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FIVB/Divulgação

Filho de Bernardinho, levantador usa títulos para justificar presença na seleção

15/10/2010 - 07h07

Bruninho nega medo da sombra de Ricardinho e recorre a currículo campeão

Bruno Império e Roberta Nomura
Em Guarulhos (SP)

Bruninho chegou ao Campeonato Mundial de vôlei na condição de reserva. Perdeu a posição após atuações irregulares. A má fase coincidiu com especulações do retorno de Ricardinho, mas o levantador negou interferência da sombra do veterano. Na Itália, teve sua imagem frequentemente relacionada a de seu pai, o técnico Bernardinho. As respostas vieram todas dentro de quadra e o jogador de 24 anos recorre ao currículo campeão para superar a pressão e justificar o posto ocupado na seleção brasileira: titular do atual tricampeão mundial.

A vaga era, a princípio, de Marlon. Mas o jogador sofreu com uma colite ulcerativa (inflamação crônica intestinal) e perdeu as duas primeiras fases do Mundial. Bruninho era a única opção para a posição e não decepcionou. Estreante, ele terminou a competição disputada na Itália em terceiro na estatística dos levantadores.

Sempre tranquilo e solicito, Bruninho concedeu entrevista exclusiva ao UOL Esporte. Falou com segurança sobre as pressões por ter entrado na equipe em momento conturbado – após o afastamento de Ricardinho às vésperas do Pan-Americano de 2007 –, sobre a sombra do veterano, sobre sua má fase e as cobranças por ser filho de Bernardinho. Confira a entrevista:

UOL Esporte – Como você avalia seu desempenho no Mundial? Foi sua melhor competição?
Bruninho - Não sei. Acho que fui bem como toda a equipe. Fiz alguns bons jogos, mantive regularidade e achei que isso foi o mais importante. Eu vinha de altos e baixos e isso podia ter atrapalhado, principalmente um levantador. Mas fui bem. E, principalmente, consegui fazer com que a seleção jogasse bem. Nos jogos importantes conseguimos jogar bem e vencer.

UOL Esporte – O que passou pela sua cabeça quando sentiu o tornozelo contra a Itália? Achou que ficaria fora da final?
Bruninho - Achei que ia ser difícil, porque a pisada foi forte e eu não tinha noção da gravidade da situação. Durante a noite eu fiz todo o tratamento, gelo, dormi 5h da manhã, tive que fazer esse sacrifício. No dia seguinte, as coisas melhoraram, mas estava com dificuldade de pisar. Só que quando começou o bobinho no aquecimento e comecei a esquentar um pouco mais, acabei esquecendo um pouco. Mas Deus escreve certo por linhas tortas. O Marlon merecia muito também ter jogado por tudo o que ele passou. Ele foi fantástico na semifinal também e tenho certeza que, se precisasse que ele jogasse a final, ele daria conta do recado.

Já ganhei cinco Superligas, duas Ligas Mundiais, um Mundial, um Pan-Americano. Se as pessoas quiserem continuar falando, podem falar.

UOL Esporte – A imprensa, principalmente internacional, associa muito a sua imagem a do seu pai. Isso te incomoda?
Bruninho - Não me incomoda mais. Acho que poucas pessoas no Brasil continuam falando e vão falar para o resto da vida. Não sei. Já ganhei cinco Superligas, duas Ligas Mundiais, um Mundial, um Pan-Americano. Se as pessoas quiserem continuar falando, podem falar. Vou só continuar a trabalhar mais e crescer. Tenho só 24 anos e todo mundo diz que levantador é como o vinho, fica melhor quanto mais velho.

UOL Esporte – Você fez uma fase final de Liga Mundial ruim. O que mudou em dois meses, do fim da Liga para o início do Mundial?
Bruninho - Os altos e baixos que tive neste início de Liga Mundial. Conversei bastante com o pessoal da Cimed. Eles acharam que foi tudo muito rápido. Eu tive pouco tempo para descansar, para desligar um pouco. Acho que faltou um pouco de lucidez para mim naqueles momentos, principalmente na fase final. Acho que esta confiança que eu sempre tive no meu jogo, naquele momento, estava abalada. Insegurança. Já neste Mundial eu estava mais tranquilo, bem de cabeça, super motivado. E acabou acontecendo tudo da maneira que deveria ter acontecido.

UOL Esporte – A sua fase ruim coincidiu com as especulações da volta de Ricardinho. Isso te atrapalhou?
Bruninho – Em nenhum momento. Sempre que alguém vier com mentalidade para crescer o time, para melhorar, tenho certeza que é bom para o grupo. Seja outro levantador ou qualquer coisa. Não sou vaidoso ao ponto de achar que tenho que jogar sempre. Se tem alguém que pode vir e contribuir mais, por que não? Eu estou aqui por causa do meu trabalho. Em nenhum momento isso me atrapalhou. Acho que ali foi falta, de repente, de uma experiência maior, estar com a cabeça melhor. E me preparei para este Mundial. Acho que foi importante também ter passado por aquilo naquele momento.

Eu não sou vaidoso a ponto de achar que tenho que jogar sempre. Se alguém pode somar, por que não?

UOL Esporte – Uma possível volta do Ricardinho faria bem para a seleção brasileira?
Bruninho - Eu gostaria de saber como seria a volta dele. Tecnicamente falando, ele é um excelente levantador e dispensa qualquer tipo de comentário. Acho que poderiamos perder em algumas coisas, como bloqueio e defesa. Mas com a bola na mão, jogando como levantador, tecnicamente ele é sensacional. Com a mentalidade que este grupo sempre teve, com esta filosofia, eu acho que ele poderia acrescentar sim. Agora, não sei o que se passa pela cabeça dele, pela cabeça do pessoal. Isso é tudo o que eu posso falar, porque sinceramente não sei o que pode acontecer.

UOL Esporte – O Grbic [sérvio] ficou com o prêmio de melhor levantador do Mundial. O que acha dele? Achou justa a premiação?
Bruninho - É um jogador muito inteligente, que sabe jogar para o time, campeão olímpico. Um cara que eu respeito muito e tem uma história muito grande no voleibol. Mas não sou fã do jogo dele. Falar isso seria demagogia e hipocrisia minha. Falar que sempre me espelhei nele é mentira. Mas é um cara muito inteligente que sabe fazer o time jogar. Esse é o principal ponto forte dele, além de ser um cara muito alto, que bloqueia, defende, cara que joga para o time. Neste Mundial, eu destacaria o Vermiglio [italiano]. Apesar da marra dele, acho ele um ótimo levantador. O levantador da República Tcheca também, que era um cara que eu não conhecia ainda, jogou bem também. Destacaria esses aí. Acho que mereciam mais do que o Nikola [Grbic].

UOL Esporte – E onde você entra nesta lista?
Bruninho - Eu entro na lista dos campeões. Meu nome está escrito entre os campeões mundiais e isso é o que mais me importa. Não sou vaidoso a esse ponto. Pode ficar o Nikola [Grbic] com quantos troféus individuais ele quiser. O que importa é que o geral é nosso.

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