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Em sintonia com 'boleiros', Cruzeiro faz história na Superliga masculina

Máfia Azul leva para os ginásios de vôlei a maneira de torcer típica dos estádios - Guyanne Araújo/UOL Esporte
Máfia Azul leva para os ginásios de vôlei a maneira de torcer típica dos estádios Imagem: Guyanne Araújo/UOL Esporte

Bernardo Lacerda e Gustavo Andrade

Em Belo Horizonte

21/04/2011 07h00

Primeiro clube de futebol a chegar à decisão da Superliga Masculina de Vôlei, que será disputada no próximo domingo, às 10h, no Mineirinho, contra o Sesi, o Sada/Cruzeiro levou para os ginásios uma boa parcela da torcida acostumada a empurrar o time nos gramados. Essa sintonia entre futebol e vôlei, no entanto, foi além das arquibancadas. O apoio de jogadores do time de futebol celeste se fez presente em momentos decisivos, como na vitória na semifinal sobre o Vôlei Futuro.

APOIO CELESTE AO SEU TIME DE VÔLEI

  • Guyanne Araújo/UOL Esporte

    Houve sintonia entre as equipes de futebol e de vôlei do Cruzeiro e a torcida fez a sua parte

A torcida celeste lotou o acanhado ginásio do Riacho, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nos dois jogos da semifinal contra o Vôlei Futuro, quando o Sada/Cruzeiro conseguiu a classificação para a final. No jogo que decidiu a série, no triunfo cruzeirense por 3 a 0, a equipe de vôlei celeste teve reforço de jogadores da equipe cruzeirense de futebol, como os goleiros Fábio e Rafael, Pablo, Wallyson, Henrique e Brandão, além do técnico Cuca.

E a partida que eliminou o Vôlei Futuro foi a primeira que Cuca assistiu ao vivo. Ele reconheceu que sofreu fora das quatro linhas. “Fui mais porque é o Cruzeiro. Eu nunca tinha ido a um jogo de vôlei, foi primeira vez. Gostei muito, mas a gente sofre muito também. A gente encarna o espírito e sofre, ainda mais que se tornou um jogo de rivalidade extrema. Daí, a gente faz parte disso também. Foi ótimo e melhor ainda que passou adiante”, disse.

Se os ‘boleiros’ não resistiram e embarcaram na emoção do vôlei, a situação não foi diferente entre os torcedores. “A torcida do Cruzeiro mudou um pouco a forma do torcedor do vôlei torcer. Isso fez a diferença, no estádio mais acanhado, que faz barulho, pressão nos adversários, a gente viu isso claramente contra o Vôlei Futuro. É uma torcida diferente, que apoia o time todo”, observou Breno Souza, integrante da Máfia Azul, maior torcida organizada do Cruzeiro.

HOMOFOBIA NA SEMIFINAL DA SUPERLIGA

A polêmica em que a torcida do Sada Cruzeiro se envolveu na primeira partida da semifinal da Superliga, contra o Vôlei Futuro, fez com que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) pense na criação de uma comissão para estudar a chegada de clubes de futebol à Superliga. No primeiro jogo da série, que foi decidida em três partidas, os torcedores pegaram no pé do meio de rede Michael, com manifestações consideradas homofóbicas.
A atitude dos cruzeirenses gerou protesto de Michael, que criticou a atuação da torcida e o forte preconceito que enfrentou, assumindo sua condição de homossexual. O Vôlei Futuro saiu em defesa de seu jogador e uma troca de comunicados e críticas entre as equipes teve início. O caso foi parar no STJD.
A decisão de multar em R$ 50 mil o time mineiro foi tomada dois dias antes do terceiro jogo, em julgamento realizado na Confederação Brasileira de Vôlei. O clube mineiro poderia pagar até R$ 100 mil. A decisão desagradou o Vôlei Futuro que cobrava punição mais severa.
Na última terça-feira, após a eliminação, a diretoria do Vôlei Futuro voltou a criticar a manifestação do torcedor mineiro, através de nota oficial. Houve repúdio aos gritos de ?Richarlyson? entoados por toda a arquibancada em Contagem.

