UOL Esporte Vôlei
 
28/04/2010 - 07h01

Veteranos adotam estratégias de longevidade para manter topo do Circuito Mundial

Paula Almeida
Em Brasília

O Circuito Mundial 2010 de vôlei de praia teve início na semana passada e, com exceção de um e outro jogador, o que se viu foi uma repetição de rostos na chave masculina. Campeões olímpicos em Pequim-2008, os norte-americanos Rogers e Dalhausser reafirmaram sua força e ficaram com a medalha de ouro da etapa de Brasília. O também campeão olímpico Emanuel levou a prata (ao lado do novo parceiro Alison), e Benjamin, que também já disputou a principal competição esportiva do mundo, conquistou o bronze (junto com o jovem Bruno Schmidt).

VETERANOS DO CIRCUITO MUNDIAL 2010

Franco (BRA), 43 anos
Benjamin (BRA), 38 anos
Emanuel (BRA), 37 anos
Schuil (HOL), 37 anos
Rogers (EUA), 36 anos
Fuerbringer (EUA), 36 anos
Márcio (BRA), 36 anos
Ricardo (BRA), 35 anos
Laciga (SUI), 35 anos
Harley (BRA). 35 anos

Nomes conhecidos do cenário internacional, os quatro atletas têm ainda em comum o fato de já terem passado dos 30 anos. Benjamin, Emanuel e Rogers, por sinal, estão entre os mais velhos do Circuito, e ainda assim continuam entre os jogadores tops da modalidade.

De maneira geral, a média de idade dos atletas que disputaram a chave principal de Brasília foi de 28,17 anos. E nessa conta sequer entraram os veteranos brasileiros Franco e Márcio, que não conseguiram passar do qualifying. Considerando-se o pódio na capital federal, a idade média dos seis atletas foi de 31,33 anos.

Mais velho entre os jogadores que passaram por Brasília na semana passada (43 anos), Franco, que disputa o Circuito Mundial desde a primeira temporada, em 1997, e já jogava antes disso, acredita que o principal fator de longevidade no vôlei de praia são as condições estruturais da modalidade. “O vôlei de praia, por ser disputado na areia, diminui as chances de lesão que costumam abreviar a carreira do atleta. O esforço maior é um esforço muscular, mas se você treina, na academia principalmente, você vai ter um respaldo para continuar jogando”, analisou o cearense em entrevista ao UOL Esporte.

A opinião é compartilhada por Todd Rogers, de 36 anos. “Como a areia é fofa, você não precisa jogar em um solo duro como o chão ou a própria grama, como é o caso do futebol e de outros esportes. Não é tão duro para o corpo. A areia fofa protege os joelhos, as coxas”, reiterou o americano.

Em geral, os atletas de vôlei de praia que chegam tão longe no esporte têm em comum o fato de seguirem uma rotina disciplinada. “Eu tenho um cuidado especial com o meu corpo, não gosto de sair, não gosto da noite”, comentou Benjamin, de 38 anos, com uma das formas físicas mais elogiadas entre os esportistas. “Isso ajuda bastante, porque o vôlei de praia é um esporte muito duro. Tem o sol, tem a areia, que sobrecarregam muito, então eu tento ter uma disciplina e acho que isso faz a diferença. Meu próprio técnico diz que eu tenho corpo de 20 anos”.

Apesar de os primeiros registros do vôlei de praia datarem da primeira metade do século 20, a prática começou a se destacar na década de 1970 e só virou modalidade olímpica nos anos 1990, mais precisamente nos Jogos de Atlanta em 1996. Justamente por ser um esporte ‘recente’, alguns atletas acreditam ser cedo para se dizer se um jogador de 35 anos é velho para a modalidade.

VETERANOS SE ALIAM A JOGADORES NOVATOS

Dispostos a se reinventarem dentro do vôlei de praia, alguns veteranos do Circuito resolveram ‘adotar’ jogadores mais jovens. Foi o caso de Emanuel. Com o fim de sua dupla com Ricardo, o campeão olímpico juntou-se a Alison, de 24 anos.

