogam para ganhar, mas o torcedor não vai tirar sarro do adversário porque ganhou o Mundial", comentou o repórter. Ele ainda destacou que italianos e espanhóis valorizam um pouco mais o torneio, mas ainda assim longe do que se vê por aqui.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também como está o clima em Abu Dhabi para o Mundial de Clubes e se a movimentação de torcedores palmeirenses pode ser comparada ao deslocamento em massa de corintianos para o Japão em 2012 - coincidentemente, com o Chelsea como o clube europeu envolvido na disputa do Mundial de Clubes.

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.

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