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Vaidosa, Paula assume lado "perua" e não dispensa batom antes das entrevistas

12/11/2010 - 07h00

Musa, Paula Pequeno evita assunto silicone por foco em imagem no esporte

Renato Cury e Roberta Nomura
Em Araçatuba (SP)*

O desempenho destacado rendeu inúmeros títulos coletivos e o reconhecimento individual: Paula Pequeno foi eleita a melhor jogadora da Olimpíada de Pequim-2008 na campanha do inédito ouro da seleção brasileira feminina de vôlei. Fora de quadra, a brasiliense também chama a atenção. É atenciosa com os fãs e carrega o status de musa. Embora reconheça o lado “perua”, a jogadora de 28 anos prefere ser referência no esporte e, justamente por isso, desassocia sua imagem à sensualidade e evita o assunto silicone.

Paula Pequeno não nega a cirurgia estética, mas não dá detalhes nem se aprofunda no assunto. “Não queria associar a minha imagem de atleta com um lado mais sensual, acho que não é por aí”, explicou. Ela prefere ser lembrada por seu desempenho em quadra, suas conquistas. E não são poucas. Com o Osasco, faturou três títulos de Superliga (2002/2003, 2003/2004 e 2004/2005). Em sua passagem de seis meses pela Rússia também sagrou-se campeã nacional.

A ponteira superou períodos de ausências por lesão para somar várias convocações para a seleção brasileira. No time verde-amarelo, somou títulos importantes como Grand Prix e Copa dos Campeões, mas o auge veio em 2008, quando comandou a equipe ao topo do pódio olímpico. Agora, Paula Pequeno ficou de fora do Mundial do Japão, novamente por lesão. Ainda em período de recuperação, a jogadora recebeu o UOL Esporte nas dependências do Vôlei Futuro, seu novo clube, e falou sobre o período na Rússia, preocupações estéticas, seleção brasileira e a filha Mel, de quatro anos. Confira a entrevista:

UOL Esporte – A lesão no tornozelo te tirou do Mundial. Como você está? Ainda sente dor?
Paula Pequeno –
Estou me sentindo bem. O tornozelo eu realmente recuperei. Tem uns resquiciozinhos, mas coisa que vai sarar com o tempo mesmo. O que me incomoda agora é o tendão calcâneo, que acabou sobrecarregado e a gente está tentando administrar, pelo menos, estabilizar esta dor para começar o retorno forte, com salto, treinamento normal. Hoje ainda sinto bastante dor em treinamento. Mas tenho feito musculação forte, como tem que ser. Ele está inflamado, sofrendo um pouco e a gente tem que saber administrar direitinho.

UOL Esporte – O quanto uma lesão assim desanima o atleta? Como é a reconstrução?
Paula Pequeno –
A gente acaba se acostumando. Com o que a gente faz, sabe que está sujeito a lesão o tempo inteiro. Quando isso acontece, tem que estar com a cabeça boa. Sabe que vai ser difícil. Recomeçar não é fácil, mas eu encaro a coisa de uma maneira muito natural e positiva. Sempre que você me vê chorando, já pode me imaginar sorrindo. Sempre que me vê triste, já pode me imaginar feliz, porque é uma coisa que dá e passa. No outro dia, se eu mesma não me dispuser a passar por isso da maneira que Deus escolheu para mim e da melhor maneira, mais positiva, isso acaba sendo mais difícil. Eu sempre acabo vendo a coisa pelo lado bom e positivo. É seguir em frente, nunca olhar para trás.

UOL Esporte – Qual foi o corte mais difícil, o de Atenas-2004 ou agora para o Mundial-2010?
Paula Pequeno –
O da Olimpíada, com certeza. Porque não tive a chance de poder ir. Já estava no meio da Superliga e sabia que não ia dar tempo de recuperar. Na hora que aconteceu, eu senti que era grave e que não ia dar para ir. Este corte foi muito consciente. Eu e o Zé Roberto conversamos, ele achou que eu ainda não estava apta para jogo e, ao mesmo tempo, com esta dor, ele achou complicado levar, me deixar longe da minha filha, com dor, com risco de machucar mais ainda e sem jogar. Foi um consenso mesmo. Em momento algum eu relutei, porque se eu tivesse melhores condições ou a torção tivesse sido há dois meses, isso não teria acontecido. Mas realmente foi muito em cima e não deu tempo. O pé até recuperou. O problema é que até recuperar a parte física e pegar o ritmo que as meninas estavam enquanto você estava parada, acaba sendo complicado.

