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Brigas e punições na Superliga expõem lado sem 'fair play' do cordial vôlei

Roberta Nomura

Em São Paulo

01/02/2011 07h07

A postura educada dos jogadores com árbitros e a honestidade na acusação de pontos rivais elevaram o voleibol ao posto de exemplo de ‘fair play’. As habituais provocações na rede ficavam ofuscadas e reclamações com os juízes não eram frequentes. Mas justamente esse lado menos cordial está mais exposto nesta Superliga masculina, com aumento de brigas e punições.

VÔLEI FUTURO É ELEITO TIME MAIS CHATO E É RECORDISTA DE POLÊMICAS NO ANO

Maior investimento da temporada, o Vôlei Futuro despontou como um dos favoritos ao título da Superliga masculina. Dentro de quadra, ainda busca evolução. Fora delas, é líder absoluto em um quesito: é o time mais chato de enfrentar, segundo técnicos e jogadores. E a equipe de Araçatuba já coleciona polêmicas na temporada. Confira:
CONFUSÃO COM A CIMED - Desentendimento entre jogadores de Vôlei Futuro e Cimed termina com denúncia de agressão física e três jogadores suspensos pelo STJD do vôlei.
POLÊMICA COM CAMPEÕES MUNDIAIS - Escadinha, do Sesi, e Leandro Vissotto, do Vôlei Futuro, se desentenderam na 2ª partida da final do Paulista e trocaram acusações.
INDIGNAÇÃO DO MINAS - O Minas reclamou muito da arbitragem na derrota em casa para o Vôlei Futuro. Até o experiente jogador Henrique, de 32 anos, se descontrolou e foi suspenso.
CAMPEÃO MUNDIAL SUSPENSO - O líbero Mário Júnior é mais um na lista dos que criticaram a arbitragem. Foi parar no tribunal após dizer: "Tu, tu e tu é ladrão, eu sou seleção", segundo a súmula.
VOLTA REDONDA FAZ B.O. POR AGRESSÕES - O Volta Redonda também reclamou muito da arbitragem. O time ainda fez um boletim de ocorrência por agressão. O Vôlei Futuro nega.

A primeira fase da atual temporada nem acabou e Superior Tribunal de Justiça Desportiva já computa aumento nos julgamentos. “Não tenho este dado em números, mas houve uma incidência maior de indisciplina. Estamos tendo uma sequência maior de fatos assim e o auge foi em janeiro. É hora da CBV, via tribunal, coibir estes atos indisciplinares. As pessoas que são denunciadas, são julgadas”, disse o presidente do STJD do vôlei, Aloysio Costa, ao UOL Esporte.

Entre as pautas do tribunal já estiveram ofensas a árbitros, brigas entre atletas e denúncias de objetos atirados em quadra. Clubes, dirigentes e jogadores receberam punições pesadas principalmente no mês de janeiro por incidentes ocorridos em dezembro. Todos os julgamentos ocorreram na competição masculina – fato que corrobora o índice histórico superior entre os homens, segundo o presidente do STJD do vôlei.

Crescimento da modalidade, maior exposição na mídia, intensificação do rigor do tribunal e aumento na competitividade são algumas das justificativas para o aumento de julgamentos e punições. “Quando comecei a jogar antes de 2000, tinha muita rivalidade e não se falava sobre isso. Talvez o vôlei esteja mais em evidência. Mas isso sempre aconteceu e o tribunal está aí para inibir. Ninguém vai querer ser suspenso ou perder mando de quadra, principalmente nestas fases decisivas”, opinou o ponteiro Murilo, do Sesi-São Paulo.

O técnico Marcos Pacheco sofreu indiretamente com o tribunal. O treinador da Cimed perdeu Jardel por dois jogos. O central chegou a ser denunciado por agressão física, mas foi absolvido. No entanto, pegou gancho ao ser enquadrado no artigo 258 (assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva). “Com jogadores importantes, grande mídia cobre mais e tem uma exposição maior. O grande público quer saber o que acontece. Eu não via isso antes. Sempre ocorreram as situações. Mas a maior disputa, a busca pela classificação e os ânimos mais acirrados fazem isso: mais cartões, mais relatórios”, analisou o atual campeão da Superliga.

O tribunal também julgou atletas experientes. Com passagem pela seleção brasileira, o central Henrique chegou a ser suspenso por quatro partidas. O árbitro da partida entre Vivo/Minas e Vôlei Futuro relatou que o jogador de 32 anos disparou palavrões em uma reclamação. “Eu nunca tinha sido punido, nem julgado. Na minha opinião, foi uma postura da comissão de arbitragem para mostrar quem é que manda, dar o recado. Arbitragem tem poder”, falou.

“Eu acho que é uma união destas duas coisas: o aumento da competitividade e um maior rigor por parte do tribunal. Além disso, acho que esta maior tensão dos jogadores se deve ao alto investimento de muitos patrocinadores em várias equipes, o que acaba gerando uma cobrança muito grande por resultados. Então, um erro do árbitro ou de um bandeirinha ao fazer uma marcação errada, cria uma pressão muito maior do que acontecia ano passado ou há dois anos”, explicou o central Gustavo, do Pinheiros/Sky.

Embora reconheçam o aumento no número de brigas e punições, técnicos e jogadores são unânimes ao dizer que nada disso diminuiu a fama ‘camarada’ do voleibol. “Não teve um escândalo enorme, não teve porrada entre torcida nem nada desse tipo. Então, acho que não muda. O vôlei é o esporte que é e vai manter a tradição do fair play. Não vai atrapalhar a imagem”, finalizou Murilo.