“A torcida empurra durante todo o jogo, não paramos de cantar um minuto sequer. A gente empurra o time para vencer, apoiamos, levamos músicas do futebol para as quadras, isso é diferente, só o Cruzeiro tem uma torcida como esta”, explicou Wagner Rodrigues Araújo, torcedor do Cruzeiro e membro participativo da Máfia Azul.

O atacante de ponta Filipe reconhece que o apoio da torcida é fundamental para o Sada/Cruzeiro. “Eles são o motor do time, eles impulsionam a equipe, nosso time se inflama com o torcedor, que nos empurra, estão de parabéns”, afirmou o jogador. “A massa cruzeirense dá um calor, esse é o nosso diferencial”, acrescentou.

Os jogadores de futebol do Cruzeiro que engrossaram a torcida, ajudaram a ‘inflamar’ os atletas em quadra. “Foi uma experiência muito boa para mim, Henrique e Pablo. É uma emoção muito grande ficar vendo os jogadores que você sempre acompanha. Foi a primeira vez que fui ver um vôlei masculino. Fui pé quente também. O Cruzeiro conseguiu uma vitória para lavar a alma”, salientou o atacante Wallyson.

A iniciativa dos jogadores de futebol do Cruzeiro foi aprovada pelos atletas do vôlei. “Acho muito bacana, essa interação dos jogadores de futebol no vôlei, acho legal eles quererem saber mais sobre o esporte, se interessar pelo time, com certeza é um incentivo a mais para nós jogadores”, afirmou o levantador William.

Admiração mútua

Para Filipe, há um benefício extra na presença de jogadores e da comissão técnica do futebol: a motivação para um número maior de torcedores compareça ao ginásio. “Para nós, é muito gratificante tê-los como apreciadores do nosso esporte. Isso mostra que o Cruzeiro é uma família, seja ela nas quadras, em campo, ou em qualquer outro esporte”, disse.

  • Guyanne Araújo/UOL Esporte

    Apesar de toda a situação e do terceiro confronto, novamente no Ginásio do Riacho, em Contagem, ter sido denominado como o ?jogo contra a homofobia? Michael voltou a sofrer com o torcedor cruzeirense, que ao contrário da primeira partida, optou por utilizar da ironia para mexer com o meio de rede, chamando-o de Richarlyson, volante do Atlético-MG. Michael minimizou o reencontro e aprovou a atuação do torcedor celeste no jogo decisivo.

“Cuca e Fábio são ícones do futebol, esporte que é paixão nacional, e demonstraram interesse pelo voleibol. Tal interesse influencia o torcedor,
que com certeza se sente mais curioso pelo esporte, comparecendo em massa nos nossos jogos, e se envolvendo com o vôlei com a mesma paixão que sente pelo futebol”, acrescentou Filipe.

O líbero Serginho lembra que os atletas de vôlei também fazem o papel semelhante a dos atletas de futebol e vão aos estádios de futebol acompanhar os jogos. “Da mesma forma que vou ao campo para me divertir e curtir o espetáculo os jogadores de futebol vão ao ginásio”, destacou.

O jogador revela que tem contato com atletas do futebol do Cruzeiro e ressalta que existe uma admiração mútua. “Soube que alguns ensaiaram coreografias voleibolísticas caso fizessem um gol no último jogo, mas não deu”, comentou o líbero, referindo-se ao triunfo celeste sobre o Uberaba, no Triângulo Mineiro, por 1 a 0, no encerramento da fase de classificação do Campeonato Estadual.

Alguns jogadores prometem empenho para estarem presentes ao Mineirinho, no jogo único contra o Sesi, que decidirá o título. Eles não podem prometer, no entanto, porque jogarão no sábado, às 18h30, em Teófilo Otoni, contra o América-TO, na abertura da semifinal do Mineiro de futebol. “Espero que eu consiga ir. Vou torcer do mesmo jeito. Já combinei com o Pablo, se der, valos lá dar nossa força fora de quadra. Vamos dar uma força a eles, porque merecem”, salientou Wallyson.