UOL Esporte – Antes do Mundial, você ficou boa parte do Grand Prix no banco. Como foi para você, melhor jogadora do mundo em 2008, ser reserva?
Paula Pequeno –
É uma fase e você precisa respeitar. No ano passado eu operei o joelho e eu precisei ficar fora. Quando você sai, entra alguém no seu lugar. Isso é fato, se você abre espaço, entra alguém. E para retornar, precisa ter paciência, trabalhar forte e ter respeito por tudo aquilo que fizeram enquanto você não estava. Acho que isso é um princípio importante para quem está na seleção porque está todo mundo no mesmo nível. Quando você precisa sair, alguém vai entrar e você precisa ter paciência e muita dedicação para retornar. E seria o que ia acontecer, eu tenho certeza. Eu estava em uma trajetória boa de evolução, quando infelizmente aconteceu a torção no pé. Na evolução que eu estava, para o Mundial eu estaria me sentindo bem preparada para um campeonato assim muito alto nível. Mas a gente precisa encarar os desvios da melhor maneira. Não estou lá? Queria estar, mas ao mesmo tempo já estou aqui. Me adaptando, me instalando, conhecendo melhor as meninas, podendo estar mais junto do time. É assim que procuro ver tudo.

PAULA PEQUENO FALA SOBRE SUPERLIGA E O REENCONTRO COM O EX-TIME OSASCO

  • Divulgação

    UOL Esporte – O Vôlei Futuro se reforçou nesta temporada. Mesmo com a falta de entrosamento inicial, dá colocar o time na briga pelo título da Superliga?
    Paula Pequeno –
    Com muito trabalho, dá. A gente sabe que é uma estrada longa, difícil. Nosso objetivo aqui é levar o Vôlei Futuro para onde nunca esteve. Assim que as meninas chegarem, a gente vai montar a nossa programação e traçar nossas metas em conjunto e aí vai embora, com fé e força. Tentando buscar e superar as expectativas.

    UOL Esporte – Qual é o time a ser batido?
    Paula Pequeno –
    Tem o Osasco, Unilever. Depois São Caetano, Pinheiros. Está equilibrado. Minas e São Bernardo que vão incomodar se a gente não tiver atenção.

    UOL Esporte – Você defendeu o Osasco por dez anos. O reencontro vai ser difícil?
    Paula Pequeno –
    Não. Alguns torcedores já me disseram: “como você vai ter coragem de jogar contra a gente?”. Eu não vou jogar contra os torcedores. Vou jogar contra o adversário. Adversário para mim pode ser minha mãe, meu pai, meu irmão. Não tem problema, quero ganhar de qualquer maneira, não importa. O que ficou de Osasco é o amor pela diretoria do Bradesco, foram muitos anos de relação, e a torcida de Osasco, que foi muito querida. Um carinho imenso por mim e eu não posso nem explicar a relação que a gente tem de amor. Com relação a time, eu sou Vôlei Futuro até morrer, não importa. O que passou, passou. Ninguém vai tirar de mim o amor que eu tenho pelo Osasco e pelas pessoas que me ajudaram nestes dez anos. Mas daqui para frente, já virou a chavinha, é uma outra etapa da minha vida e eu estou bem feliz.

UOL Esporte – Você ficou seis meses na Rússia. Como era o treinamento lá?
Paula Pequeno –
Treinava muito menos. É um conceito muito diferente. Não era muito aproveitável. Aqui é. Querendo ou não, dá uma ansiedade de querer aproveitar logo esta qualidade de treinamento. Para que o retorno seja antecipado e volte bem, inteira, 100% e bem tecnicamente.

UOL Esporte – E na parte pessoal, como foi sua adaptação na Rússia?
Paula Pequeno –
A minha filha foi comigo. Ela e meu marido. Graças a Deus a família estava junto. Para mim, foi um alicerce. Se minha família não estivesse lá, eu não sei se teria suportado tudo aquilo. Para a Mel [filha de quatro anos], deve ser um mundo de fantasia. Porque, às vezes, ela fala assim: “mamãe, quando eu vou aparecer na televisão? Quando eu vou dar autógrafo?”. E eu não sei o que responder. Mas falo: “já pode dar, porque você já é uma estrela. Sua estrela é muito mais brilhante do que a da mamãe”. Ela olha com aquela cara fantasiando igual ao Bob [desenho], se botar uma nuvenzinha aqui tem uma história acontecendo. Ela reage naturalmente. Quando ela vê alguém que quer tirar foto comigo, ela corre e quer tirar também. Tudo ela vem atrás de mim.

