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O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


OPINIÃO

Futebol sem Fronteiras #43: Sorteio gera duelos geopolíticos quentes na Copa

Do UOL, em São Paulo

01/04/2022 18h05

Um dos momentos mais aguardados do ano futebolístico aconteceu nesta sexta-feira (1º): o sorteio dos grupos da Copa do Mundo-2022. Além de saber quais são os rivais do Brasil, se há um grupo da morte e aquela "secada" nos rivais, a definição das chaves do Mundial (confira a tabela completa do Mundial) proporciona outro olhar, que mistura futebol e política. Se o torneio reserva duelos como Alemanha x Espanha e o encontro entre Lionel Messi e Robert Lewandowki, há também jogos quentes do ponto de vista geopolítico.

No podcast Futebol sem Fronteiras #43 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade se aprofundaram nas questões extracampo envolvendo os países participantes da Copa do Mundo. No caso mais notório, o Irã terá pela frente Estados Unidos e Inglaterra, com chance de a Ucrânia apimentar ainda mais o grupo.

"A Ucrânia vai jogar contra a Escócia. Quem passar desse jogo pega País de Gales. Se a Ucrânia não passar, o grupo terá Inglaterra, mais um país que forma a Grã-Bretanha, Estados Unidos e o Irã, o 'inimigo do mundo', que é alinhado à Rússia. Em 98, esse jogo ficou muito famoso [EUA 1 x 2 Irã, em Lyon}. Os jogadores se abraçaram antes da partida e tiraram fotos intercalados, mas me parece que a tensão mundial era menor naquele ano", comentou Julio.

O clima da partida entre EUA e Irã no Qatar será definido fora de campo, como mostrou Jamil. "Existe uma negociação acontecendo neste momento, com um novo acordo nuclear iraniano com as grandes potências ocidentais. Se esse acordo for fechado até lá, eventualmente teremos uma nova foto bonita. Haverá uma tentativa de restabelecimento da normalidade. O Obama conseguiu isso, mas veio o governo Trump e desmontou o acordo que o Obama havia feito. O Biden tenta restabelecê-lo. Se sair, teremos um jogo do diálogo. Se não, será um jogo de tensão", enfatizou.

Se a Ucrânia obtiver a vaga para a Copa, o grupo ganha ainda mais ingredientes geopolíticos. "Já dá para prever que esses jogos vão virar celebrações do caráter e da resistência ucraniana. Haverá homenagens, principalmente por serem jogos contra Estados Unidos e Inglaterra. Certamente a Ucrânia será festejada por estar presente. Os iranianos não assumirão as dores", afirmou Jamil.

Tensão entre Suíça e Sérvia

No grupo do Brasil, Sérvia e Suíça reeditam uma das partidas mais politizadas da Copa-2018. "Foi o jogo em que a Suíça ganhou da Sérvia [2 a 1] em Kaliningrado. Nessa partida, a Sérvia tinha todo o apoio do público, porque Rússia e Sérvia são países alinhados geopoliticamente. Os jogadores que fizeram os gols da virada suíça foram Xhaka e Shaqiri, que têm ascendência kosovar, país que não é aceito pela Sérvia e nem pela Rússia", explicou Julio.

O colunista do UOL lembrou que, ao comemorarem seus gols, Xhaka e Shakiri fizeram com as mãos o símbolo da águia negra de duas cabeças, presente na bandeira da Albânia - muitos kosovares são de origem albanesa. Kosovo fica dentro do território da Sérvia e, em 2008, declarou sua independência, que não foi reconhecida pelo governo sérvio. O gesto de Xhaka e Shaqiri gerou grande polêmica e foi interpretado como uma provocação pelos sérvios.

Jamil, que mora na Suíça, contou que o gesto teve longa repercussão no país. "Abriu um debate político na Suíça. No final dos anos 90, a Suíça recebeu essa leva de refugiados. Esses são os filhos daqueles refugiados que encontraram segurança na Suíça diante da guerra do Kosovo. Aquelas pessoas fugiram dos bombardeios sérvios e, portanto, têm na cabeça a Sérvia como responsável pela destruição de suas famílias. Os filhos agora representam um novo país e jogam exatamente contra a Sérvia. Não foi só uma tensão no jogo, mas também de uma espécie de vingança", disse.

O correspondente internacional e colunista do UOL espera por um novo encontro repleto de tensão entre suíços e sérvios no Mundial. "Vai voltar a acontecer algo parecido. No fundo, a situação hoje nas ex-repúblicas iugoslavas está ainda mais tensa do que em 2018. Há um perigo real de voltar o conflito na Bósnia. Com a guerra na Ucrânia, a caixa de Pandora foi reaberta", concluiu Jamil.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também quais são os componentes que fazem do duelo entre França e Tunísia, uma ex-colônia francesa, um dos mais tensos do Mundial. Julio e Jamil também projetaram os possíveis encontros das oitavas de final; quem pegou o caminho mais fácil rumo ao título?

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 16h no Canal UOL.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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