Além de usar o bloqueio do capixaba (vice-campeão mundial no ano passado), Emanuel tem se aproveitado de jovialidade do jogador. “O Alison tem um espírito guerreiro e sabe aproveitar muito bem toda a juventude que tem. Quando o jogo precisa de mais agressividade, ele aparece, mas quando precisa de mais cadência, eu entro. Esse equilíbrio é importantíssimo no vôlei de praia”, comentou o paranaense ao UOL.

Quem adotou tática semelhante foi Benjamin, mas ao contrário de Emanuel, que encontrou um exímio bloqueador, o sul-matogrossense se uniu a um grande defensor, o brasiliense Bruno Schmidt, de apenas 23 anos. “Quando a gente vai sair pra algum torneio, eu brinco que vou pedir autorização ao pai do Bruno”, divertiu-se Benjamin.

Na parceria, Bruno tem adicionado uma dose de energia ao contido Benjamin, que não costuma comemorar os pontos nem falar muito em quadra. “Eu não tenho dúvida de que a juventude do Bruno, a energia dele me ajuda demais, ainda mais eu, que sou um pouco calado. Estou muito satisfeito com a nossa dupla”, completou o veterano.

“Acho que o vôlei de praia é um esporte muito novo ainda para se medir a idade do ápice de um atleta. No futebol, um jogador com 25 anos já ta velho, é um absurdo isso. No vôlei de praia isso é diferente, o atleta tem mais longevidade. Você vê o Karch Kiraly [americano], que foi campeão olímpico com 38 anos. Então, isso é muito relativo”, ressaltou Márcio, de 36 anos.

Campeão olímpico ao lado de Emanuel, Ricardo, de 35 anos, pensa de maneira semelhante. “Acho que o vôlei de praia não tem idade nem para veteranos nem para novos. Conta muito a experiência”, afirmou. “Eu acho que a maturidade do jogador de vôlei de praia vem a partir dos 30, quando está bem tanto fisicamente quanto na parte tática”.

Campeão do Circuito Mundial em 2008 e melhor jogador do mundo naquele ano e também em 2009, o brasiliense Harley destaca o estado mental dos atletas após os 30 anos. “O vôlei de praia vai muito da cabeça do atleta. A experiência conta muito, e a cabeça tem que estar boa para continuar jogando. É quando você atinge a maturidade, e isso ajuda bastante dentro de quadra”, analisou o jogador de 35 anos.

Trabalho específico

Apesar da idade ‘avançada’, Harley, tal como Benjamin, ainda não tem uma preparação específica. “Eu treino até mais do que antes, estou mais focado. Às vezes até preciso de um puxão de orelha, para não forçar demais”, brincou o brasiliense.

Os outros ‘vovôs’ do Circuito, porém, já fazem trabalhos diferenciados. “A preparação vai sendo moldada com o tempo. Chega uma hora que você não precisa treinar mais com tanta intensidade quanto antes. Então você pode moldar o treino de forma que não seja cansativo e que você possa usufruir melhor”, explicou Ricardo.

A opção de Franco tem sido a fisioterapia preventiva. Já Todd Rogers mudou sua sequência de exercícios e tem priorizado o trabalho pós-treino. “Passo mais tempo agora no alongamento, faço bastante massagem, e a carga de treinamento é um pouco mais leve. É preciso ser esperto para não se sobrecarregar, porque é difícil voltar de contusões”, justificou.

Outros atletas, por sua vez, começam a dar uma dedicação especial à mente. É o caso de Fábio Luiz, de 31 anos. “O essencial é saber cuidar do corpo e da cabeça. Para o meu corpo, faço uma preparação especifica há bastante tempo. Para o lado psicológico, eu voltei a estudar, estou cursando Administração. Isso é bom para conseguir ter a cabeça de um lado, o corpo no outro. Isso vai te levando a um caminho para que, com 40 anos, você possa ter uma experiência de vida tanto pessoal quanto profissional”, comentou o capixaba.

Compartilhe:

    Placar UOL no iPhone

    Hospedagem: UOL Host