UOL Esporte – A Mel já entende a sua importância no esporte?
Paula Pequeno –
Não sei. Acho que ao pé da letra não deve entender direito, não deve ter uma noção assim. Mas ela vê que o assédio é grande. Quando a gente vai sair do ginásio eu falo para ela: “vai com o papai, que a mamãe já está indo”. E ela não contesta, porque sabe que é um momento tumultuado e eu tenho que dar atenção para os meus fãs e eu dou mesmo. É um momento que eu abro mão da minha família para dar atenção para os meus fãs, porque acho muito importante. E ela entende. É extremamente inteligente e sensível. Acho que ela entende desta maneira: eu com ela. Eu consigo transmitir para ela o motivo das coisas naquele momento.

UOL Esporte – Chegou a passar algum perrengue na Rússia? Conseguia dirigir lá?
Paula Pequeno –
Eu não ia dirigindo para o treino, não. Era muito difícil ler placa. Motorista é armênio e falava russo e a gente tentava falar inglês e ele tinha muita boa vontade. Ele foi um fofo, que ajudou muito a gente. Estamos querendo trazer ele para cá neste fim de ano para ver se passa o Réveillon com a gente. Já tinha planos de conhecer o Brasil. É uma pessoa que ajudou muito e a gente queria dar esse presente para ele.

UOL Esporte – Você se arrepende de ter ido para a Rússia?
Paula Pequeno –
Não me arrependo, não. Acho que até faria novamente. Principalmente com o resultado final. Nós estávamos perdendo a série por 2 a 0, viramos e ganhamos dentro da casa delas [Zarechie Odintsovo venceu o Dínamo de Moscou]. Como se fosse um presente. Mas se olhasse pelo lado profissional, talvez eu repensasse a ideia se eu tivesse que ir novamente.

UOL Esporte – O que mais te atraiu para voltar para o Brasil e fechar com o Vôlei Futuro? E como tem se adaptado a uma cidade do interior?
Paula Pequeno –
Quando eu saí da Rússia, eu já estava super a fim de ficar no Brasil. No primeiro dia aqui, eu fui almoçar com meu empresário e ele comentou sobre a proposta do Vôlei Futuro. Na verdade, a proposta veio depois. Fui conhecer o projeto e me encantou muito, porque é um projeto sólido. Não é um patrocinador, não é uma coisa que tem em vista retorno de marketing e retorno financeiro. É uma paixão. E eu sou muito apaixonada pelo o que eu faço. Então, são coisas que se batem. A gente acabou acertando os últimos detalhes e eu fiquei muito feliz por ter fechado. Tanto que fechei por dois anos. E Araçatuba foi uma grata surpresa. Porque eu sou muito urbana. Sempre falei que se morasse em uma cidade pequena eu ia contratar um monte de motoqueiro para ficar xingando, gritando, buzinando: “ei, sai da frente”. Porque eu sou muito assim. Mas eu estou adorando. Meia-noite você olha da varanda e a cidade está parada, uma paz. Aquilo também te traz uma paz de espírito gostosa. Durante o dia, está suprindo tudo o que eu preciso e eu já estou dirigindo para tudo quanto é lado, porque até pelo tamanho acaba sendo mais fácil. A cidade é linda, apesar de pequenininha. É bem arrumadinha, estou feliz. E o calor, né? Eu adoro derreter. Eu sou muito friorenta e para mim é muito bom.

UOL Esporte – Vai jogar por quanto tempo? As lesões podem atrapalhar?
Paula Pequeno –
Não, vou jogar por muito tempo ainda. Lesão todo mundo tem. Ainda mais porque graças a Deus eu recupero rápido, tenho geneticamente a parte muscular forte. Não tenho receio nenhum. Enquanto Deus me der saúde, eu vou até entrar no Guiness [livro dos recordes].

*Os jornalistas viajaram a convite do Vôlei Futuro

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